A plateia silenciou pouco
depois das 22 horas e, na escuridão, aguardou expectante
a entrada de Wim Mertens. Subitamente, um barulho forte
no palco indicou não só a entrada como a queda
do intérprete, que tropeçou na cortina que
divide o palco dos bastidores e, de acordo com a organização,
se magoou no joelho. Minutos depois, acalmado o burburinho
entretanto provocado pela suave agitação do
público em função da inusitada situação,
Wim Mertens entra e enfrenta a plateia com um sorriso tímido,
dirigindo-se ao piano. Um piano que protagonizou as duas
horas seguintes, a par de uma voz fina, angelical e penetrante.
Juntos, piano e voz conquistaram progressivamente os presentes,
transformando as tímidas ovações iniciais
em dois encores exigidos de pé, a que o pianista
correspondeu com uma entrega a que ninguém ficou
alheio.
Perna cruzada, balouçando no banco como uma criança
entretida com o seu brinquedo, Wim Mertens partiu do seu
último álbum - "Der Heisse Brei"
- para uma viagem pelo seu extenso repertório de
obras para piano e voz, construindo um recital envolvente
e fazendo esquecer o frio e a chuva que caía copiosa
no exterior.
Pouco familiarizada com a obra do pianista, a audiência,
onde se misturavam as mais diversas gerações,
deixou-se envolver pelo arrepiante lirismo dos falsetes
do pianista, rendendo-se por completo quando Mertens interpreta
um dos temas de "Maximizing the Audience", o mais
conhecido dos seus álbuns entre o público
português.
Este concerto é o segundo que Wim Mertens dá
em Portugal no espaço de seis meses, tendo o primeiro
decorrido a 9 de Dezembro no Centro Cultural de Belém,
encerrando a quarta edição do Festival Outono
de Lisboa. Esta segunda vinda a Portugal em tão curto
espaço de tempo coloca a Covilhã numa posição
privilegiada no panorama cultural nacional. Uma aposta certeira
do Cine Clube da Beira Interior (CCBI), responsável
pela organização da agenda do Teatro-Cine
desde Abril último. |
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