António Fidalgo
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O
país de praia
É a praia, o ambiente de praia, que domina Portugal em Agosto.
Casamentos
de praia, que não são para valer, mas depois valem,
futebol de
praia, onde tudo é mais leve, namoros e conhecimentos que
não
duram mais do que uma semana ou quinze dias, figuras públicas que
são
fotografadas e filmadas em poses ligeiras, ministros que dão
entrevistas
também ligeiras. É o ambiente leve, insustentavelmente
leve de
praia, que, pelos meios de comunicação se espalha pelo
país
e a todos enche da modorra que marca os dias passados sob o sol ardente
e sobre
a areia escaldante, em frente à água e às ondas do
mar.
Este mês de Agosto veio quente e nada apetece fazer. Sem
dificuldade a
pasmaceira dos dias de praia invadiu o país.
E, no entanto, o sentimento de que as coisas se vão tornar mais
difíceis,
de que o tempo das vacas gordas acabou, aumenta a um ponto de causar
alguma
angústia. Por mais merecidos que sejam os dias de praia, por mais
intensos
que se vivam, têm uma insustentável leveza de ser que
não
permite confundi-los com a realidade quotidiana.
O país de praia em que se converteu Portugal tem como Agosto os
dias
contados. As pessoas regressarão ao seu local de trabalho, as
escolas
iniciarão o ano lectivo, e a vida real, do dia a dia, dura,
aí
estará para exigir o trabalho, as canseiras, o stresse do emprego
e do
desemprego, das bichas de trânsito nas idas e vindas do trabalho e
das
outras realidades que farão dos dias de praia memórias
remotas
das noites de Inverno.
Que Portugal viva a praia em Agosto tudo bem, o mal é que o
país
de praia em que Portugal se transformou persista em manter-se. Porque
existe
uma alternativa a que não podemos fugir. Se continuarmos a ser o
país
de praia em metáfora, arriscamo-nos a ser o país de praia
real
para os outros povos da Europa. As fábricas fecharão, as
escolas
e universidades passarão a ser tipo praia, leves, levezinhas, os
empregos
serão os de hotel, de restaurante e de divertimento; os
portugueses passarão
a ser os criados de praia do país real do euro.
A leveza do país de praia é o drama do país real de
baixa
produtividade e nenhuma competitividade.
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