O
PEYTON PLACE -
Amar não é pecado
Grace
Metalious
Editora Arcádia, 1973
Por
Luís Silva
De tempos
a tempos sabe bem vasculhar aqueles baús
de recordações que qualquer casa tem
sempre guardado num canto do sótão,
ou aquele armário cujas portas há
tanto tempo não abrimos, sabendo, contudo,
à partida que podemos encontrar algo surpreendente,
inesperado, cujas recordações neles
contidas fazem parte do imaginário, nosso,
ou de alguém próximo, mas há
tanto tempo esquecidas.
Assim aconteceu com "Peyton Place" - "Amar
não é pecado".
Do cheiro a mofo de um livro velho tira-se um enorme
prazer.
Peyton é uma pequena localidade no estado
de Nova Inglaterra, nos Estados Unidos da América.
Estamos na década de 30, não muito
longe dos tempos da guerra. Da pacata, bonita e
conservadora cidade, onde tudo parece ser perfeito,
escondem-se sentimentos, segredos, desejos e ambições.
Grace
Metalious, numa prosa simples e desconcertante,
retrata o seu próprio meio, desvendando os
segredos duma cidade, onde todos, apesar de fingirem
que nada sabem, sabem tudo acerca de todos. Grace
Metalious não se limita contudo a contar
os simples mexericos dos habitantes de Peyton, mas
examina mais profundamente, com um maravilhoso sentido
de observação a vida dos seus habitantes,
desconstruindo-as, e justificando, deste modo, os
seus actos.
A autora vai mais longe ainda, insinuando na sua
escrita cenas de um erotismo resguardado, sentimentos
de paixão e amor, considerados na altura
em que o livro foi pela primeira vez publicado (1956)
como uma provocação, mas que, de certa
forma, justifica a adopção do título
em português "Amar não é
pecado".
Grace Metalious não só desmonta a
vida de um pequena cidade de Nova Inglaterra, mas
de todo um país, que, naquela altura, era
apresentado como o "sonho americano".
É precisamente isto que Metalious contrapõe
no seu livro: os sonhos e ambições
de uma cidade confrontadas as suas próprias
misérias e medos. No meio disto, tantas vezes
o absurdo, mas também a bondade e a coragem.
"Peyton Place" - "Amar não
é pecado" é um livro simplesmente
maravilhoso de certeza que não hão-de
faltar edições mais recentes.
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