A Comissão Externa
de Acompanhamento da Faculdade de Medicina da UBI realizou,
na Reitoria da universidade, na sexta feira, 8, a primeira
reunião com vista à avaliação
do processo de implementação do novo curso.
Em discussão esteve o processo em desenvolvimento
que levará à abertura da Licenciatura de Medicina
em Outubro.
A reunião, segundo o Reitor, Manuel Santos Silva,
foi positiva verificando-se que "sob o ponto de vista
da UBI as condições para a abertura estão
reunidas". Esta opinião é também
partilhada por Júlio Fermoso, professor catedrático
de Neurologia na Faculdade de Medicina da Universidade de
Salamanca, com experiência na área de planeamento
da Educação em Ciências da Saúde.
Júlio Fermoso prevê um parecer positivo do
Grupo de Missão, liderado por Alberto Amaral, e afirma
que a "tranquilidade é total". "É
minha opinião, que aliás transmiti aos restantes
membros da Comissão, que aqui se encontram condições
muito favoráveis para fazer um bom ensino da Medicina.
Tanto o Hospital, como os Centros de Saúde, como
o método de ensino indicam esse cenário",
afirma.
O Grupo de Missão já terminou funções
e, perante os relatórios semestrais apresentados
pela UBI em Outubro e Março, é elaborado o
parecer sobre o arranque da Medicina na data prevista. O
documento, que deverá estar agora sob alçada
da Secretaria de Estado do Ensino Superior, ainda não
chegou aos responsáveis da UBI, mas Manuel Santos
Silva espera recebê-lo ainda durante o mês de
Junho.
Luís Taborda Barata, especialista em Imunologia Clínica
e presidente do Departamento de Ciências Médicas
da UBI, só acredita num "parecer positivo".
"Se não começarmos em Outubro a decisão
terá que ser única e exclusivamente política.
Porque não é por haver falta de qualidade
na docência ou falta de meios e infra-estruturas que
deixaremos de começar", adianta
O dia serviu também para a comitiva observar de perto
as instalações e todos os recursos já
disponíveis.
Centro de treinos e aptidões clínicas
sugerido
A Comissão - constituída por cinco docentes
das Faculdades de Medicina da Universidade de Coimbra,
Luís Providência, da Faculdade de Ciências
Médicas da Universidade Nova de Lisboa, Nuno Cordeiro
Ferreira, do Instituto de Ciências Médicas
Abel Salazar da Universidade do Porto, José Manuel
Calheiros, da Faculdade de Medicina da Universidade de
Salamanca (Espanha), Júlio Fermoso, da Faculdade
de Medicina da Universidade de Genebra (Suíça),
Nu Viet Vu, e um representante da Ordem dos Médicos
da Região Centro, Reis Marques - manifestou-se
satisfeita com o trabalho já desenvolvido.
"O propósito da visita foi não só
a avaliação dos primeiros anos, mas também
o que já está feito para os anos clínicos",
áreas que são basilares, na opinião
de Luís Taborda Barata para a constituição
de uma faculdade de Medicina.
A ocasião serviu ainda para que fossem feitas algumas
sugestões pelos elementos externos. A criação
de um Centro de Treinos e Aptidões Clínicas,
destinado a observar os comportamentos dos alunos, foi
uma das propostas que surgiu durante a visita. Este será
um espaço que vai reforçar o objectivo de
tornar mais próxima a relação do
estudante com o meio hospitalar. A observação
e o diagnóstico vão ser testados nos alunos
logo no primeiro ano da licenciatura. A ideia é
criar um espaço onde o aluno observa e entrevista
o paciente ao mesmo tempo que é observado pelos
docentes que avaliam a sua prestação.
Também em relação aos equipamentos
e meios laboratoriais as impressões da Comissão
foram positivas. O presidente do Departamento garante
que nos próximos 15 dias todo o material estará
adquirido, seguindo-se a fase de testes. São esses
os materiais destinados aos laboratórios de Fisiologia,
como os equipamentos de monotorização, de
Anatomia, modelos e outros, e microscópios.
Os laboratórios de Biologia Molecular e Bioquímica,
garante Taborda Barata, já estão a funcionar
em pleno, tendo já sido contratada a técnica
que dará o apoio e todos os investigadores.
Formação de docentes e colaboradores
vai continuar
Para o responsável do Departamento, é agora
uma das prioridades terminar a formação
que está a ser dada a todos os médicos e
docentes que colaboram com a faculdade. Esta formação
já vai no quarto curso, o primeiro começou
em Agosto de 2000, e Taborda Barata aponta para a necessidade
de realizar mais cursos de forma a preparar todos os intervenientes
como um "tecido único capaz de actuar da mesma
maneira de forma a que o sistema funcione".
A contratação de pessoal docente para os
dois primeiros anos e anos clínicos está
praticamente concluída. Luís Taborda adianta
mesmo que até ao início do ano serão
contratados, no total, 27 assistentes, para além
dos docentes
Ao final da manhã, e terminada a reunião
da Comissão, os elementos fizeram uma visita às
instalações provisórias na Antiga
Fábrica do Moço (Garagens Peugeut Talbot)
e da 6ª Fase onde foram apresentados alguns dos métodos
e modelos de avaliação a implementar. A
intranet, actualmente em fase de teste, vai permitir o
contacto entre os docentes e alunos, bem como a utilização
do correio electrónico pessoal de cada aluno e
as consultas e pesquisas na base de dados do Departamento.
Através deste sistema a avaliação,
em testes do tipo de escolha múltipla, será
feita de forma automática através de exames
em páginas da web, com correcção
automática e disponível também na
intranet. Através desta rede é garantido
o acesso à "Notice Board", onde
são centralizadas todas as informações
internas e externas de interesse para o Departamento,
com divulgação de notícias e acções.
A componente informática terá um forte impacto
logo desde o início. O estudo individual e colectivo
será apoiado por recursos multimédia e vídeo
conferência, para além de fóruns e
chats na internet.
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Ensino
moderno tem que começar por ser mais prático
Nu
Viet Vu, directora da Faculdade de Medicina da Universidade
de Genébra, na Suíça, e um dos
elementos da Comissão Externa de Acompanhamento
da Faculdade de Medicina da UBI, apresentou na sexta
feira, 8, um novo sistema de ensino da Medicina. "Reformas
dos currículos médicos e treinos: a
experiência da Universidade de Genebra"
foi o tema desenvolvido pela docente perante uma audiência
essencialmente constituída pelos futuros docentes
e colaboradores da Faculdade de Medicina da UBI. Nu
Viet Vu deixou também recados aos responsáveis
da UBI: "Como uma escola médica que vocês
vão formar agora, deixo-vos um conselho: prestem
atenção, para além dos currículos
e treino, à evolução dos alunos".
A integração vertical dos currículos,
o estudo da evolução e a definição
de estratégias de mudança são
na opinião de Nu Viet Vu as principais balizas
que a equipa da UBI deve atentar. Também a
introdução das disciplinas práticas
no início dos currículos é na
opinião da docente uma postura correcta na
programação do funcionamento da Faculdade
de Medicina na UBI.
A par das novas matérias, que começam
a ser introduzidas nas universidades e faculdades
de medicina, a docente defende que tem que haver um
profundo estudo e pesquisa sobre como ensinar esta
novas áreas.
Apesar das diferenças entre a realidade suíça
e portuguesa, Nu Viet Vu entende que o problema em
Portugal é o da captação de médicos
e alunos, dada a concorrência que existe entre
o Serviço Nacional de Saúde e os privados.
Para a docente a permeabilização do
ensino à realidade nacional deve acontecer.
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País
precisa de médicos
Depois
de levantada alguma contenda, nomeada-mente da própria
Ordem dos Médicos, em torno de um possível
cenário de excesso de médicos em Portugal,
a médio e longo prazo, Júlio Fermo-so
defende que a decisão tomada é correcta.
Perante a realidade nacional, a criação
de duas novas Faculdades de Medicina, na Covilhã
e na Universidade do Minho, é na opinião
do catedrá-tico de Salamanca a melhor forma
de contrariar o défice de médicos. No
entanto, sugere que a coo-peração entre
países poderá ajudar a resolver o problema
de forma imediata. "Devemos pensar que ainda
faltam seis anos de estudo a estes alu-nos mais três,
quatro ou cinco de especialidade e que, entretanto,
os pro-blemas devem ser resolvidos pela cooperação
com outros países". E con-tinua: "Creio
que vários governos a nível europeu
cometeram erros na pla-nificação das
necessidades dos recursos humanos, algo que em Espanha
é evidente, onde a dada altura tivemos 50 mil
médicos desempregados. Julgo que a importação
de recursos humanos será um dos caminhos para
países como Portugal e Inglaterra, onde essa
carência é evidente".
No mesmo dia em que a Comissão Externa de Acompanhamento
da Facul-dade de Medicina visitava a UBI, decorria
em Coimbra o congresso "Ensino da Medicina -
Realidade Ibérica". Durante a primeira
sessão, no dia 7, quin-ta feira, Almeida Santos,
presidente da Assembleia da República (AR),
lan-çou duríssimas críticas às
políticas seguidas pelos anteriores governos.
O responsável máximo da AR acusou os
governantes de incapacidade de pre-visão da
realidade nacional e da consequente responsabilidade
pela falta de médicos vivida actualmente no
nosso País. No final do congresso, Almei-da
Santos defendeu que uma das medidas a tomar para a
reforma é a con-certação entre
decisores dos Ministérios da Educação,
Saúde e da Ciência e Tecnologia e das
próprias universidades e pediu vontade política
na pros-secução destes fins.
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