"Câmaras há que preferem investir em clubes profissionais de futebol do que no equipamento das escolas", afirma Francisco Almeida
SPRC estuda condições das escolas do distrito
Educação precisa
de plano nacional de emergência

O Sindicato dos Professores da Região Centro divulgou o resultado de um estudo sobre as condições de funcionamento das Escolas do 1º Ciclo do Ensino Básico do distrito de Castelo Branco. A falta de cantinas, campos desportivos, bibliotecas e auxiliares educativos são os elementos mais gritantes. 48,2 por cento das escolas continuam sem telefone.

Por Raquel Fragata


Dulce Pinheiro, coordenadora distrital de Castelo Branco do executivo do Sindicato dos Professores da Região Centro (SPRC), Helena Arcanjo, coordenadora regional do 1º Ciclo no SPRC, e Francisco Almeida, coordenador nacional do 1º Ciclo da Federação Nacional de Professores, apresentaram na quarta feira, 27 de Junho, os resultados de um estudo que pretende dar a conhecer aos encarregados de educação e ao público em geral a falta de recursos com que laboram as escolas básicas do 1º ciclo da região. O estudo, que aponta para diversas carências tanto de material didáctico como de condições físicas para prestar todos os serviços sociais às crianças, foi realizado junto de 85 escolas do distrito, ou seja, 36,1 por cento das 235 existentes.
Os resultados, afirma o SPRC, confirmam "que as escolas nãos estão preparadas para a reforma da reorganização curricular".
Do levantamento feito conclui-se que 38 por cento das escolas não têm biblioteca e que 45 por cento das escolas onde ela existe funcionam em mau ou muito mau estado. O material experimental, importante suporte à aprendizagem, não existe em 86 por cento das escolas, sendo que, das 12 escolas onde existe, 6 afirmam que está em mau ou muito mau estado. O mesmo se passa com os mapas actualizados (61%), caixas métricas (52%), projectores de diapositivos (75%) e retroprojectores (93%), ausentes na maior parte das salas de aula.
76 das 85 escolas não possuem qualquer serviço de refeições, afectando dois mil 933 alunos necessitados deste serviço. 75 por cento destas escolas não têm campo de jogos, 93% não têm balneários, e 80% não têm instrumentos musicais.
Do universo avaliado, 41 escolas continuam sem telefone e sem auxiliares educativos. Duas escolas não possuem qualquer tipo de aquecimento, e em 36 ele funciona mal quer por se encontrar degradado, quer por que a instalação eléctrica não suporta o seu funcionamento ou quer por a escola não ter verbas para a compra do gás.

Autarquias não investem nas escolas

Para os sindicalistas esta situação de "penúria" é consequência da medida governamental de 1984 que transferiu as competências sobre estas escolas, anteriormente do Governo central, para as autarquias locais. Para o SPRC esta transferência não pode ser feita nos moldes actuais e defende a criação de órgãos próprios dentro das escolas capazes de gerir um orçamento próprio que deveria ser criado, à semelhança dos estabelecimentos dos outros níveis escolares.
Francisco Almeida acusa mesmo algumas Câmaras da região centro de discriminação e de tomarem decisões políticas em detrimento da questão educativa. "Câmaras há que preferem investir em clubes profissionais de futebol do que no equipamento das escolas", afirma o professor. As Câmaras por sua vez queixam-se de falta de verbas e contestam o não reforço dos seus orçamentos para cobrir estas despesas.
Os sindicalistas defendem que este problema se reflecte no próprio rendimento escolar dos alunos. Defendem ainda que as actuais escolas se encontram desajustadas à realidade do País e que "uma escola que conta unicamente com os manuais escolares e com a extrema dedicação dos professores não exerce qualquer poder de atracção sobre as crianças".
Para os professores os resultados obtidos nas provas aferidas de matemática e português confirmam esta constatação. O distrito de Castelo Branco foi aquele que obteve piores resultados na prova de matemática e apenas medianos nas provas de português.
"ME queixa-se dos maus resultados mas das 85 escolas [avaliadas neste estudo] 53 não têm biblioteca." O SPRC interpela a tutela sobre que outra forma "senão lendo" pode "aumentar a linguagem e a capacidade de inferir sobre um texto".
O SPRC já remeteu os resultados desta avaliação para o Ministério da Educação , Assembleia da República, Associação Nacional de Municípios Portugueses, associações de pais e autarquias.