António Tomé

(In)Sucesso escolar (Ir)Responsabilidades


Introdução
Nas últimas duas décadas, com especial incidência na última década, tem sido muito debatido o insucesso escolar a nível universitário. São lugares comuns afirmações, a meu ver gratuitas, que se exemplificam: "os alunos vêm mal preparados do secundário"; "os conteúdos programáticos das disciplinas dos primeiros anos das licenciaturas são desadequados"; "os professores não motivam os alunos"; "os professores não fomentam uma relação de bem estar e de proximidade (intimidade) com os alunos (o que quer que seja que proximidade ou intimidade signifiquem neste contexto)"; " os professores não estão abertos ao diálogo, i.e., não permitem que os estudantes escolham a forma como querem ser avaliados". ... Pasme-se, há professores que impõem critérios para concessão de frequência, "...não permitindo que os alunos organizem os seus exames". São muitos os exemplos de frases semi feitas que se poderiam citar, mas, em nenhuma delas se aflora o principal problema do insucesso escolar, que, a meu ver, assenta na grande irresponsabilidade com que os estudantes encaram os cursos. Essa irresponsabilidade é agravada pelos professores que se acomodam com a situação e procuram formas de, individualmente, se desresponsabilizarem.

Irresponsabilidade dos alunos

Tirar um curso, contrariamente ao que parece ser uma ideia generalizada, não é o mesmo que ir assistir a um qualquer espectáculo, cultural ou de entretenimento. Um aluno tem direitos e MUITAS RESPONSABILIDADES. Se um aluno encontra maior dificuldade numa qualquer disciplina é seu DEVER dedicar-se com maior afinco a essa disciplina, e não escolher a via mais fácil que é a de criticar o professor, que é um "tirano", é um "chato" e que não ensina ou não sabe (e esta está muito na moda) transmitir o conhecimento. Assim, em vez de estudar e ir às aulas fica no bar ou em casa.
Se durante a primária pudéssemos ter dito que a professora era uma "chata", não motivava os alunos, não permitia que os alunos escolhesssem a forma como seriam avaliados, e se nos fosse dado a opção de ficarmos no recreio, ou em casa na cama, poucos de nós teríamos aprendido a ler. Felizmente, os nossos pais incutiram-nos noções de responsabilidade, tão pequenos que nós éramos e tantas responsabilidades recaíam sobre os nossos ombros. Contudo, o peso da responsabilidade não nos vergou e todos aprendemos a ler. Mas mais do que ler aprendemos a ser ADULTOS, porque cumpríamos com as nossas obrigações, de chegar a horas às aulas, de fazer os deveres e de não esquecer a bata em casa.
É com pesar, que somos obrigados a constatar, que com o argumento de serem adultos, de já não necessitarem de encarregados de educação, um grande número de estudantes voltasse a assumir a responsabilidade que possuía antes de ingressar na primária, isto é, a responsabilidade não é minha, eu não preciso de estudar o professor é que não sabe explicar... e não tem simpatia com as minhas dificuldades ...e se quero ir à aula vou, se não quero não vou ...a responsabilidade de eu no final do semestre aprovar ou reprovar é do professor, porque está a receber salário ...e eu pago propinas, ...etc. etc. etc. tudo a bem da IRRESPONSABILIDADE.
Há, por certo, muitos professores menos bons ou mesmo maus, mas enquanto a atitude de irresponsabilidade dos alunos não for superada será impossível aquilatar da responsabilidade dos professores no sucesso ou insucesso escolar.

Irresponsabilidade dos professores

Perante a posição de irresponsabilidade dos alunos os professores teriam a obrigação de tentar combater esse flagelo, em vez disso, conformados com a situação ou incapazes de suportar a pressão, um número crescente de professores pedem às instituições indicações detalhadas de como proceder. Como hão-de balizar os critérios de frequência, como hão-de leccionar as aulas, com multimédia?... com acetatos?... com quadro e giz? ...com vídeo?
Assim, se eles (professores) fizerem as "coisas" dentro dos parâmetros balizados pela instituição terão feito a sua parte e livres de quaisquer outras responsabilidades.
Num estado mais saudável do ensino superior esta atitude dos professores não seria negativa e sobre muitos aspectos seria até recomendável. Contudo, as instituições como um todo vivem semi reféns do número de alunos (questões de financiamento e outras), verificando-se cedências constantes feitas aos estudantes, cedências essas que no caso mais positivo apenas poderiam trazer vantagens a muito curto prazo, sendo em geral nefastas para os próprios estudantes, quando se pensa a médio e longo prazo. Muitas vezes, na falta de argumentos, os estudantes ameaçam abandonar a instituição. E, no estado actual, estas ameaças são levadas a sério pelas diversas instituições.
Presentemente as instituições, até pelas suas estruturas orgânicas que impõem paridade entre professores e alunos, não têm capacidade de produzir documentos orientadores para os professores que visem responsabilizar o estudante perante o seu curso, incentivando ou exigindo dos estudantes trabalho e esforço. Terão que ser os professores individualmente a assumir a coragem e impor essa necessidade.

Conclusão

Vou acabar transcrevendo a divisa da Universidade da Beira Interior "SCIENTIA ET LABORE ALTIORA PETIMVS" e exortar os serviços académicos a explicar o significado da mesma no acto da inscrição. Espero que o facto desta divisa ter desaparecido da capa do Guia das Actividades Académicas não queira dizer que a Universidade da Beira Interior a tenha abandonado, ou que alguém tenha decidido que o termo "Labore" afastava os alunos da Universidade.