Chocolate de bolso
"Europa-América"
Lass
Hallström
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por catarina moura
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Receita confusa, a deste Chocolate
"Europa-América". Cedemos facilmente à
tentação, provamos, lambuzamo-nos todos mas, no
final, ficamos sem saber a que nos soube. Embalados pela doçura
sugerida pelo tom encantatório desta fábula pueril,
a fazer lembrar contos de fadas; inebriados pelo poder afrodisíaco
do chocolate; entusiasmados pelo magnífico elenco reunido
por Lass Hallström para dar corpo à sua adaptação
do denso romance de Joanne Harris; somos subitamente surpreendidos
pela falta de consistência do repasto. Erro de dosagem,
parece-me. Temos, afinal, uma comédia ou um drama nesta
estória da mulher independente e mãe solteira que
chega para abalar a duvidosa e conservadora moral da pequena
cidade francesa com o seu irresistível cacau? O exotismo
e a sensualidade da "chocoterapeuta" Vianne (Juliette
Binoche), a grandiosidade da avó rebelde Armande (Judi
Dench), o drama de Josephine (Lena Olin), a mulher maltratada
que se liberta... são os pilares de sustentação
deste frágil edifício que vai derretendo perante
a excessiva estereotipação das personagens num
cenário onde intolerância, preconceito, falsa moralidade,
feminismo, ateísmo e tudo mais que lhes ocorra se diluem
à superfície. Superfície em que o maior
prisioneiro é Johnny Depp, que não convence ninguém
na pele de um insípido cigano hippie com pronúncia
irlandesa e ar de fastio, que surge um dia para fazer par romântico
com Juliette Binoche sem que entre eles consigamos surpreender
qualquer vestígio de química ou romantismo.
Sem ser desastroso, o resultado desta mistura casual de ingredientes
é um Chocolate que, nem doce nem amargo, é um hino
à indefinição. Deve ser crise de identidade.
Apesar das cinco nomeações para os Óscares
(sem comentários...), fica na prateleira como "chocolate
Europa-América", edição de bolso.
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