"Mundos Opostos" é a história
de três amigos que vão passear para a Serra
da Estrela. No regresso deparam-se com estranhas peripécias
e aventuras caricatas. Esta curta-metragem, de 15 minutos,
foi realizada por sete alunos seleccionados para frequentarem
o workshop - Iniciação à Realização
de Filmes, promovido pela delegação covilhanense
do INATEL - Instituto Nacional para Aproveitamento dos
tempos Livres dos Trabalhadores. José Nascimento,
realizador do filme que ganhou o prémio "Porto
2001" - Tarde Demais - foi o coordenador desta acção
de formação destinada a jovens estudantes
entre os 14 e os 18 anos e que decorreu entre os dias
18 e 25 de Maio.
Segundo José Nascimento a ideia de elaborar este
workshop nasceu o ano passado quando foi convidado para
Semana de Cinema Europeu. "Nessa altura os organizadores
da semana lançaram a ideia de se realizar uma espécie
de um seminário que interessasse os jovens que
estão no liceu pela actividade do cinema",
explica o realizador. O convite foi aceite e, um ano depois,
o resultado da acção de formação
é este filme onde os próprios alunos elaboraram
a história.
José Nascimento considera que a experiência
foi positiva e simpática, o que o leva a afirmar:
"Possivelmente talvez abra a hipótese de continuar
este workshop em Lisboa com o mesmo objectivo para que
os alunos interessados possam ter um conhecimento prévio
destas áreas antes de as escolherem". Segundo
o actor e realizador, o workshop foi importante para os
jovens estudantes porque "os abanou um bocadinho,
não na personalidade mas nas expectativas que eles
tinham em relação a este tipo de coisas".
Tatiana Coelho tem 16 anos e frequenta o 10º ano
do curso de comunicação na Escola Secundária
Frei Heitor Pinto. Considera que a experiência foi
enriquecedora pois "permitiu abrir novos caminhos
para além do jornalismo". Quanto a José
Nascimento, a estudante não poupa elogios: "É
um óptimo realizador. Entende-nos bem e compreende
quando fazemos mal as coisas. Se o filme correu bem foi
graças a ele".
Cinema português em crescimento
"É verdade que o cinema português tem
evoluído. Deixaram de se fazer filmes mais fechados
sobre si próprios e começaram a fazer-se
filmes cuja linguagem é mais aberta". É
esta a opinião de José Nascimento sobre
o actual estado do cinema em Portugal. No entanto não
deixa de referir que actualmente o cinema está
a passar por momentos menos positivos. "O cinema
reflecte a sociedade. Neste momento, em Portugal o futebol
é medíocre, os governantes são o
que são e a economia também está
mal. Não se pode esperar que o cinema seja grande
coisa quando as outras não o são",
refere.
José Nascimento considera que os novos filmes têm
uma relação mais estreita com o público
porque "os temas estão a mudar dentro do cinema.
Há uma série de gente nova no cinema que
olha para a sociedade e para os filmes com outros olhos
e isso dará os seus frutos". O aparecimento
de mais escolas na área da realização
tem dado um grande contributo para o salto qualitativo.
"Há alguns anos atrás a escola de teatro
do Conservatório era a única escola existente
para quem queria seguir a via de realização.
Nos últimos anos começaram a surgir outras
escolas alternativas, mais práticas e superficiais".
Para José Nascimento estas escolas permitem dar
às pessoas "algumas ferramentas para começarem
a trabalhar sem necessitarem de ir para o Conservatório".
Escolhido para representar Portugal na pré-selecção
dos nomeados para o Óscar de melhor filme estrangeiro,
Tarde Demais não foi além disso. Segundo
o realizador, não é fácil chegar
à nomeação com filmes produzidos
em tempos de rodagem restritos e com orçamentos
diminutos. "Eu tive sete semanas de rodagem, o que
não é normal. Costumam ser oito semanas
e eu precisava pelo menos de nove semanas, pois era um
filme que se passava todo dentro de água, o que
implica que se tenha de esperar pelas marés",
salienta.
Recorde-se que Tarde Demais é uma história
de pescadores baseada em factos reais. Trata-se de um
relato ficcionado dos acontecimentos posteriores ao naufrágio
de um barco de pesca em pleno rio Tejo.
Pouca produção, mérito elevado
Apesar da pouca produção de filmes em Portugal,
José Nascimento acredita que os filmes portugueses
têm possibilidade de alcançar a estatueta
dourada de Hollywood. "Temos é que ter orçamentos
que nos permitam trabalhar melhor, pois estamos aqui no
rabo da Europa onde a informação é
pouca", alude.
Ainda que a produção seja escassa, o cinema
português tem, na opinião do realizador,
a vantagem de ter bons realizadores que tudo têm
feito para que os filmes portugueses consigam marcar presença
nos principais festivais estrangeiros. "Não
é por acaso que tendo Portugal uma produção
anual média de dez filmes, quatro deles sejam distinguidos
em festivais", comenta, acrescentando: "Poucos
países da Europa se podem orgulhar disto. Em França
são produzidos, em média, 100 filmes e quando
se vai aos festivais estão lá dois ou três.
Isso é uma vantagem que a nossa cinematografa tem
em relação às outras".
Actualmente José Nascimento está a acabar
um telefilme para a RTP. Produzido por Paulo Branco e
com argumentos de João Mário Grilo e Paulo
Filipe. A história remonta a 1971 e fala, por coincidência,
de um rapaz da Covilhã que para fugir à
tropa vai para Lisboa tentar a sua sorte no futebol.
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