António Fidalgo
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Descontentamento e contestação
O Inverno foi de chuva e de descontentamento. Sobre Portugal abateu-se
um céu cinzento de desânimo. A natureza foi inclemente, os desastres
sucederam-se, os relatórios externos sobre a nossa economia são
sombrios, e o Governo continua desorientado. Estamos outra vez numa de
coitadinhos.
Aceitar os contratempos com um "É a vida..." é uma atitude de fado ou
desgraça de vencidos da vida. Ora o mundo não está para queixumes. Não
se pode singrar no mundo da globalização com pena de nós próprios. As
atitudes maníaco depressivas que marcam o tempo deste Governo, da
euforia da Expo em 98 à fossa de Entre-Rios em 2001, não auguram nada
de bom para o embate da crise económica que se desenrola do outro lado
do Atlântico e se dirige para a Europa.
Ainda bem que os estudantes universitários protestam. Quem protesta é
porque está vivo e não se conforma com o espírito de inércia,
incapacidade e incompetência que nos tolhe os movimentos. Os
estudantes exigem um ensino de melhor qualidade. Alguém os pode
criticar? O descontentamento que vai na alma dos portugueses só pode
ser vencido quando der azo a contestação e nisso os estudantes vão à
frente, aliás como sempre aconteceu na sociedade portuguesa. São eles
os anunciadores de novos tempos. É preciso que a mão do vento erga a
chama que a tibieza oculta sob as cinzas
A contestação é inconformismo e há que ser inconformista num tempo
apagado, sem rasgo nem génio. Passe-se pois do descontentamento à
contestação. Tenha-se apenas em atenção de que pouco ou nada vale
contestar apenas por contestar, por mor de uma real gana. E também de
pouco vale bater em quem pouco pode fazer. As coisas passam por nós
próprios, não faz sentido fazer exigências sem ser exigente. Vale para os
estudantes e para toda a sociedade. Não podem os estudantes exigir
qualidade e não serem exigentes consigo próprios, e o mesmo vale para
todos.
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