José Geraldes
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Menos retórica para
o Interior
A disparidade territorial
é um tema recorrente no desenvolvimento integrado
do País. Mas importa falar desta disparidade ao
menos para lembrar que muitos dos discursos sobre o Interior
ainda não passam de mera retórica.
O primeiro relatório da OCDE (Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Económico)
organismo sediado em Paris, sobre o desenvolvimento equilibrado
do território, afirma que Portugal é um
dos países mais atrasados neste domínio.
O retrato que a OCDE faz do País, resume-se à
concentração cada vez maior no litoral do
emprego, da população e do rendimento. Para
nós, estes dados não são novos por
serem demasiado evidentes e aqui os temos abordado, de
tempos a tempos. O elemento científico que comprova
esta realidade, baseia-se na desproporção
da região da Grande Lisboa em relação
ao resto do País. Aliás, numa das últimas
semanas, Vital Moreira referia o facto, com a afirmação
de que se acentuara nos últimos cinco anos.
A OCDE concretiza as bases do relatório: menores
gastos a nível local no conjunto das despesas públicas
e menor peso dos impostos locais na receita fiscal nacional.
No entanto, nota o relatório, entre 1990-1997,
as diferenças de rendimento entre as 30 regiões
analisadas diminuíram.
Os resultados dos Censos 2001 mostram um crescimento do
eixo Guarda-Covilhã-Fundão-Castelo Branco.
As principais cidades aumentam na população.
E nota-se que as pessoas começam menos a emigrar
para o litoral e a fixarem-se nas cidades. Mas as aldeias
conhecem uma desertificação maior.
O facto não é alheio às novas acessibilidades,
à Universidade da Beira Interior e Escolas Superiores
das capitais do distrito. E claro à criação
da Faculdade das Ciências da Saúde, na Covilhã.
Mendes Baptista, da Comissão da Coordenação
da Região Centro escreveu, há dois anos,
um livro sobre as Políticas para o Desenvolvimento
do Interior. No capítulo das propostas, o autor
propunha a criação das Zonas Prioritárias
do Desenvolvimento em que figurava o eixo Guarda-Covilhã-Castelo
Branco. O Governo ainda falou destas zonas mas depois
deixou-as cair.
Aliás a Câmara da Covilhã tinha proposto
uma destas zonas nas Penhas da Saúde cujo documento-base
é bem estruturado e sustentado.
Outras sugestões são apresentadas neste
estudo por Mendes Baptista: acção-piloto
"aldeias digitais", projectos-piloto "contrato
de aldeia", criação de Centros Rurais
e promoção dos produtos regionais de qualidade.
Estas medidas seriam de desenvolvimento imediato.
No concelho da Covilhã, já se iniciou a
ligação das aldeias pela Internet e tem
havido promoção dos produtos regionais.
Mendes Baptista deixa quatro desafios: criação
de emprego e qualificação dos recursos humanos,
"pôr a render" as condições
materiais e os recursos do território, "pôr
serviço" sobre as infra-estruturas e equipamentos,
ganhar dimensão e competitividade urbana e promover
a criatividade do meio e o espírito empresarial.
A instalação do ParkUrbis pode transformar-se
um motor para aplicação destas políticas.
Ninguém tenha ilusões. Até 2006,
o tempo tem de ser aproveitado ao milímetro. Não
é líquido que possamos continuar a usufruir
dos fundos comunitários como o alargamento a Leste
da União Europeia.
O Instituto Austríaco de Investigação
Económica (WIFO) confirmava, há dias, que
Portugal será o país mais penalizado com
a entrada de novos parceiros. Dirigentes máximos
da UE admitem que o nosso País, para lá
de 2006, deve continuar a receber fundos comunitários.
E um estudo do Público, feito há um mês,
mostra que o Interior da região Centro pode ser
elegível para os fundos, após 2006. Mas
só o tempo pode confirmar os cálculos.
A redução do IRC de 15 por cento da taxa
do imposto das pessoas colectivas é pouco em relação
a que se deveria fazer para fixar empresas e pessoas na
Beira Interior.
O tempo dos discursos retóricos já deu o
que tinha a dar. É preciso ter planos estratégicos
e de aplicação imediata para que o Interior
se desenvolva de verdade.
P.S.- Boas férias. Até Setembro
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