MÃO MORTA
primavera de destroços
                                                nortesul | 2001


"Primavera de Destroços" marca o regresso ao panorama musical português provavelmente da única banda histórica nacional que tem, ainda, algo de novo a acrescentar à sua biografia e a dar a quem os segue desde os idos de 80.
Aliás, os Mão Morta não só apresentam um produto que cheira a novidade, frescura e excitação, como fazem em 2001 talvez o seu melhor disco de sempre. Numa carreira que conta já com nove álbuns, "Primavera de Destroços" surpreende pela sua coerência sonora, pela constante ligação ao passado sem perder pitada do que se passa hoje. Está lá o rock sujo à la Mão Morta, adornado aqui e ali por pedacinhos de electrónica adaptada ao compasso do baixo, ao vinagre das guitarras e à doçura por vezes mórbida do piano. Por cima das fascinantes texturas instrumentais continua a reinar a voz cavernosa e única de Adolfo Luxúria Canibal. Umas vezes em espécie de sussurro mal contido, outras vezes de uma forma mais solta e revigorada, Adolfo destila paixões, ódios, acontecimentos, ou simples estórias, como se vivesse num universo paralelo em que o belo são as trevas, mas em que a luz pode
sempre aparecer e brilhar (nem que seja só por um
bocadinho). Um disco que, em suma, é o melhor do pouco
que se faz com qualidade em Portugal. Mas, como canta o
próprio Adolfo: "Eu disse - "o que é que isso interessa?"
Tu disseste - "...nada"" (in "Tu disseste").

por sérgio felizardo