Entre
las piernas de Manuel Gómez Pereira
Adicción
Um quente e feroz abraço
entre Javier Bardem e Victoria Abril foi a imagem escolhida
para anunciar o mais recente filme de Manuel Gómez
Pereira: "Entre las Piernas". Quente e feroz
como a relação que se adivinha entre os
dois protagonistas deste filme onde o já aguardado
erotismo dá o mote a um inesperado e bem construído
thriller, a fazer lembrar a mestria de Hitchcock e o género
noir dos anos 40 e 50. Resulta daqui um filme intenso
e cativante onde um vício compulsivo - o sexo -
conduz ao encontro de Javier (Bardem) e Miranda (V. Abril),
ponto de partida desta história que o realizador
faz seguir equilibradamente nas mais diversas direcções.
Javier é um bem sucedido guionista, casado mas
incapaz de resistir ao sexo casual, que exorciza pecados
presentes e fantasmas passados como orientador de um grupo
de terapia para viciados em sexo. Miranda é telefonista
num programa de rádio nocturno e usa o passeio
matinal do seu cão como pretexto para ter encontros
sexuais com desconhecidos que encontra casualmente no
parque. Atraídos desde o primeiro momento, tentam
ignorar o desejo que os impele um para o outro, mas a
entrega é inevitável. A narrativa intensifica-se
a partir do momento em que o cadáver de um homem
nu é encontrado no porta-bagagens do carro que,
no dia anterior, fora cenário do encontro sexual
dos protagonistas. Sucede-se uma investigação
policial conduzida pelo marido de Miranda, que pouco a
pouco o vai aproximando do rival e da verdade.
Uma história inquietante e absorvente, que exige
do espectador uma entrega e concentração
invulgares no cinema mastigado e digerido dos tops actuais.
Invertendo esta tendência facilitista, "Entre
as Pernas" não condescende com o público
menos perspicaz, construindo progressivamente um quebra-cabeças
composto das mais diversas imagens e pistas, muitas delas
falsas, mas que é necessário seguir atentamente
para compreender o desfecho.
E eis como com uma dúzia de bons personagens, três
histórias de amor, uma amizade trágica,
chantagem e um suicídio se constrói uma
trama densa e complexa capaz de, mais uma vez, dar provas
da vitalidade do cinema espanhol actual.
por catarina
moura
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