Estreia nacional
"Andorinhas Ingénuas" por Filipe Crawford no Teatro Cine

Por Patrícia Caetano


Mais de cem pessoas assistiram à estreia nacional de "Andorinhas Ingénuas", na passada quarta feira, 23 de Maio. O Teatro Cine da Covilhã foi o palco escolhido para os seus primeiros voos.

Entre o ser e o não ser, a vida e a ilusão, esta peça de teatro que chega a tocar as linhas do absurdo, deambula sobre a existencialidade do Homem. A vivacidade das duas personagens mais novas, contrasta com a rabugice das duas mais velhas. Beltrão, "um rapagão", não poupa esforços para seduzir a recém chegada Germana Delfina, "rapariguinha engraçada". Paralelamente, o tio de Beltrão, e a Dona Severina, passam a vida saudosos das vivências que o tempo ainda não conseguiu varrer da memória.
A acção, dividida em três actos, retrata o início dos anos 60, embora a intemporalidade da peça nos permita enquadrá-la à realidade do século XXI. O tempo, esse flui com uma fugacidade tenaz. A sua passagem que tudo traz, para logo a seguir levar, são uma constante do intenso vazio melancólico que as personagens sentem. No entanto, também as pequenas alegrias do dia a dia acabam por se manifestar, na constante incoerência dos diálogos.
Para Filipe Crawford, trabalhar com um texto de Roland Dubillard já não é novidade. Foi este encenador e actor, que trouxe ao público português a saga dos "Monstros Sagrados", uma obra que tal como "Andorinhas Ingénuas", se insere no teatro do absurdo.
Com passagem prevista pelas cidades de Pombal e da Guarda, "Andorinhas Ingénuas" estará em cena no Teatro da Casa da Comédia em Lisboa, a partir de 31 de Maio.

"A magia do teatro perdeu a sua essência"

O teatro é sem dúvida um momento único. Nunca se repete do mesmo modo. Segundo Filipe Crawford, actor e encenador, "no teatro as pessoas estão a ver-se reflectidas por outras pessoas que estão a fazer o papel delas na vida real; na televisão vêem apenas uma gravação, através de um ecrã".
Quando este actor iniciou a sua carreira, a profissão era considerada bastante marginal aos olhos da sociedade. Actualmente a arte de representar é algo conceituado mas que, talvez por isso, perdeu a sua essência. "Esqueceu-se o lado artesanal dos actores que nascem de facto no teatro, para se confundir a arte de representar com o que se vê na televisão", lamenta o actor e encenador.
Por outro lado, a falta de apoios governamentais faz com que o verdadeiro trabalho destes actores que todos os dias pisam os palcos seja um sacrifício duro, comenta Filipe Crawford.
Rui Paulo, actor e recentemente apresentador do programa "Mulher não entra", é um desses exemplos de quem ama os palcos do teatro, mas que não pode depender exclusivamente dele. "A televisão é um complemento, porque é impossível viver do teatro com as condições existentes", explica o actor.