João Casteleiro, presidente da Comissão
Instaladora do Centro Hospitalar da Cova da Beira (CHCB),
defende uma gestão pública para a instituição.
Apesar de não fechar a porta à entrada de
privados no organigrama do Centro, prefere que o mesmo
seja gerido pelos profissionais que melhor conhecem o
funcionamento da estrutura, ou seja, os médicos.
O presidente do Conselho de Administração
do Grupo HLC, Horácio Carvalho, deu conta recentemente
da intenção de entrar na gestão do
CHCB. O empresário declarou que "não
desiste desse objectivo", apoiado na convicção
de que pode "contribuir para haver maior eficiência,
qualidade de serviço e transparência".
E acrescenta: "Pensamos que a nossa experiência
no Hospital Amadora-Sintra é salutar e um bom exemplo
do que pode ser adoptado aqui. As entidades competentes
só podem beneficiar de uma gestão semelhante".
Para o responsável do Centro, que agrupa os hospitais
da Cova da Beira e do Fundão, estas declarações
não surpreendem e, refere, "o interesse do
grupo empresarial é um sinal de que Horácio
Carvalho anda a par da qualidade de equipamentos, do próprio
Hospital e dos profissionais da unidade.
A opinião de que a gestão privada pode trazer
mais vantagens para o doente não é um dado
assente para João Casteleiro: "Estou no serviço
público e continuo a defender que foi ele a escola
de todos os gestores hospitalares que existem". Contra
a visão simplista de que o médico é
para curar e o gestor para tratar dos números,
sublinha que para se dirigir uma unidade de saúde
é necessário conhecer bem como é
que as coisas funcionam. "Pelo percurso e pelo tempo
que passa dentro do Hospital, não há ninguém
que seja mais conhecedor dessa realidade do que o médico.
Gerir não é só fazer contas: é
saber o que se passa dentro de casa, saber conciliar os
profissionais que lá trabalham, rentabilizar as
coisas em função dos utentes e não
em função do lucro. É preciso um
conhecimento prático para se rentabilizar a gestão
e o médico é a pessoa privilegiada para
o ter".
O Hospital Amadora-Sintra, uma estrutura construída
pelo Ministério da Saúde, cuja organização
foi entregue a privados, é um exemplo de que Casteleiro
prefere ver para crer em relação a esse
modelo. "Não tenho dados concretos e parece-me
que há muita dificuldade em obtê-los. Aquilo
que eu sei, através de colegas que lá trabalharam,
é que não é nenhum oásis,
nem nenhuma maravilha. Mediante a publicação
desses resultados e onde sejam ouvidos os utentes dos
serviços, estou disposto a analisar a situação",
sublinha.
Modelo jurídico aposta na gestão flexível
Há meses que a Comissão Instaladora enviou
a proposta de regime jurídico para a instituição
ao Ministério da Saúde e até ao momento
ainda não houve qualquer resposta. Casteleiro confessa
ao NC que algumas das ideias que o documento propõe
já precisam de ser revistas. Contudo, não
se altera o cariz público da gestão no CHCB.
"A nossa intenção é evitar a
rigidez em termos de organização, no sentido
de a tornar muito mais leve e poder tratar com maior celeridade,
os concursos, a aquisição de material e
a funcionalidade dos profissionais da instituição",
explica. O responsável pelo Centro acrescenta que
a intenção é também de rentabilizar
os equipamentos para evitar que os doentes tenham de deslocar-se
a Coimbra, por exemplo, para fazer determinados exames.
"O que propomos", continua, "é atribuir
um vencimento em função da produtividade
que as pessoas têm, ou seja, compensar os profissionais
em termos do trabalho que produzem".
No entanto, a proposta entregue na tutela, não
coloca entraves à participação de
grupos privados. Casteleiro diz estar aberto a todas as
propostas, desde que isso se revele benéfico para
quem utiliza o Hospital: "Desde que se mostre rentável
e bom para os utentes, temos que estar abertos à
discussão dos problemas, embora consideremos que
entregar uma instituição pública
a uma entidade completamente privada é um risco
muito grande que se corre. Daí que me pareça
que o Estado não possa perder o controlo da infra-estrutura
que criou e onde investiu muito dinheiro".
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