Pela continuidade
José Miguel Oliveira
na frente dos novos desafios
Por Ana Maria Fonseca
José Miguel de Oliveira
tem 23 anos e será o próximo presidente
da Associação Académica da Universidade
da Beira Interior. Nasceu e cresceu na Covilhã.
Está há seis anos inscrito no curso de Química
Industrial. Fez parte da anterior direcção,
onde ocupou o cargo de director adjunto. O Urbi foi conhecer
as propostas e as opiniões de quem vai dirigir
os interesses dos estudantes da UBI durante o próximo
ano.
Urbi et Orbi - Como é que surgiu a ideia de
se candidatar à direcção da Associação
Académica?
José Miguel Oliveira - Eu costumo dizer que
o Jorge Jacinto, actual presidente, é que tem culpa.
Ele conseguiu incutir a todo o grupo de trabalho um gosto
pela Associação Académica e pelo
associativismo muito grande. A ideia da continuação
surgiu fundamentalmente das conversas que tínhamos
à noite: depois de saldado o passivo, o que é
que pode vir a seguir? E de facto, há muita coisa
ainda para fazer. Se calhar coube-me a mim a parte mais
interessante: a renovação do material informático,
a possível aquisição do edifício
e o começo das obras, o parque automóvel
e toda uma série de matérias. Nós
tínhamos ideias, só que na altura não
havia condições para as concretizar. Espero
vir a ter essas condições.
U@O - Mas porquê o cargo de presidente?
J.M.O - Bom, primeiro acho que "presidente"
é em termos institucionais. Quando estamos numa
direcção, e foi essa a experiência
que tive, não há cargos. Somos todos iguais,
trabalhamos todos para o mesmo.
U@O - Mas acaba por ser a face mais visível
da equipa.
J.M.O - Sou eu que dou a cara, talvez porque dentro
do grupo de trabalho que estou a liderar, seja a pessoa
com mais experiência, em termos de Associação
Académica. Talvez seja essa a principal razão.
U@O - Qual era o projecto que mais gostaria de concretizar
neste mandato?
J.M.O - Um só objectivo é difícil.
Eu gostava de, por exemplo, terminar o mandato com o edifício
construído ao lado da actual sede e entregar as
chaves à próxima direcção.
Isso era o ideal. Para além do crescimento da estrutura,
a abolição das taxas de repetição,
será muito importante para a Universidade, até
mesmo para os próprios estudantes da UBI. Em termos
pedagógicos, uma diminuição significativa
das taxas de insucesso escolar.
U@O - Considera o trabalho a realizar por esta futura
direcção como uma continuação
do que foi feito anteriormente?
J.M.O - Totalmente. Caso contrário não
me teria candidatado. Se não fosse uma continuação
de um trabalho que pode ser descrito fundamentalmente
como responsável, dinâmico, rigoroso, eu
não continuaria. Vamos ter as mesmas preocupações
financeiras, embora não tenhamos passivo neste
momento.
Ou seja, optaremos pela continuidade em termos reivindicativos,
a nível nacional e a nível interno, e na
discussão dos problemas pedagógicos dos
estudantes. Teremos também a continuação
daquilo que vão ser as várias actividades
culturais, com algumas inovações.
U@O - Em termos práticos têm-se verificado
várias falhas nos equipamentos para utilização
dos estudantes na sede da AAUBI, nomeadamente a sala de
informática, a fotocopiadora. Quando estará
tudo a funcionar em pleno?
J.M.O - A renovação desse material informático
vai ser feita fundamentalmente durante Junho, Julho e
Agosto. Nós queremos, em Setembro, ter a sede com
todas as condições necessárias.
U@O - Em relação a outras falhas, como
a falta de material, o que é que vai ser feito?
J.M.O - Este ano vai haver um colega da direcção
destacado para a papelaria da AAUBI, para dinamizar e
publicitar aquele espaço. É verdade que
às vezes falta lá material, mas isso tem
a ver com alturas em que se junta um grande volume de
actividade na Associação Académica,
mas são pequenas falhas.
Para já gostaria de fazer umas obras na sede. Alargar
a sala de informática e torná-la mais agradável,
o que dependerá do orçamento disponível.
Vamos tentar apoios governamentais, junto da Secretaria
de Estado da Juventude e, possivelmente, criar protocolos
com empresas.
Ampliação e contratação
de pessoal
U@O - Referiram na campanha eleitoral
a possível contratação de funcionários
para algumas áreas da Associação.
Quais seriam essas áreas?
J.M.O - Refiro-me a um técnico oficial de contas
para a tesouraria, uma secretária para responder
a faxes, catalogar correspondência... São
trabalhos ligeiros mas que ocupam muito tempo. E também
a contratação de um animador cultural. Pretende-se
contratar uma pessoa responsável, paga para o efeito,
para se ocupar da Recepção, da Semana Académica
e outras actividades. É óbvio que a definição
das linhas gerais ficaria a cargo dos elementos da associação,
eleitos pelos colegas.
U@O - Em que ponto estão as negociações
relativas ao edifício a adquirir, com vista à
ampliação da sede?
J.M.O - Neste momento o dono do edifício está
no estrangeiro. Já tivemos uma conversa onde começámos
por discutir preços, ainda no actual mandato, mas
só quando ele vier poderemos então fechar
o negócio. Há uma possibilidade de adquirir
o edifício, ainda durante o mandato do Jacinto.
Se isso acontecer, cabe-nos a nós fazer o projecto
e começar a construção.
U@O - Relativamente à secção de
alunos eleitos, não chocará um pouco com
os próprios núcleos? Como é que essa
secção funciona?
J.M.O - Os Núcleos são estruturas importantíssimas
dentro da Associação Académica. Eu
não acredito que choque, muitas vezes os alunos
eleitos nos órgãos da universidade são
elementos de Núcleos. Os colegas que nos representam
nas várias Secções Pedagógicas
estão a ter um papel importantíssimo na
resolução de problemas. Por exemplo, neste
momento está-se a avaliar o calendário escolar
na UBI, com dados concretos. Esses colegas estão
lá, a dar os seus contributos, a trabalhar em propostas.
Estas propostas serão discutidas em reuniões
específicas onde também damos apoio a esses
colegas. É importante que sintam que a AAUBI está
do lado deles e que estamos todos a trabalhar para o mesmo
objectivo que é melhorar as condições
dos estudantes da UBI.
Núcleo de Fotografia vai
ser reactivado
U@O - Na vossa proposta falam da
criação de um Núcleo de Fotografia.
Será uma realidade para este ano?
J.M.O - Dizem que "de boas intenções
está o inferno cheio"...(risos) Relativamente
ao laboratório de fotografia que temos aqui na
sede, foi feito um investimento em material que não
está a ser usado. A dinamização do
núcleo e da própria sala poderá passar
por uma acção de formação
de fotografia. Podemos tentar aproveitar os nossos novos
colegas e, através dos inquéritos culturais,
tomarmos conhecimento dos seus gostos. Se alguns mostrarem
interesse pela fotografia e quiserem pegar nisto, é
outra possibilidade. Queremos também fazer uma
divulgação para apurar quem poderá
estar interessado em pegar neste núcleo. Eu acho
que este projecto tem todas as possibilidades de vingar.
U@O - A concretizar, como funcionará o veículo
informativo que propõem para a Academia?
J.M.O - Estamos a prever para este ano, com início,
se possível para Setembro, a criação
de um jornal com notícias de e para a academia.
Muitos alunos do Pólo das Ciências Sociais
e Humanas não sabem o que é que se está
a fazer no Pólo das Engenharias e vice-versa, e
estamos a falar da mesma universidade. Daí sentir
que há necessidade disso, e claro, estamos abertos
a todos os contributos. Contamos com a colaboração
do Departamento de Ciências da Comunicação,
e de todos os outros Departamentos, bem como da própria
universidade, Núcleos, Alunos Eleitos, Associação
Académica e de todos os que de alguma forma estão
ligados à Academia. Pretendemos que o jornal seja
quinzenal, com um espaço dedicado à universidade,
e seria bastante interessante sair mesmo em papel de jornal.
Em termos de gráfica estamos já a apurar
os custos deste tipo de projecto. Outra ideia é
aliarmo-nos a um jornal regional que nos ponha dois ou
três mil exemplares na universidade e que saia como
suplemento, é uma possibilidade.
"Falta ligação
clara e efectiva ao mercado"
U@O - Qual é a sua
posição relativamente à abertura
de novos cursos na UBI?
J.M.O - Eu, para além de fazer parte da AAUBI,
também fui eleito no Senado, e tive a oportunidade
de participar na discussão da criação
dos novos cursos. A nível nacional, não
é só na UBI, as universidades públicas
estão com dificuldades financeiras e tentam colmatar
estas dificuldades de várias maneiras. Há
diversos exemplos, o caso das taxas de emolumentos, as
taxas de repetição da nossa universidade.
E temos também os casos da abertura de cursos que,
à partida, sabemos que são fábricas
de desemprego. Estes cursos passam a ser ministrados no
sentido de ter mais alunos para que as universidades possam
ter mais financiamento, uma vez que o Orçamento
de Estado depende do número de alunos de cada instituição.
É óbvio que eu não concordo com essa
política, acho mesmo que é prejudicial até
para o funcionamento do próprio País. Portugal,
face à Europa, tem a menor quantidade de licenciados
e é o País com mais licenciados no desemprego.
Há aqui uma relação que não
está a bater certo. E aquilo que falta actualmente
é uma ligação clara e efectiva entre
o que é a universidade e o mercado de trabalho.
É um problema transversal às universidades
portuguesas.
Na nossa sociedade existe a ideia enraizada que toda a
gente tem de ser doutor ou engenheiro. Por outro lado,
temos que entender, e eu entendo essa posição,
que a UBI é uma universidade jovem e, para se afirmar
a nível nacional, para crescer, tem de conseguir
trazer para ela alguns daqueles que são os saberes
clássicos universitários. E lá está,
se calhar não a curto prazo, mas deverá
tentar trazer um curso de Direito, para se afirmar como
uma universidade completa, porque a UBI é, de certa
forma, vista como uma escola de engenharias. E, não
é.
U@O - A interioridade continuará a ser um barreira?
J.M.O - Na minha opinião a interioridade é
uma barreira, quanto a isso não tenhamos dúvidas.
Nós temos o caso do comboio, agora inexistente
até Castelo Branco. Temos ainda auto-estradas por
fazer. A difícil acessibilidade é uma limitação
que pode pesar, mas eu acho que a UBI e a Covilhã
têm condições para se afirmar. Eu
sou covilhanense, posso parecer um bocado parcial, gosto
muito da minha terra. Mas acho que há condições,
ou seja, a interioridade pode ser ultrapassada pela qualidade
do ensino, pela qualidade de vida, e pelo espírito
académico que se vive aqui.
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