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(In)Sucesso escolar (Ir)Responsabilidades
Introdução
Nas últimas duas décadas, com especial incidência
na última década, tem sido muito debatido
o insucesso escolar a nível universitário.
São lugares comuns afirmações, a
meu ver gratuitas, que se exemplificam: "os alunos
vêm mal preparados do secundário"; "os
conteúdos programáticos das disciplinas
dos primeiros anos das licenciaturas são desadequados";
"os professores não motivam os alunos";
"os professores não fomentam uma relação
de bem estar e de proximidade (intimidade) com os alunos
(o que quer que seja que proximidade ou intimidade signifiquem
neste contexto)"; " os professores não
estão abertos ao diálogo, i.e., não
permitem que os estudantes escolham a forma como querem
ser avaliados". ... Pasme-se, há professores
que impõem critérios para concessão
de frequência, "...não permitindo que
os alunos organizem os seus exames". São muitos
os exemplos de frases semi feitas que se poderiam citar,
mas, em nenhuma delas se aflora o principal problema do
insucesso escolar, que, a meu ver, assenta na grande irresponsabilidade
com que os estudantes encaram os cursos. Essa irresponsabilidade
é agravada pelos professores que se acomodam com
a situação e procuram formas de, individualmente,
se desresponsabilizarem.
Irresponsabilidade dos alunos
Tirar um curso, contrariamente ao que parece ser uma ideia
generalizada, não é o mesmo que ir assistir
a um qualquer espectáculo, cultural ou de entretenimento.
Um aluno tem direitos e MUITAS RESPONSABILIDADES. Se um
aluno encontra maior dificuldade numa qualquer disciplina
é seu DEVER dedicar-se com maior afinco a essa
disciplina, e não escolher a via mais fácil
que é a de criticar o professor, que é um
"tirano", é um "chato" e que
não ensina ou não sabe (e esta está
muito na moda) transmitir o conhecimento. Assim, em vez
de estudar e ir às aulas fica no bar ou em casa.
Se durante a primária pudéssemos ter dito
que a professora era uma "chata", não
motivava os alunos, não permitia que os alunos
escolhesssem a forma como seriam avaliados, e se nos fosse
dado a opção de ficarmos no recreio, ou
em casa na cama, poucos de nós teríamos
aprendido a ler. Felizmente, os nossos pais incutiram-nos
noções de responsabilidade, tão pequenos
que nós éramos e tantas responsabilidades
recaíam sobre os nossos ombros. Contudo, o peso
da responsabilidade não nos vergou e todos aprendemos
a ler. Mas mais do que ler aprendemos a ser ADULTOS, porque
cumpríamos com as nossas obrigações,
de chegar a horas às aulas, de fazer os deveres
e de não esquecer a bata em casa.
É com pesar, que somos obrigados a constatar, que
com o argumento de serem adultos, de já não
necessitarem de encarregados de educação,
um grande número de estudantes voltasse a assumir
a responsabilidade que possuía antes de ingressar
na primária, isto é, a responsabilidade
não é minha, eu não preciso de estudar
o professor é que não sabe explicar... e
não tem simpatia com as minhas dificuldades ...e
se quero ir à aula vou, se não quero não
vou ...a responsabilidade de eu no final do semestre aprovar
ou reprovar é do professor, porque está
a receber salário ...e eu pago propinas, ...etc.
etc. etc. tudo a bem da IRRESPONSABILIDADE.
Há, por certo, muitos professores menos bons ou
mesmo maus, mas enquanto a atitude de irresponsabilidade
dos alunos não for superada será impossível
aquilatar da responsabilidade dos professores no sucesso
ou insucesso escolar.
Irresponsabilidade dos professores
Perante a posição de irresponsabilidade
dos alunos os professores teriam a obrigação
de tentar combater esse flagelo, em vez disso, conformados
com a situação ou incapazes de suportar
a pressão, um número crescente de professores
pedem às instituições indicações
detalhadas de como proceder. Como hão-de balizar
os critérios de frequência, como hão-de
leccionar as aulas, com multimédia?... com acetatos?...
com quadro e giz? ...com vídeo?
Assim, se eles (professores) fizerem as "coisas"
dentro dos parâmetros balizados pela instituição
terão feito a sua parte e livres de quaisquer outras
responsabilidades.
Num estado mais saudável do ensino superior esta
atitude dos professores não seria negativa e sobre
muitos aspectos seria até recomendável.
Contudo, as instituições como um todo vivem
semi reféns do número de alunos (questões
de financiamento e outras), verificando-se cedências
constantes feitas aos estudantes, cedências essas
que no caso mais positivo apenas poderiam trazer vantagens
a muito curto prazo, sendo em geral nefastas para os próprios
estudantes, quando se pensa a médio e longo prazo.
Muitas vezes, na falta de argumentos, os estudantes ameaçam
abandonar a instituição. E, no estado actual,
estas ameaças são levadas a sério
pelas diversas instituições.
Presentemente as instituições, até
pelas suas estruturas orgânicas que impõem
paridade entre professores e alunos, não têm
capacidade de produzir documentos orientadores para os
professores que visem responsabilizar o estudante perante
o seu curso, incentivando ou exigindo dos estudantes trabalho
e esforço. Terão que ser os professores
individualmente a assumir a coragem e impor essa necessidade.
Conclusão
Vou acabar transcrevendo a divisa da Universidade da Beira
Interior "SCIENTIA ET LABORE ALTIORA PETIMVS"
e exortar os serviços académicos a explicar
o significado da mesma no acto da inscrição.
Espero que o facto desta divisa ter desaparecido da capa
do Guia das Actividades Académicas não queira
dizer que a Universidade da Beira Interior a tenha abandonado,
ou que alguém tenha decidido que o termo "Labore"
afastava os alunos da Universidade.
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