Departamento de Engenharia Civil
UBI preenche falta de técnicos na região

A vistoria a três pontes do concelho da Covilhã é um exemplo do apoio que o Departamento de Engenharia Civil da UBI presta à população. Promover melhorias no Interior e formar bons engenheiros são os objectivos.

 Por Rodolfo Pinto Silva
NC/Urbi et Orbi

 

O DEC realiza vários estudos para a região, como por exemplo, de Planeamento e Urbanismo

Desde 1993 que o Departamento de Engenharia Civil (DEC) da Universidade da Beira Interior (UBI) ultrapassa as portas da instituição de ensino e presta serviços especializados à comunidade envolvente. Protocolos com câmaras da região e contratos pontuais com empresas nacionais e estrangeiras têm colmatado a falta de especialistas na Beira Interior. Exemplos marcantes de parcerias são a avaliação, pedida pela autarquia da Covilhã, de três pontes do concelho ou o acompanhamento das obras de remodelação da Linha da Beira Baixa. Como referem os responsáveis pelo DEC, "é a forma de contribuir para o desenvolvimento e conhecimento da região". Os estudos têm como base o trabalho de investigação que o Departamento não se cansa de promover, com o objectivo de formar engenheiros com conhecimentos académicos, e que, desde cedo, são integrados em trabalho de campo.
Com cerca de três mil e 400 metros quadrados de laboratórios, o DEC possui infra-estruturas capazes de responder às várias solicitações de apoio que têm sido pedidas. Vítor Pissarra Cavaleiro, coordenador da área de Sistemas de Informação Geográfica (SIG), confirma esta ideia: "No campo da Geotecnia estamos capacitados para dar resposta a qualquer pedido que nos seja feito, seja de fundações, mecânica dos solos ou de rochas". Uma situação que, de resto, se estende às cinco áreas científicas do Departamento. "As empresas têm a necessidade de recrutar técnicos muito qualificados para participarem em concursos internacionais. Muitas vezes somos solicitados para concorrer a obras com uma certa dimensão nacional e internacional", afirma o docente. E acrescenta: "É na Universidade que está a mão de obra qualificada e um leque variado de especialistas, desde Hidráulica a Geotécnia ou Construção".
Gestão de sistemas fluviais no quadro de ordenamento de bacias hidrográficas, criação de modelos digitais de terreno e cartas de riscos naturais, estudos de redes viárias e respectiva semaforização e apoio na elaboração dos Planos Directores Municipais (PDM's), são algumas das possibilidades do SIG. O sistema, segundo Cavaleiro, "é uma ferramenta potentíssima e há pouca gente que mexa com ela". Há pouco tempo, a UBI e a sua congénere de Salamanca terminaram uma base de dados do território entre aquela cidade espanhola e a Guarda, onde são inventariadas as vias de comunicação e outros serviços de apoio como, por exemplo, postos de abastecimento e centros médicos. Para a próxima revisão do PDM, Pissarra Cavaleiro diz ter a possibilidade de reunir todas as informações necessárias para a alteração dos planos de ordenação dos municípios: "Com o SIG é possível substituir as velhas cartas tradicionais, que estão em desuso, e ter a informação actualizada, com a possibilidade de ser consultada em tempo real".

DEC vistoria pontes degradadas

O concelho da Covilhã tem tido atenção especial dos docentes do DEC, quer seja em termos de investigação e complemento ao ensino, como de parcerias com a autarquia. Logo que as condições atmosféricas o permitam, as equipas do departamento e os técnicos da Câmara vão começar a vistoria à Pontes da Aldeia de São Francisco Assis, à Ponte Nova, entre o Teixoso e Caria, e à do Ourondo. João Castro Gomes é o responsável pela área de Construção. Sobre esta avaliação refere que o caso "mais interessante" é a ponte que liga o concelho da Covilhã ao Fundão, na zona das Minas. "É uma estrutura com 50 anos que apresenta alguns problemas estruturais e é necessário verificar se as exigências actuais de tráfego e cargas ainda podem ser suportadas", explica. De qualquer modo, o docente assegura que "em nenhuma das pontes há perigo de ruína e as análises vão decorrer sem necessidade de interrupção do trânsito".
Na cidade, os edifícios antigos e o Centro Histórico também têm sido objecto de estudo. "No âmbito do acordo que temos com a Câmara, os alunos do quinto ano da disciplina de Patologia e Conservação de Edifícios analisaram, por exemplo, o edifício da antiga Biblioteca Municipal e o da Assembleia Municipal", refere Castro Gomes. Para os alunos de mestrado a parte mais antiga da Covilhã é um campo com grandes possibilidades de exploração. O professor, que também é director da pós-graduação, lembra um trabalho de investigação que incide sobre a regulamentação de incêndios: "Vai ser feita uma análise crítica sobre a legislação de fogos que vigora actualmente e a sua validação em situações particulares".
Neste momento, o Projecto de Luta Contra a Pobreza promovido pela Santa Casa da Misericórdia covilhanense está a ter o apoio da UBI no que diz respeito ao levantamento dos edifícios degradados na Freguesia de São Martinho e Bairro da Alegria. "Numa primeira fase vamos analisar as anomalias das habitações. Posteriormente, temos de propor as intervenções e acompanhar tecnicamente os trabalhos", refere.

Alunos participam nas equipas

Luís Ferreira Gomes, director do DEC com ligação à Geotécnia, enfatiza o apoio que os especialistas do Departamento estão a dar às unidades termais da região. A parceria que está assinada com a autarquia covilhanense inside sobre as Termas de Unhais da Serra, mas o docente acrescenta que a cooperação se estende a outros municípios e instituições. "Temos protocolos escritos com as câmaras de Penamacor, Meda, Sabugal, Pinhel, São Pedro do Sul e com o INATEL", revela. A acção vai no sentido de manter a qualidade do recurso com intervenções que desaconselham a localização nas proximidades de edifícios, zonas industriais ou outras prejudiciais. "Em Unhais já houve a tentativa de criar uma lixeira perto da estância e a nossa intervenção foi no sentido de isso não acontecer", justifica.
Para Ferreira Gomes, esta ajuda prestada com a pesquisa sobre Geohidráulica, Ambiente e Águas Nobres é uma forma de desenvolver o Interior. Os números das Termas de São Pedro do Sul, no distrito de Viseu, são um bom exemplo: "Só no último ano, passaram por lá 22 mil pessoas. Havia mais camas disponíveis na localidade e arredores do que no resto do distrito. Isto mostra o impacto que o sector tem na melhoria e manutenção da qualidade de vida da região". Os grupos que desenvolvem estes estudos são compostos por professores doutorados, mestres e técnicos dos diferentes laboratórios, mas também por alunos. "Nós procuramos ter sempre os estudantes a participar nestes trabalhos", explica Castro Gomes. A ideia é reforçada por Pissarra Cavaleiro que explica o voluntarismo com a especificidade da UBI no panorama do Ensino Superior no País: um meio pequeno onde a ligação entre alunos e professores é maior. "Em meios maiores como Lisboa ou Porto, os estudantes saiem da universidade e vão para casa. Aqui eles têm meios para trabalhar desde as oito da manhã até à meia-noite se for preciso. No meu trabalho de campo tenho sempre alunos com capacidade de me acompanharem e de poderem aprender", conclui.

  

Departamento na vanguarda da investigação

O Departamento de Engenharia Civil (DEC) está dividido em cinco áreas científicas: Construção, Mecânica e Estruturas, Hidráulica e Saneamento, Geotecnia e, ainda, Planeamento e Urbanismo. Em todos os domínios estão a ser desenvolvidos vários projectos de investigação, alguns financiados pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), e mestrados, cujos conhecimentos, mais tarde, são aplicados nas aulas ou nos serviços de apoio à comunidade. Os laboratórios, equipados com a última tecnologia, são um aspecto importante nos trabalhos que estão a ser realizados. Todos os projectos têm a participação dos Grupos de Investigação do DEC, mas contam, também, com o contributo de professores de outras universidades, nacionais e estrangeiras.
"Caracterização geoambiental da zona Sul da Cova da Beira", "Deformação frágil na Serra da Estrela", "Planeamento de turismo em centros urbanos", "Arquitectura Tradicional na área do Parque Natural da Serra da Estrela" e "Análise e qualificação urbana e residencial da Covilhã" são alguns dos projectos de doutoramento e mestrado que estão em elaboração pelos docentes do DEC. Castro Gomes refere que o facto de "muitos professores estarem em formação explica tantos projectos de investigação". Para além das teses que estão a ser preparadas, o Departamento está a desenvolver investigação em diversas áreas no sentido de encontrar novas soluções para a Engenharia Civil.
No âmbito da Construção e Materiais, estão a decorrer dois projectos, aprovados pelo MCT. Um diz respeito à influência dos diferentes tipos de inertes (a tradicional areia de granito ou calcário) na durabilidade do betão e o outro pesquisa o betão auto-compactável. Mecânica e Estruturas tem também vários estudos em curso, como, por exemplo, a "Influência de paredes de betão armado na resistência de edifícios sujeitos sismos", "Comportamento de ligações metálicas sob a acção do fogo" e "Comportamento de estruturas mistas de aço e betão". O grupo de Hidráulica e Saneamento é outro que tem estudos financiados pelo MCT. São eles: "Modelação matemática da evolução morfológica de rios e aluviares", "Funcionamento hidráulico e estudo da sua aplicação a barragens de pequena e média dimensão" e, ainda, "Modelação experimental de ondas de cheia provocadas pela ruptura de barragens em canais com fundo móvel". Na Geotécnia, a pesquisa incide sobre águas nobres, ou seja, as águas termais, e a definição de zonas de protecção e relações com os PDM's. Planeamento e Urbanismo, por seu lado, está a analisar a qualificação urbana e residencial na Covilhã.
Para além dos estudos que são encabeçados pelo DEC, os seus docentes participam também em acções cuja iniciativa parte de outros instituições de ensino. Um exemplo é o projecto inovador na área da Construção que está a estudar a possibilidade de substituir, no fabrico do betão, 10 por cento do cimento pelas cinzas da casca de arroz. Algo que pode tornar a produção de betão mais eficiente em termos ecológicos, reduzindo a emissão de dióxido de carbono (CO2). A equipa é constituída por docentes da Faculdade de Engenharia do Porto, Universidade do Minho e UBI, da qual participa Castro Gomes.


 

  

"Licenciatura onde os alunos sujam as mãos"
- afirmam os responsáveis do curso

"Consolidar o que temos neste momento". A afirmação é de Luís Ferreira Gomes, presidente do Departamento de Engenharia Civil (DEC), para definir os próximos objectivos do Departamento. Estabilizar a situação no novo edifício, aprofundar os projectos de investigação que se relacionam com o aumento de docentes doutorados e recreditar o curso são as metas. Melhorar o ensino é outro dos objectivos.
No Pólo inaugurado há quase um ano, o DEC possui um Canal Hidrálico de grandes dimensões onde pode simular praias e cursos de água ou realizar testes de materiais de barragens e estruturas de pontes. Noutros laboratórios, é possível ensaiar vigas, betão armado ou blocos de cimento. Tudo onde os alunos dos cursos de Licenciatura e Mestrado podem passar à prática o que lhes é ensinado nas aulas teóricas. Algo que permite aos responsáveis afirmar, orgulhosos: "Na UBI, os estudante de Civil sujam as mãos no trabalho".
Pedro Silva, presidente do núcleo de estudantes de Engenharia Civil, está no último ano e é um dos estudantes que se deixou convencer por esta componente prática da licenciatura. "Era para pedir transferência para outra Universidade, mas quando comecei a ver como se trabalhva cá, decidi que era aqui que queria acabar o meu curso. Há muitos testes de laboratório, trabalhos na cidade a nível de patologias e muitos outros ensaios fundamentais para o nosso dia-a-dia", explica.
Este aspecto talvez contribua para a muita procura que o curso está a ter. As 100 vagas abertas anualmente são sempre preenchidas e, no último ano, foram recebidas 300 candidaturas. Para o próximo ano lectivo são esperados ainda mais, uma vez que as provas de Matemática e Geometria Descritiva vão servir para concorrer a uma vaga na Licenciatura de Engenharia Civil.
Ferreira Gomes está convencido de que o ensino que se está a fazer no DEC é de qualidade e para o comprovar, salienta que "todos os licenciados são absorvidos pelo mercado de trabalho, em grandes empresas, onde são reconhecidos como bons técnicos". Uma razão para que o responsável acredite que o curso vai ter, de novo, uma apreciação positiva na hora em que a Ordem dos Engenheiros se debruçar sobre a recreditação da Licenciatura. Em vista está também a reestruturação do currículo do curso. Segundo o docente, "a intenção é procurar oferecer a melhor qualidade de ensino com metodologias inovadoras e com um forte vínculo à teoria e à prática".


 

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