AIR
10.000
Hz Legend
Source/Virgin France, 2001
por
sérgio felizardo
Em
1998, dois rapazes franceses mostraram ao mundo a arte
de fazer clássicas canções pop a
partir da electrónica e provaram que, afinal, não
era preciso nascer em Inglaterra ou nos Estados Unidos
para conquistar o planeta. "Moon Safari", obra
prima dos anos 90, mil e uma vezes descrito como "o
álbum perfeito", aclamado pelo público
mais atento (mas também pelo outro), pela crítica
e pela própria indústria, com inúmeros
outros músicosa considerarem-no uma referência,
tem agora o sucessor há muito esperado (depois
de "Prémiers Symptomes" - lados B e da
banda sonora de "The Virgin Suicides").
"10.000 Hz Legend" é o segundo de originais
dos Air e, como tal, até chegar ao circuito comercial
passou pela lâmina afiada do chamado "síndroma
do segundo disco". Só que Nicolas Godin e
Jean-Benoit Dunckel não podiam estar mais nas tintas
para o que, naturalmente, se esperaria deles, ou mesmo
para o que se quereria deles. A viragem também
não é de 360 graus, mas uma coisa é
certa, as pérolas pop de "Moon Safari"
não têm sequelas directas em "10.000
Hz Legend". Aqui, os autodenominados "electronic
performers" avançam por terrenos mais vertiginosos,
menos imediatistas, mas evidentemente mais densos. As
melodias doces e suaves estão lá, mas enlaçadas
em brilhantes e complexos arremedos de efeitos, vocoders
e paisagens sintetizadas. Os Air saem disparados da estratosfera
e instalam-se num palco lunar, onde co-habitam com resquícios
da era psicadélica dos Pink Floyd, brincam às
músicas americanas com Beck, ou, simplesmente,
recostam-se para trás numa cadeira de espreguiçar,
fecham os olhos e montam um cenário oriental onde
promovem sessões de Karaoke, acompanhados de guitarras
acústicas e teclados alucinados. Uma obra maior,
despretensiosa e despojada de qualquer intenção
senão a de fazer música fabulosa.
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