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Preguiça
As férias estão
a começar. Dentro de escassas semanas, as escolas
dos diversos níveis de ensino fecham as portas,
mandando professores e alunos para as suas casas. É
certo que as férias estão cada vez mais
curtas. Há 15 anos chamavam-se com propriedade
Férias Grandes, e que grandes eram elas - podia
contar-se, pelo menos, com 3 meses de preguiça.
Agora são-no cada vez menos, em parte porque as
famílias já não podem acompanhar
os jovens, e temem muito justamente o tempo que estes
passam sozinhos. Daí até ao exagero oposto,
vai um passo. Como aquelas crianças infelizes,
que têm tantas actividades extra-curriculares que
as suas agendas são mais preenchidas que as de
ministros: 2ª artes marciais, 3ª piano, 4ª
ténis, 5ª equitação, 6ª
inglês, sábado informática e domingo
natação. Devem viver permanentemente atordoados.
E não lhes sobra tempo para pensar. Nem para se
sentirem vivos. Mas no Verão é diferente.
O calor convida à letargia, ao descanso puro ou
à leitura de um livro, por puro prazer. As férias
deveriam ser assim, tempo de descoberta, de aventura,
de curiosidade intelectual e satisfação
da mesma, por puro gozo, pelo jogo, sem constrangimentos.
Servirem para preguiçar, ao sol ou dentro de água,
ao relento ou debaixo de telha. E restaurar a alegria
do tempo perdido. Perder tempo, não pensar em nada,
e deixar crescer o espanto. É preciso tempo para
a completa paz de espírito, algo que podemos por
exemplo encontrar na imagem de abandono de um gato que
preguiça ao sol. Mas talvez ninguém o tenha
colocado tão bem como Konrad Lorenz, o etologista,
que descobri numas longínquas férias: "Quando
estou farto até aos olhos de trabalho intelectual,
quando as conversas elevadas e corteses quase me põem
doido, quando a simples visão de uma máquina
de escrever me enche de repulsa, sentimentos estes que
geralmente me dominam no final de um ano lectivo normal,
então decido 'ir ter com os cães'. Retiro-me
da sociedade humana e procuro a dos animais - e isso por
uma razão muito simples: não conheço
praticamente nenhum ser humano que seja suficientemente
preguiçoso para me fazer companhia quando estou
nesta disposição, uma vez que possuo o dom
inestimável de ser capaz, quando num estado de
grande contentamento, de desactivar por completo as minhas
faculdades mentais superiores, condição
essencial para a completa paz de espírito... Este
nirvana animal é uma panaceia inigualável
para a tensão mental, um verdadeiro bálsamo
para o espírito apressado e atormentado do homem
moderno, que os tempos actuais ulceram impiedosamente".
Mas afinal quando chega o calor?
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