O escritor partiu e a mente criativa não trará
até nós mais peças únicas
da literatura sul americana. Mas o génio ficou
em cada palavra e em cada página do espólio
que durante a vida criou e ofereceu aos nossos olhos
e à nossa imaginação. As histórias
das pequenas sociedades do Brasil interior, e das sociedades
podres do meio urbano. Os amores e as paixões
de mulheres quentes e misteriosas. O Brasil em todas
as suas formas pelo olhar perspicaz, real e romântico
cuja linguagem fala a língua de todo um povo
e grita por justiça social.
Jorge Amado, em largos painéis coloridos, retracta
a desgraça e a opressão mas também
as alegrias de um grupo de meninos de rua da Bahia dos
anos trinta. Através destes meninos marginalizados,
apresentados com humanidade e de forma crua, real, analisa
toda uma sociedade.
Capitães da areia não é um livro
próprio para se adaptar a novela, como aconteceu
com várias obras do autor. É um livro
pesado, doloroso que desperta diversas emoções
no leitor. Apesar de ter sido escrito nos anos trinta,
consegue ainda retractar, no essencial, a realidade
amarga vivida pelos meninos de rua da Bahia, que podiam
ser de qualquer parte do mundo.
Os meninos adultos têm como lar a praia e como
mãe a grande Baia, que por vezes é mais
madrasta.
Meninos homens e maduros, viciados e violentos, adultos
confusos nos seus corpos infantis que lutam pela sobrevivência
até à exaustão.
Um livro imprescindível.
Por
Ana Maria Fonseca
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