» Nuno Miguel
Augusto   

 

 

 

 


DE QUEM É A CULPA AFINAL?


Esta semana acordámos em pleno Apartheid. Na T.S.F., um Senhor da Associação Sócio-Profissional da Polícia abordava o Governo relativamente à permanência dos imigrantes, indicando como solução a sua expulsão. Inevitavelmente a questão racial ou étnica teria de constar da agenda de um sistema policial que insiste em constar da lista negra da Amnistia Internacional. Encerrados no interior de uma estrutura institucional excessivamente formalizada e militarizada onde até as fardas são compradas, os polícias encontram no aumento da delinquência uma mais-valia para a sua afirmação socio-profissional. Tal não significa, no entanto, que as reivindicações (que são justas) recorram à xenofobia (que é injusta num país economicamente dependente da imigração). Trata-se de mais um exercício de generalização, cujas consequências num contexto favorável à formação de neo-nacionalismos são forçosamente negativas.
O fantasma de África, da Índia ou do Brasil persegue-nos, pelos remorsos que deixou ou por uma mentalidade metropolitana e auto-centrada. Numa sociedade em que a noção de soberania se transforma face a uma globalização ainda desconhecida sucedem-se as desconfianças e o sentimento de risco. No que concerne à criminalidade, o risco tem sido ampliado quanto baste, quer pelos media, quer pela discussão política facilmente associado ao fantasma, que vive agora entre nós, na grande "Metrópole" repleta de símbolos enormes da ansiada modernidade. Em muitos casos, no entanto, o sonho metropolitano torna-se pesadelo e cria enormes sentimentos de isolamento e exclusão. A partir daí, que se lixe!
Quer pela ineficiência das práticas de inserção social, quer pelo sentimento metropolitano, a consciência xenófoba instalou-se entre nós. Até já um representante dos responsáveis pela segurança pública encontra legitimidade para pressionar o Governo em sentidos que desconhecemos desde 1974 (no século passado). Não é fácil encontrar coerência num sistema público que se demonstra incapaz de uma definição clara de cidadania. A Polícia propõe ao Governo que tome medidas relativamente aos imigrantes com a mesma facilidade com que se tenta proibir os rabiscos que os "pretos" fazem na única tela que conhecem - o betão. Se reduzirmos a imigração reduzimos a criminalidade - é este o raciocínio que se instala paulatinamente entre nós. Mas quem construirá depois as casas baratas que respondam aos nossos critérios de bem-estar, os polícias que já não são necessários num contexto de consenso?
Um país que conhece a novíssima sensação de tudo poder ter vive porta-a-porta com aqueles que tudo pensaram vir a ter e não encontraram. É tão natural ter casas cada vez mais baratas ( porque "eles" estão cá) como é natural que os polícias tenham seguro de vida. O que não é natural é que a acção sindical abandone a sua competência sadia - a afirmação de interesses específicos na forma de grupos de pressão - para se dedicar a conselheiro governamental sobre questões de cidadania ou de políticas de imigração.

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