Arnaldo Saraiva prepara a edição de novas obras sobre Pessoa, Luís de Montalvor e Jorge de Sena
Arnaldo Saraiva no aniversário do Orfeão
"Pessoa é génio da humanidade"

A convite do Orfeão da Covilhã, Arnaldo Saraiva esteve na Covilhã, na quarta feira, 20, para falar de Fernando Pessoa e de uma face menos conhecida do autor, a sua relação com a música.

Por Raquel Fragata


A Arnaldo Saraiva, natural de Casegas, Covilhã, licenciado em Filologia Românica pela Universidade de Lisboa e catedrático da Faculdade de Letras do Porto, poderá em parte ser imputada a responsabilidade da projecção além fronteiras do nome e obra de uma das mais importantes figuras de toda a história de Portugal: Fernando Pessoa. Quando em 1975 fundou o Centro de Estudos Pessoanos (CEP), no Porto, dois objectivos presidiam a esse passo. O primeiro - a internacionalização do "génio da humanidade", como o Professor define o autor de Orfeu - foi atingido, tornando Pessoa um best-seller em muitos países e autor obrigatório do cânone da literatura ocidental. O segundo, e em auxílio da irmã de Pessoa, foi igualmente cumprido com a preservação do espólio na Biblioteca Nacional.
Em 89 deu por cumprida a função do CEP, mas não a investigação. Quando morreu aos 47 anos, Pessoa deixou para trás 30 mil papeis escritos. Muito material continua por explorar, interpretar, relacionar e publicar. Arnaldo Saraiva tem em preparação uma publicação onde reúne os vários estudos que fez sobre o autor da "Mensagem" (única obra publicada em vida) alguns já publicados em revista e congressos, outros ainda em desenvolvimento como o tema da música na obra de Pessoa.
Foi este o mote para a conferência que trouxe Arnaldo Saraiva à Covilhã, na quarta feira, 20, integrada nas comemorações dos 75 anos do Orfeão da Covilhã.

Música como metáfora

Vários factores ajudam Arnaldo Saraiva a relacionar Fernando Pessoa com a música. Seu pai, Joaquim de Seabra Pessoa, foi crítico de música clássica no jornal Diário de Notícias entre 1876 e 1892. A admiração de Pessoa pela obra de seu pai levou-o a recolher e guardar os 16 volumes dessas publicações. Conhecia bem a música e os compositores, mesmo os do seu tempo, e tinha diversos amigos críticos musicais, músicos e poetas (Raul Leal, Rui Coelho, Camilo Pessanha). Vivia junto da "catedral da música em Portugal": o Teatro Nacional de São Carlos, em Lisboa. E, por último, o vasto número de poemas que deixou onde o tema é a música, ou onde ela é linguagem e constrói o ritmo.
Foi também cantado por José Afonso, "Comboio Descendente", João Braga, "Mar Português", António Variações, "Canção", e Maria Bethânia.
"A Música em Pessoa é metáfora", afirma Arnaldo Saraiva, "sempre à beira de ser pleno, sempre à beira de ser vazio".
Pessoa não é apenas português, é um génio da humanidade e "só pode estar ao lado de James Joyce, Picasso, Le Corbusier", sustenta.