GR22- Grande
Rota das aldeias históricas
Pelos trilhos da Beira Interior
Durante 10 dias,
as Aldeias Históricas da Beira Interior são
o destino de 140 amantes da natureza. A pé ou
de BTT, os aventureiros, vindos de vários pontos
do País, trilham mais de 500 quilómetros
de "altos e baixos", na Grande Rota, promovida
pelo INATEL.
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Por Rita Lopes
NC/Urbi et Orbi
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Com as pernas ainda frescas, os amantes das duas rodas
abriram a primeira etapa da GR22
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O dia nasceu cedo e fresco.
O cenário era comum: a trouxa às costas e
a vontade de concretizar uma aventura nas entranhas mais
naturais e escondidas do Interior português. Depois
da pernoita no aconchego possível de uma tenda no
Parque de Campismo do INATEL, em Linhares da Beira, os 104
amantes da natureza, vindos dos mais variados pontos do
País, rumaram ao Largo do Castelo onde, pelas 10
horas, esperavam o sinal da partida.
A pé ou de BTT, os participantes, equipados a rigor,
com bastões, chapéus e mochilas, escutavam
atentamente os últimos conselhos e avisos da organização.
Advertências que, embora estejam claramente evidenciadas
e identificadas na Carta do Lazer e no road boock elaborados
para o efeito, nunca são demais relembrar. Com uma
manhã de nevoeiro, que ajudava a refrescar as forças,
dava-se, então, perto das 10 horas e 30, início
à primeira Grande Rota das Aldeias Históricas,
promovida pelo INATEL.
Os adeptos das duas rodas deram o mote para a primeira etapa
da "viagem" de 10 dias, que teve "luz verde"
na sexta-feira, 27 de Julho. Uma dezena de dias a trilhar
pedras, calçadas, caminhos velhos, montes e vales.
Linhares da Beira/Marialva foi o percurso dos "fortes".
66 quilómetros de altos e baixos para os participantes
do Nível I. Linhares/Aldeia Nova foram os 28 quilómetros
percorridos pelos ciclistas do Nível II. Dois percursos
marcados por, segundo a organização, "um
piso muito variado, alternando com caminhos mais pesados,
devido à proximidade das linhas de água, e
um piso mais duro repleto de pedras e calçadas".
Para os apaixonados pelo pedestrianismo, a rota foi mais
curta. Seis quilómetros entre Linhares e Carrapichana
para a primeira e única paragem da manhã.
Sandes, frutas e água davam o alento para mais uns
passos, pelo menos até Mesquitela onde, depois de
10 quilómetros, alguns arrumavam as trouxas. Para
os restantes, Vila Soeiro do Chão foi o terminus
da jornada. Os que ainda tinham força nas pernas
foram visitar a aldeia de Marialva. Os outros ficaram pelo
Campo de Futebol de Meda, local escolhido para montar tenda
e descansar, pelo menos até à alvorada do
dia seguinte.
Direcção dá exemplo
"Existe muito espírito de solidariedade e
colaboração entre todos os intervenientes,
sobretudo municípios e é por isso que aqui
estou", afirma Rui Silva, presidente da Câmara
Municipal de Arganil, por entre a respiração
ofegante da caminhada. Este foi um dos elementos representantes
dos 17 concelhos que integram o projecto das Aldeias Históricas,
criado em 1995, no âmbito do II Quadro Comunitário
de Apoio.
Embora sem prática neste tipo de actividades, Silva
juntou-se ao grupo da "elite", para dar o exemplo,
que se ficou pelos seis quilómetros. Carrapichana
foi o local de paragem para o almoço que juntou
à mesa Eduardo Graça, presidente do INATEL,
Manuela Espírito Santo, vice-presidente, e outros
elementos da direcção, como de outras entidades
integrantes - Centro de Coordenação Regional
do Centro (CCRC), Área Integrada de Base Territorial
(AIBT) das Aldeias Históricas e Câmara Municipal
do Sabugal - que também não deram parte
fraca ao lado dos caminheiros.
No final da primeira manhã, Eduardo Graça
era um homem satisfeito. Há um ano a trabalhar
a ideia, "desde que apresentámos a Grande
Rota como publicação", agora vê
os frutos que se podem vir a desdobrar numa multiplicidade
de actividades. Tecnicamente designada por GR22, graças
ao número correspondente à homologação
exigida pelas federações nacionais e internacionais,
a iniciativa apresenta-se como inédita no País.
Os objectivos são claros: "contribuir para
o desenvolvimento da região e levar a que um número
maior de cidadãos possa participar". Para
aquele responsável, a palavra de ordem é
"democratizar". Mas não é só.
"É preciso diversificar os programas e desdobrá-los
noutros mais pequenos, com menos dias e com graus de dificuldades
diversificados para abranger mais pessoas".
"Logística difícil, mas
assegurada"
Em causa estão os cerca de 400 inscritos que,
em menos de dois meses, acorreram às delegações
do INATEL de Lisboa e de Linhares. Embora o máximo
de inscrições fossem 100 pessoas, a verdade
é que, dada a procura significativa, os limites
foram alargados. 104 a percorrer os 10 dias e 36 apenas
nos fins-de-semana "foi o máximo possível".
Maria do Carmo André, chefe de divisão das
actividades desportivas do INATEL, salienta que "ficaram
de fora pessoas que davam para fazer três iniciativas
do género". "Mas nem que quisessemos,
não havia capacidade para ter mais ninguém",
acrescenta.
A organizadora refere-se, sobretudo, aos aspectos logísticos
da região. A falta de infra-estruturas hoteleiras
e de restauração e os difíceis acessos
foram carências encontradas pela organização.
Por isso, sublinha: "O apoio das autarquias foi fundamental,
quer na procura destas estruturas, quer na marcação
do terreno que se iniciou há mais de um ano".
Contudo, mesmo com dificuldades, "tudo andou sobre
rodas". Uma equipa de 15 pessoas de intervenção
directa, guias ciclistas e caminheiros, carrinhas de apoio,
de água, de transporte, entre outros, contribuiram
para que a GR22 fosse louvada pelos participantes. João
Neves, do Porto, comenta: "Está a ser maravilhoso.
Não precisamos de andar com a tenda às costas,
porque dormimos em sítios certos. Está muito
bem organizada".
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Mais lentamente, os caminheiros
seguiram caminho para os 10 ou 14 quilómetros
do primeiro dia
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A calçada romana que liga Linhares da Beira
a Figeiró da Serra foi considerada um dos
percursos mais difíceis
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Organização
ambiciosa
"Queremos, para o ano, uma Grande Rota internacional"
Domingo,
5 de Agosto, é o dia derradeiro. Chegam ao
fim mais de 500 quilómetros percorridos entre
10 aldeias de pedra que surgem como a imagem de marca
da região Centro de Portugal.
Linhares da Beira, Marialva, Castelo Rodrigo, Almeida,
Castelo Mendo, Sortelha, Monsanto, Idanha-a-Velha,
Castelo Novo e Piódão marcam os destinos
da GR22 - Grande Rota das Aldeias Históricas.
Um percurso que atravessa, ainda, 17 concelhos, 52
povoações e três áreas
protegidas (Parque Natural da Serra da Estrela, Parque
Natural do Douro Internacional e Reserva Natural da
Serra da Malcata).
Uma dezena de dias que, segundo Manuela Espírito
Santo, vice-presidente do INATEL, representa um investimento
na ordem dos 15 mil contos, apoiados pelas autarquias
abrangidas, pelo programa da Acção Integrada
de Base Territorial (AIBT) das Aldeias Históricas
e pelo FEDER. Um montante que não causa admiração
à organização, dado que "é
uma iniciativa especial pelos encargos e abrangência
que envolve".
Apesar dos 35 mil escudos que cada participante pagou
de inscrição, que inclui seguro de acidentes
pessoais, enquadramento técnico e logístico,
transporte, alimentação, dormida e documentação,
Maria do Carmo André, chefe de divisão
das actividades desportivas do INATEL, refere que
"é preciso ter uma gestão muito
equilibrada". "Cada indivíduo custa
muito mais de 35 contos, mas o nosso objectivo não
é lucrativo. Queremos dar às pessoas
a possibilidade de conhecer o País e fazer
o que gostam", justifica a organizadora.
Esta é, então, a última grande
aposta do INATEL: "trazer para a região
do Interior um turismo de qualidade. O outro lado
do turismo de massa". O desejo concretiza-se
no tipo de actividades que aquela instituição
abarca. O Open de Parapente é uma das mais
antigas e emblemáticas de Linhares da Beira.
Este ano, a começar, propositadamente, no último
dia da Grande Rota, para "dar oportunidade dos
grupos se cruzarem", o Open conta 10 anos de
existência.
Brasileiros
e espanhóis na mira
Apostar em actividades não motorizadas é
a principal frente de combate da organização.
"Achamos que é importante preservar
o ambiente e as pessoas terem um conhecimento mais
próximo e real com a natureza", explica
Maria do Carmo. Uma exigência que a instituição
impôs a si mesma, desde 1992, ano em que realizaram,
pela primeira vez, o Open de Parapente.
Agora com um emblema de nível nacional e
internacional, este desporto serve de exemplo para
iniciativas futuras. A GR22 é um dos casos.
Eduardo Graça refere a importância
de "criar uma dinâmica que ganhe, pelo
menos, 10 anos de prática para se aguentar
pelas próprias pernas". Depois desse
tempo, continua, "ela terá força
para descolar do seu criador e caminhar sozinha".
Todavia, até isso acontecer, muita coisa
há a alterar e aperfeiçoar. A ideia
de desdobrar e democratizar a Grande Rota em programas
mais pequenos e para menos gente é a chave
do próximo ano, aliado a uma possível
internacionalização da mesma. Segundo
Manuela Espírito Santo, "já há
contactos com uma instituição brasileira
que está interessada em trilhar estes caminhos,
que vão ser sempre os mesmos para poder preservá-los".
Eduardo Graça subscreve a colega e adianta,
ainda, que "há percursos parecidos com
os dos Pirinéus para os nossos vizinhos espanhóis".
"O importante é trazer pessoas que ajudem
a pôr esta região no mapa", acrescenta.
Assim, depois de dois anos a investigar e a descobrir
os cantos e recantos do percurso, e posterior marcação,
é hora de pensar noutras actividades. E nisso
o INATEL não tem "dado tréguas".
A caminho está mais uma publicação
relativa ao levantamento dos recursos naturais dos
17 concelhos que integram a GR22. Da autoria de
António Pena, um dos membros da equipa organizadora,
o trabalho é, ainda, acompanhado por um levantamento
fotográfico exaustivo. Ainda sem data certa
para publicação, a perspectiva é
que seja lançado no dia de arranque da Grande
Rota do próximo ano.
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