Plano
para o Vale do Zêzere
"O
Vale do Zêzere tem um conjunto de possíveis
construções, com uma séries
de limitações". José Manuel
Biscaia, presidente da Câmara de Manteigas,
considera, por isso, que o Parque Natural da Serra
da Estrela (PNSE) "tem que dar outras coisas
em nome das autarquias e das populações".
Perante um cenário em que se vislumbra o
crescimento constante de "tortulhuzitos"
e de "cortes" que, "de um momento
para o outro, são alargados ou levam tectos
de zinco", o autarca é crítico
e claro: "Eu preciso de um Plano de Pormenor
para dizer o que é possível fazer
e onde. O Vale não pode continuar a ser isoladamente
tratado". Biscaia afirma, ainda, que "é
necessário dizer aos turistas e residentes
com o que podem contar no Zêzere. Quero que
seja na mesma bonito, mas bem tratado e qualificado".
Como exemplo de Planos que evitaram erros em certas
zonas da Serra, o edil refere o das Penhas da Saúde,
financiado pela Área Integrada de Base Territorial
da Serra da Estrela (AIBTSE). Mas, vai mais longe
e refere a possibilidade de um Plano para as Penhas
Douradas e para Piornos/Manteigas. "Nestas
áreas existem, também, atitudes construtivas
antigas que é preciso condicionar em termos
de infra-estruturas", salienta.
Sem preconceitos em ambicionar mais para a sua região,
o presidente está confiante na ajuda financeira
da AIBTSE. Para tal, conta com o apoio de Fernando
Matos. "Se o director do Parque considerar
fundamental, o projecto pode vir a ser financiado
em 75 por cento, porque precisa de uma figura próxima
e imediata". E, acrescenta: "Se houver
dificuldade nos outros 25 por cento, dividimos o
mal pelas aldeias. A Câmara de Manteigas está
empenhada em contribuir e podemos, mesmo, protocolar
a candidatura em paralelo, sem problema". "É
aqui que queremos que o Parque se preocupe connosco",
conclui.
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A comemorar
25 anos
Parque Natural da Estrela aguarda
revisão do Plano de Ordenamento
O Plano de Ordenamento
do Parque Natural da Serra da Estrela ainda não
tem fim à vista. Novembro é o mês
apontado para se conhecerem os primeiros acertos
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Por Rita Lopes
NC/Urbi et Orbi
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"Estamos, apenas,
no princípio de um percurso, do qual os 25 anos
são os primeiros passos". A afirmação
é de Fernando Matos, director do Parque Natural
da Serra da Estrela (PNSE), na cerimónia de comemoração
do 25º aniversário da área, no Centro
Cívico de Manteigas.
Na presença de Carlos Guerra, presidente do Instituto
para a Conservação da Natureza (ICN), dos
autarcas das câmaras integradas no PNSE, técnicos
e populares, uma das questões mais abordadas foi
o Plano de Ordenamento (PO) previsto para o Parque. Ainda
sem data prevista de conclusão, dado que, segundo
Matos, "está em revisão porque já
não se adequava às necessidades actuais",
o Plano está em fase prévia, nas mãos
das entidades que fazem parte da Comissão de Acompanhamento
para uma futura discussão. Em causa estão
as limitações das freguesias e a preservação
das populações e de determinados habitates
e ecossistemas, de forma a que não se tornem irrecuperáveis.
"O PNSE não é mais do que o garante
de que o homem tem que preservar a natureza e temos uma
percepção, nesse campo, muito maior do que
a que tinhamos há anos atrás", refere
o director, ao mesmo tempo que alerta: "A Estrela
pode ser a galinha dos ovos de ouro, mas é preciso
ter calma e não matar a galinha".
O facto explica a demora que o PO está a ter no
panorama nacional, ao lado do Parque Natural do Douro
Internacional. "Erros na nossa profissão são
irreversíveis, porque estradas e pontes todos sabemos
fazer, mas coelhos e ratos, ainda não chegámos
lá", sublinha Carlos Guerra. "O grande
desafio é aumentar o nível de participação
e as pessoas entenderem que este Parque é delas.
E, quando disserem "este Parque é nosso",
então a batalha está ganha", acrescenta,
em tom cauteloso.
"Plano de Pormenor
é imprescindível"
José Manuel Biscaia, presidente da Câmara
de Manteigas, uma das cidades mais abrangidas pela área,
vai mais longe nas suas aspirações. Em
declarações ao NC, o edil fala na possibilidade
de realizar um Plano de Pormenor em simultâneo
com o de Ordenamento. "O que se impõe no
Ordenamento, para que não haja injustiças,
é que além do plano de racionalização
e das mitigações do uso, que haja um de
Pormenor para saber quais as circunstâncias particulares
que devem ser consideradas. Esta é a parte das
pessoas. E, sem elas, nada existe", afirma Biscaia.
"Eu quero que seja feita um levantamento das situações
concretas para que as pessoas sejam acauteladas. Isto
chama-se legitimidade de análise privada e da
sua ocupação", continua o autarca.
Uma forma, diz, de "evitar que o personalismo se
transforme em desafectividade". E, sempre com a
vida humana na linha de combate, Biscaia não
desarma: "O PNSE tem que prospecionar mais valias
para as populações. O seu objectivo deve
ser o de proteger o homem no seu polo de vivência,
dentro desta natureza que é nossa e queremos
que continue".
A ideia de "dar o seu a seu dono" está
implícita em todo o processo do Plano, dado que,
como sublinha o presidente do ICN, "as pessoas
não aceitam a destruição do seu
património de ânimo leve". "O
País não pode andar à custa de
alguém que tem que se despojar da sua propriedade,
nem podemos ter exemplos de parques americanos, onde
não há vida nem história",
salienta. "Seria fácil que o espaço
do PNSE fosse do Estado e teríamos uma instituição
a geri-lo. Mas aí é que está a
diferença. Há uma realidade histórica
e ambiental mais estimulante para trabalhar". Uma
proposta reiterada ao "Cristo que leva a cruz ao
Calvário", Fernando Matos, que, apenas há
três anos na direcção do Parque,
"gostaria de o transformar numa zona autoctone,
onde os residentes possam retirar dividendos que muitas
vezes não têm".
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