António Fidalgo
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Um Curso de Filosofia
A UBI vai ter um curso
de licenciatura em filosofia. Há quem pergunte
com estranheza: de filosofia?! Para quê um curso
de filosofia nos dias de hoje? A melhor resposta é
a que é dada pela natureza e pela história
da universidade desde a sua criação na Idade
Média. Mas como nem todos conhecem essa história,
nem sabem o que é a verdadeira natureza de uma
universidade, aqui deixo dois argumentos muito simples
e de fácil compreensão a favor de uma licenciatura
de filosofia.
Primeiro argumento. Existe uma diferença entre
aquilo que é e aquilo que deve ser. Todas as ciências
da natureza são ciências sobre a realidade
tal como ela é. A física, a química,
a biologia, a botânica, estudam o que existe. E
mesmo as ciências sociais como a economia e a gestão
estudam a realidade económica e empresarial tal
como é. A realidade é como é e importa
conhecê-la como é e não como supostamente
deveria ser. Ora o que distingue o homem do resto da natureza
é que ele vive não só segundo as
leis da realidade tal como é - e nisso ele é
um objecto físico, químico, fisiológico
e zoológico -, mas segue também leis que
dizem o que deve ser. Uma pedra, uma planta, um animal,
existem apenas segundo as leis do que é, e os homens
vivem igualmente segundo essas leis; têm peso e
densidade como uma pedra, nascem, crescem e reproduzem-se
como uma planta ou um animal. Além disso, porém,
os homens têm algo que é o dever ser. E aqui
entramos no reino dos valores, da religião, da
ética e da estética. Fazemos algo porque
é bom, gostamos de algo porque é belo, e
difícil seria conceber a vida humana sem a dimensão
dos valores e do dever ser. Ora é esta dimensão
do dever ser humano que a filosofia estuda.
Segundo argumento. O que a matemática e a física
puras estudam pouca ou nenhuma utilidade prática
tem para a vida do dia a dia, ao contrário das
ciências aplicadas ou das engenharias. Achamos porém
que são necessárias, não só
porque o conhecimento em si é desejável,
mesmo que seja sobre o momento inicial do universo, como
também pelas consequências que mais tarde
as ciências aplicadas saberão retirar dos
conhecimentos adquiridos por essas ciências. Com
a filosofia passa-se o mesmo. O que a filosofia estuda,
Deus, o homem e o mundo, é primeiro por mor do
próprio conhecimento, conhecer por conhecer. Mas
é desse conhecimento que outras ciências
humanas, como o direito, a sociologia, a psicologia e
a economia, retiram ensinamentos e os aplicam ao estudo
e à melhoria do que é propriamente humano
e não natural.
Sem as ciências puras uma universidade não
passaria de uma escola profissional, por mais superior
e excelente que esta fosse.
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