PARADIGMA


Edmundo Cordeiro

Um paradigma é um conjunto de regras explícitas e implícitas que nos permite estruturar a experiência de determinada maneira para podermos trabalhar sobre ela. Cada paradigma implica uma zona de visibilidade e uma zona cega. Um paradigma é um princípio de ordem, serve para arrumar, e é também "um modo de olhar" (Eduardo Prado Coelho, OS UNIVERSOS DA CRÍTICA), delimita uma fenomenologia, um sector da experiência. A luta entre paradigmas mostra que o paradigma dominante, o paradigma aceite, tem de cegar-se, recusar os outros paradigmas, para reconhecer as suas evidências - trata-se da relação entre evidência e alucinação (Fernando Gil).

Um paradigma é um factor de ordem e, simultaneamente, de crise. Dá-se uma crise e uma ruptura quando surge um problema insolúvel dentro do paradigma. Nesse caso, o normal (Kuhn chama "ciência normal" ao paradigma dominante) é aquilo que é reprimido pelo paradigma, aquilo que não é possível dentro dele…

Vinha isto a propósito do filme CODE INCONNU (CÓDIGO DESCONHECIDO), do autor austríaco Michael Haneke, onde Juliette Binoche, também ela, mostra os ossos do paradigma, que a crítica francesa diz ser os seus… Mas fica para a próxima.