"Não se justifica
um TGV para Portugal porque é um brinquedo muito
caro". A frase é de Carlos Cabrita, presidente
do Departamento de Engenharia Electromecânica da Universidade
da Beira Interior, que alertou para a falta de estudos de
viabilidade económica do Train Grand Vitesse (TGV)
em Portugal. "TGV versus Alfa - Pendulares e (sub)
desenvolvimento regional" foi o tema discutido na conferência
que se realizou no auditório 8.12 no passado dia
16 de Maio.
O TGV é um comboio de alta velocidade que atinge
os 300 quilómetros horários, mais 50 do que
o Alfa - Pendular, considerado já um comboio de grande
velocidade. Para Carlos Cabrita, o Alfa - Pendular "é
uma opção correcta para o nosso País".
Reino Unido, Suíça, Itália, Suécia,
Austrália são alguns dos países que
estão já a optar pela grande velocidade em
detrimento da alta velocidade. "Há países
que começaram com a febre do TGV e chegaram à
conclusão de que os Alfa- Pendulares são mais
rentáveis", acrescentou o docente.
Cartão Amarelo ao TGV
Segundo Carlos Cabrita, o TGV "exige determinadas
características que são incompatíveis
com o nosso País". A construção
de uma nova linha TGV poderá demorar 14 anos, havendo
graves problemas a resolver com as expropriações
de terrenos.
O custo das infra-estruturas para o TGV é 10 a
20 vezes superior ao dos Alfa-Pendulares, pois estes últimos
utilizam as linhas ferroviárias já existentes.
"O grande problema para Portugal será o elevado
investimento face ao nosso Produto Nacional Bruto (PNB):
um milhão e duzentos mil contos por Km é
um valor demasiado alto. Quanto é que custará
uma linha de TGV?", questiona-se o orador. Os países
que podem investir num TGV devem possuir um PNB que o
consiga suportar e uma densidade populacional que o justifique.
O tipo de relevo do território nacional é
outro obstáculo apontado por Carlos Cabrita à
construção das linhas do TGV. O traçado
da via deverá ser o mais plano possível
e evitar pontes e túneis que implicam reduções
de velocidade. Só assim a rentabilização
da via não será posta em causa.
Outro dos problemas apontados é o elevado consumo
energético do TGV, o que tem como consequência
directa um acréscimo significativo do preço
dos bilhetes. "Em TGV ganham-se apenas dez minutos
e paga-se o dobro em relação aos alfa -
pendulares", explica o docente, que apela ao debate
público.
Alfa - Pendular: a solução rápida
e económica
Portugal tem uma alternativa ao TGV. Para Carlos Cabrita,
o Alfa-Pendular poderá ser a melhor solução
em termos de desenvolvimento regional em relação
aos restantes meios de transporte, uma vez que usa o mesmo
traçado da actual rede ferroviária. A ligação
a Espanha deverá ser feita através de Alfa-Pendulares,
uma vez que a distância não justifica o avultado
investimento que o TGV requer.
"Os Alfa - Pendulares têm de ser altamente
rentabilizados. Não nos podemos dar ao luxo de
ter comprado comboios de grande velocidade e tê-los
a circular a baixa velocidade", conclui.
Os autarcas portugueses acreditam que a paragem do TGV
nas suas cidades será sinónimo de desenvolvimento.
Carlos Cabrita ironiza e afirma que se tal se verificar
"Portugal tem de criar uma rede de TGV lento".
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