A Arnaldo Saraiva, natural de Casegas, Covilhã,
licenciado em Filologia Românica pela Universidade
de Lisboa e catedrático da Faculdade de Letras
do Porto, poderá em parte ser imputada a responsabilidade
da projecção além fronteiras do nome
e obra de uma das mais importantes figuras de toda a história
de Portugal: Fernando Pessoa. Quando em 1975 fundou o
Centro de Estudos Pessoanos (CEP), no Porto, dois objectivos
presidiam a esse passo. O primeiro - a internacionalização
do "génio da humanidade", como o Professor
define o autor de Orfeu - foi atingido, tornando Pessoa
um best-seller em muitos países e autor obrigatório
do cânone da literatura ocidental. O segundo, e
em auxílio da irmã de Pessoa, foi igualmente
cumprido com a preservação do espólio
na Biblioteca Nacional.
Em 89 deu por cumprida a função do CEP,
mas não a investigação. Quando morreu
aos 47 anos, Pessoa deixou para trás 30 mil papeis
escritos. Muito material continua por explorar, interpretar,
relacionar e publicar. Arnaldo Saraiva tem em preparação
uma publicação onde reúne os vários
estudos que fez sobre o autor da "Mensagem"
(única obra publicada em vida) alguns já
publicados em revista e congressos, outros ainda em desenvolvimento
como o tema da música na obra de Pessoa.
Foi este o mote para a conferência que trouxe Arnaldo
Saraiva à Covilhã, na quarta feira, 20,
integrada nas comemorações dos 75 anos do
Orfeão da Covilhã.
Música como metáfora
Vários factores ajudam Arnaldo Saraiva a relacionar
Fernando Pessoa com a música. Seu pai, Joaquim
de Seabra Pessoa, foi crítico de música
clássica no jornal Diário de Notícias
entre 1876 e 1892. A admiração de Pessoa
pela obra de seu pai levou-o a recolher e guardar os 16
volumes dessas publicações. Conhecia bem
a música e os compositores, mesmo os do seu tempo,
e tinha diversos amigos críticos musicais, músicos
e poetas (Raul Leal, Rui Coelho, Camilo Pessanha). Vivia
junto da "catedral da música em Portugal":
o Teatro Nacional de São Carlos, em Lisboa. E,
por último, o vasto número de poemas que
deixou onde o tema é a música, ou onde ela
é linguagem e constrói o ritmo.
Foi também cantado por José Afonso, "Comboio
Descendente", João Braga, "Mar Português",
António Variações, "Canção",
e Maria Bethânia.
"A Música em Pessoa é metáfora",
afirma Arnaldo Saraiva, "sempre à beira de
ser pleno, sempre à beira de ser vazio".
Pessoa não é apenas português, é
um génio da humanidade e "só pode estar
ao lado de James Joyce, Picasso, Le Corbusier", sustenta.
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