José Geraldes
|
Ensino básico e elites
Júlio Pedrosa,
novo ministro da Educação, considerou, em
Santa Maria da Feira, o Ensino Básico como "a
pedra angular de todo o sistema educativo". E enfatizou
que este nível de ensino deve ser "exigente
e qualificado". A revisão curricular merece,
para o novo ministro, uma atenção especial.
Se Júlio Pedrosa pretende seguir esta linha de
actuação, é caso para todos nos regozijarmos.
E o ministro começa bem.
Vamos aguardar serenamente as medidas tomadas para o desenvolvimento
das reformas necessárias para o ensino básico.
A nível dos princípios enunciados, é
mais do que evidente a necessidade da atenção
especial para este ciclo de ensino. A reforma do Ensino
Básico aliada às mudanças operadas
no Secundário pode finalmente constituir uma estrutura
adequada para o Ensino Superior.
Muitos dos vícios que se encontram no Ensino Superior,
provêm das deficiências do Básico e
do Secundário. Se não se der uma volta a
sério e de qualidade, nestes ciclos, continuaremos
a ter licenciados sem uma formação de base
"exigente e qualificada" para usar as palavras
de Júlio Pedrosa.
Edgar Morin, no livro Os sete saberes necessários
para a educação do futuro, escrito com o
apoio da UNESCO, sublinha a necessidade de "desenvolver
a aptidão natural do espírito humano para
situar todas as informações num contexto
e num conjunto". É necessário - continua
o sociólogo francês - ensinar os métodos
para descobrir as relações mútuas
e as influências recíprocas entre as partes
e o todo num mundo pleno de complexidades". Ou seja,
as disciplinas curriculares não podem ser isoladas.
E muito menos um mundo à parte no conjunto da programação
escolar.
Sem querer dar lições ao ministro - longe
disso! - parece-nos que a atenção à
língua portuguesa se afigura fundamental. E que
os verdadeiros clássicos da nossa língua
tenham o destaque necessário. Não se pode
admitir que os licenciados escrevam mal o português
e ignorem minimamente os escritores e as obras que estruturam
a língua portuguesa.
E o português é a identidade de nosso País
como povo.
Outra área crítica a ter em conta é
a matemática. Também, neste capítulo,
no Ensino Básico, a exigência impõe-se,
sob pena de continuarmos na cauda da Europa nos resultados
obtidos.
Uma das orientações que devem marcar a reforma
do Ensino Básico, centra-se no mérito. É
tempo de abandonarmos os complexos de não premiar
quem merece. Não se trata de criar desigualdades
entre os alunos. Mas quem se dedica ao estudo e revela
dotes de inteligência superior, tem direito a uma
recompensa.
Aliás o ex-ministro Marçal Grilo focava,
em oportunidade, há tempos, este tema. E fazia
votos para que voltasse, o mais depressa possível,
às escolas.
O mérito leva à criação de
elites, elemento indispensável para o progresso
das sociedades modernas. António Fidalgo levantou
aqui o problema com a sugestão de um colégio
de elites na Beira Interior. Houve quem reagisse talvez
por desconhecimento do que se pretendia.
As elites não são a constituição
de uma casta de privilegiados ou sobredotados, intelectualmente.
Mas, é claro que, sem massa cinzenta de nível
superior, as sociedades páram no tempo.
Não há discriminação no acesso
ao ensino. Está, no entanto, provado, por exemplo,
que a supressão dos Escolas Técnicas Industriais
foi um erro.
Mas há sempre tempo para corrigir o que se fez
de mal.
Haja coragem e vontade política.
Júlio Pedrosa tem, pela frente, um grande desafio.
Se vencer a batalha do Ensino Básico, a educação
em Portugal, alcançará metas de nível
europeu.
|