José Geraldes
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A CREDIBILIDADE DA IGREJA
E VALORES SOCIAIS
A Igreja Católica é
a instituição em que os portugueses mais confiam.
Esta conclusão consta da investigação da
Fundação Europeia para o estudo dos Valores, realizada
em 1999. Numa escala de 0 a 100, a Igreja recebe um índice
de confiança de 70 pontos percentuais. Seguem-se as Forças
Armadas, 61 pontos e a ONU, 59 pontos. À Comunicação
Social e aos corpos policiais, os portugueses atribuem 57 pontos.
O sistema de saúde, a administração pública
e a segurança social estão abaixo dos 50 por cento.
Os tribunais surgem em último lugar com apenas 41 pontos
percentuais.
Estes dados só vêm confirmar que a saúde,
os serviços públicos, as prestações
sociais e a justiça não funcionaram para os portugueses.
Aliás é notório que a maioria das queixas
na opinião pública e publicada incide sobre estas
áreas. Há, ainda, pois, muito caminho a percorrer
na reforma destes sectores da vida quotidiana. Mas qual é
o governo que tem coragem de avançar, sem medo, e sem
estar à espera de votos, nesta reforma?
O inquérito desenvolvido pela equipa de investigadores
do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa,
coordenada por Manuel Villaverde Cabral e Jorge Vala, divulgado
na semana passada, revela outras tendências da sociedade
portuguesa que merecem uma referência especial.
Assim, no conjunto dos países da União Europeia,
os portugueses figuram no topo da importância dada às
famílias. Não deixa de ser curioso a afirmação
dos valores a transmitir na educação. Por ordem
decrescente, surgem as "boas maneiras" em primeiro
lugar (77 por cento), "ser trabalhador" (69 por cento),
tolerância e respeito (65 por cento), "sentido de
responsabilidade" (60 por cento), "não ser egoísta"
(40 por cento), "independência" (22 por cento).
É de sublinhar a consideração em alta do
civismo, do trabalho, dos outros e da responsabilidade. As famílias
estão no bom caminho. Daí constituir um dever,
o incentivo na prática destes valores. A condenação
da corrupção perfila-se como outro dado em alta
(90 por cento) e não só pelos portugueses mas também
pelos outros países da União Europeia. Isto mostra
o grau de honestidade que os europeus desejam praticar, embora
saibam que a corrupção se apresenta como uma tentação
permanente, uma realidade a vários níveis.
Os que julgavam acabar com a religião no mais curto prazo
sofrem uma grande decepção com este inquérito.
63 por cento de portugueses atribuem muita importância
à presença de Deus nas suas vidas, contra 37 por
cento da União Europeia. Quanto à pertença
à Igreja Católica, regista-se, porém, uma
quebra acentuada: há dez anos, 98,6 por cento de portugueses
confessavam pertença à Igreja Católica.
Actualmente, esta percentagem desce para 85,3 por cento. Menos
13,3 pontos. Em França, país da laicidade, esta
pertença sobe para 91,9 por cento. A média europeia
fixa-se em 44,3 por cento.
Apesar do anti-clericalismo da I República e de um certo
pendor em determinadas elites para ressuscitar esta pecha, os
portugueses inquiridos mostram-se descomplexados. E o inquérito
mostra que sabem distinguir a instituição Igreja
de exemplos ou práticas menos aconselháveis nalguns
dos seus membros. Não há confusão entre
a árvore e a floresta.
A filosofia da "morte de Deus" dos anos 60 transformou-se
num mito. E é a Igreja Católica, afinal, que dá
mais segurança aos portugueses.
Era bom que determinadas elites que se arrogam ou se julgam intérpretes
dos portugueses, pensassem seriamente nos resultados desta investigação.
E deitassem fora os laicos anti-clericais que revelam, numa atitude
de bom senso e de verdade. A Igreja católica não
deseja privilégios, mas a sua presença na sociedade
é incontornável. Nem tão pouco aspira a
ser o Estado ou o poder mas que as instâncias oficiais
reconheçam, com justiça, o seu lugar nos vários
escalões sociais.
Ainda bem que a Igreja Católica é a Instituição
mais credível para os portugueses. Com absoluto respeito
pela separação do Estado, eles esperam que continuie
a sua missão de verdade, de paz, de justiça e de
liberdade.
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