LOGÓTIPO
Edmundo Cordeiro
Uma prosa de KONSTANDINOS KAVAFIS, com o título
MÁSCARAS, retirada do livro POEMAS E PROSAS traduzido
do grego para português por Joaquim Manuel Magalhães
e Nikos Pratsinis, editado pela Relógio d'Água
Editores em 1994.
"MÁSCARAS"
Não tentarei relatar a história
dos bailes de fantasia ou entrar numa descrição
dos vários estádios pelos quais o fantasiar-se
passou nos tempos medievais e modernos, ambos os assuntos
tendo sido ampla e capazmente tratados por proficientes
estudiosos de coisas antigas. Confinar-me-ei meramente
a transcrever de uma autoridade russa dois ou três
factos curiosos relacionados com máscaras e talvez
não conhecidos na generalidade.
A palavra máscara é de
derivação árabe, "mascara"
na linguagem do Corão significa uma piada e é
o original da palavra italiana "maschera" e
de "Maskara" a cidade árabe. Os árabes
antigos gostavam de fantasiar-se e mesmo até aos
nossos dias em certas partes do deserto do Sara os habitantes
nómadas são dados a fantasiar-se em dias
fixos do ano. Os jovens usam disfarces de soldados civis
europeus; os rapazes polvilham-se de farinha de trigo
e levam gatos aos ombros, enquanto os de mais idade põem
peles de elefantes e tigres. Um de entre a tribo encarrega-se
de representar o Diabo. É o dele o disfarce mais
bem sucedido: veste-se com trapos, assume uma máscara
terrífica e torna-se, por gesticulação
e fala ameaçadoras, tão horrível
quanto consegue inventar. A folia dura uma semana inteira.
Os africanos não desconheciam
as máscaras mesmo antes da invasão dos árabes.
Descobriam-se no Egipto múmias que usavam máscaras;
e Diodorus diz que os reis do Egipto tinham imagens em
máscara de leões e lobos. Os sacerdotes
egípcios cuja obrigação era criar
animais sagrados apresentavam-se ao povo usando máscaras
que representavam as feras de que cuidavam.
Os gregos adoptaram máscaras
para o palco e dividiram-nas em duas categorias, trágicas
e cómicas. As últimas eram muitas vezes
feitas de modo a ter uma semelhança surpreendente
com as pessoas que eram oferecidas ao ridículo
público. Assim nas NUVENS de Aristófanes
o actor que desempenhava o papel de Sócrates usava
uma máscara que representava fielmente as feições
do grande filósofo. Molière fez uso de um
artifício semelhante na sua comédia L'AMOUR
MÉDICIN na qual as máscaras dos actores
se assemelhavam aos principais médicos de Paris.
As máscaras foram introduzidas
em Roma por Roscius. Como era vesgo achou-as um bom meio
de cobrir este defeito natural."
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