» Francisco Paiva
Docente da Licenciatura em Design Multimédia da UBI   

 

 

 

 


DESEJO DESÍGNIO E DESIGN


Durante os passados dias de 10 a 12 do corrente, houvemos oportunidade de submergir nas experiências de inúmeros investigadores, académicos e profissionais no âmbito de diversas especialidades do Design: história, management, fashion, têxtil, industrial, produto, interior, informação, comunicação, cenografia, urbano, animação, ilustração, multimédia, fotografia, vídeo, expositivo e museográfico. Focando-se aspectos da teoria, do método, da investigação e do ensino. Esta singular experiência de voar instantaneamente da China à Austrália, dos Estados Unidos ao Japão, deu-se graças à European Academy Of Design, comité que organizou a sua quarta conferência em Aveiro, este ano subordinada ao tema Desire Designum Design.
Embora as Actas do evento estejam publicadas (ISBN 972-789-024-5), e reconhecendo a óbvia impossibilidade, e despropósito, de compreender aqui a descrição da totalidade do evento, sem diminuir a qualidade da generalidade das prelecções, não me eximo de aludir a algumas ideias remanescentes.

1 . Ao entrar na linguagem corrente, o vocábulo design, como aliás acontece com a generalidade dos termos, foi alvo de redução da sua amplitude semântica, sendo comum vê-lo aplicado como adjectivo, carácter aderente às coisas, ou confrangedoramente tomado como produto, ao invés de processo. Prova disto são as constantes alusões na imprensa a peças de ou com design, considerando-o propriedade vã, supérflua do artefacto.

2 . O Design é um assunto do quotidiano, mainstream, em virtude das suas criações, tendencialmente sofisticadas e avant-garde, provarem consciência empresarial actualizada, estratégica em qualquer sector de actividade. Mas cuja eficácia do desempenho raras vezes é associada à qualidade da investigação, ao cuidado no desenvolvimento dos produtos, no seu projecto e promoção, que as instituições investem (ou não) e na clareza com que a sua identidade, vulgo imagem, é pensada.

3 . Nos países com os quais procuramos e, ao que parece, precisamos competir, a investigação tende a disseminar-se no real, premeia-se a excelência das instituições e o Design (lato sensu) está presente no discurso político oficial, quer desde instrumento para a requalificação dos produtos e patentes, brand name, know how, mais-valia, bla bla bla, à responsabilidade no desenvolvimento de imagens corporativas, quer na promoção visualmente qualificada (que requer trabalho) junto do potencial mercado - estratégias integradas, portanto. E, portanto também, diferentes da edição avulso de sites, cd-roms, catálogos, cartões e outros suportes, em que as nossas instituições são pródigas, cujo elo racional é normalmente obscuro, de difícil discernimento.

4 . Há aspectos éticos que se encontram hoje dependentes da comunicação visual, para além de outros endógenos. Relevo este assunto porquanto ele assume ser um aspecto central na produção artística contemporânea, talvez pela inquietação que o problema da finalidade traz. Por exemplo, considerando a aptidão que os novos meios poderão ter para a compreensão dos mecanismos de violência não verbal, e mesmo para esta, na medida em que quer os convencionais quer os new media, oferecem um potencial único para a prevenção e/ou divulgação de valores. (Neste particular sugiro a consulta do site www.designagainstcrime.org.)

5 . A informática traz problemas de literacia, na medida em que existem diversos curriculae que a consideram um domínio basilar adquirido (pré-requisito) e meio primacial no acesso às fontes, colocando o magister no lugar de party host. Com tamanha diversidade de solicitações, desde o domínio do pornográfico (90% dos sites) ao do e-learning, o ciberespaço tende a incorporar o entretenimento, o ócio e o trabalho, aproximando os domínios do labor e do desejo, vulgarmente nos antípodas.

6 . As experiências curriculares neste domínio começam a integrar descomplexadamente flexibilizações curriculares, sistemas modulares de leccionação, e unidades de investigação e prestação de serviços multidisciplinares. Os ambientes de trabalho, devido ao e-business, e-teaching, tendem a diversificar-se, diminuindo a necessidade presencial, base do sistema escolar português, permitindo aos docentes, lentes e investigadores a mobilidade indispensável a qualquer tarefa intelectual que requeira consulta de fontes multisituadas.

7 . O Design trouxe com acuidade a problemática da construção metafórica da identidade. Do modo como esta se projecta e incrementa nas e pelas coisas.
Numa última análise, veio (re)colocar o problema da fiabilidade da imagem, a dúvida do seu possível desempenho enquanto documento de prova dos acontecimentos. Pois, a natureza das técnicas de manipulação digital (falsificação) eliminando os vestígios do original, levam a Photomontage à disputa da realidade.

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