Num cenário próximo das margens
do Danúbio, Matko Destanov (Severdzan)
envolve-se em todas as negociatas que pode,
invejando a riqueza do amigo Dadan (Todorovic).
Com a ajuda de algumas mentiras, Matko consegue
um empréstimo do "padrinho"
local, Grga Pitic (Sulejman), um companheiro
de outros tempos, e de outros crimes, do
seu pai, Zarije (Memedov). Os "avôs"
já não se encontram muito
bem de saúde, mas mantém o
discernimento e o bom humor. Matko convence
Dadan a ajudá-lo num roubo, mas as
coisas vão correr mal, o que coloca
o primeiro numa situação de
dívida para com o segundo. Dadan
aproveita o crédito para negociar
o casamento da sua irmã, Afrodita
(Ibraimova), com o filho de Matko, Zare
(Ajdjni). Zare, claro, não está
nada interessado, não só porque
não gosta da noiva imposta, conhecida
por "anã" e "joaninha",
mas porque está apaixonado por Ida
(Katic), que trabalha num bar das redondezas.
Emir Kusturica volta a pegar em personagens
ciganos, neste filme vencedor do prémio
para a melhor realização no
Festival de Veneza.
Imagens verdadeiramente surreais, como músicos
pendurados em árvores, cadáveres
escondidos e conservados em blocos de gelo,
animais a digerir calmamente símbolos
da civilização humana ou troncos
de árvore a atravessar a estrada
comportamentos obsessivos, como a ingestão
de sumo de laranja, querer casar uma irmã
à força para satisfazer os
desejos de um progenitor falecido ou ver
continuamente o final de "Casablanca",
em casa, em viagem ou num hospital: são
alguns dos ingredientes com que Kusturica
cozinhou o seu "Gato", numa comédia
pura e directa.
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