José Geraldes
José Geraldes

 

 

 

 


Basta de mortos na estrada

Os números são um grito de alarme à consciência de todos nós.
De Janeiro a Março de 2001, morreram nas estradas do País 352 portugueses! E só na semana de 18 a 25 de Março, perderam a vida 44 pessoas e mais de mil ficaram feridas.
O acidente do autocarro do IP3 onde se registaram 14 mortos e a queda da ponte de Entre-os-Rios põem em questão traçados de vias mal concebidas e desleixo na vigilância das pontes.
Um relatório-guia da Associação para a Segurança Rodoviária Internacional faz uma análise de arrepiar os cabelos sobre as nossas estradas. Lê-se no relatório: "As estradas portuguesas são, de longe, as mais perigosas da Europa. O seu estado de conservação é variável e a sinalização muito pobre. (...) Não é raro encontrar condutores em excesso de velocidade ou alcoolizados. À noite, algumas viaturas circulam sem luzes ou com os máximos sempre ligados. A condução é perigosa, imprevisível e sem respeito pelas regras da prioridade. É frequente encontrar viaturas a circular no meio da estrada ou a ultrapassar em lombas e curvas".
Esta radiografia vem reforçar o que um perito, há tempos, dizia a respeito da condução: "Os portugueses conduzem como ladrões de carros". E a referida Associação anota que Portugal apresenta índices de acidentes e vítimas mortais cinco a seis vezes mais altos do que os registados no Norte da Europa. Aliás um oficial da Brigada de Trânsito da GNR dizia a mesma verdade de acordo com o relatório da Associação: "Neste momento é difícil encontrar na Europa uma guerra onde morra, mensalmente, tanta gente como nas estradas portuguesas".
E porquê isto? É a pergunta que acode naturalmente ao nosso espírito. A situação torna-se mais grave pelo facto de medidas avulsas terem sido tomadas sem os resultados esperados. As causas da maioria dos acidentes mortais continuam a ser os excessos de velocidade, ultrapassagens perigosas, e o efeito do álcool.
Nem a "Tolerância Zero" evitou o aumento do número de mortos. Quem já viajou pela Nacional 125 ou pelo IP5, sabe que as ultrapassagens para além dos limites de velocidade, continuam a fazer-se com o maior desplante deste mundo. Camiões TIR ultrapassam automóveis ligeiros com toda a naturalidade, no IP5. Na Nacional 125, automobilistas, em jeito de loucura, apitam, de forma ensurdecedora, para ultrapassar automóveis a cumprir os limites impostos por lei.
Daí os próprios agentes oficiais de trânsito concluírem que a campanha da "Tolerância Zero" foi um fracasso. E argumentam que se trata de um desperdício de recursos humanos e de dinheiro. E sugerem que haja mais investimento noutras áreas susceptíveis de estancar o cortejo horrível de mortes nas estradas.
A sinistralidade em Portugal deriva também de uma vertente cultural. Os portugueses pela condução manifestam um ar de diletantismo impossível de se revelar noutras facetas da vida. A reforma das mentalidades é urgente.
O caminho para esta reforma passa pela educação nas escolas. E pela modificação do ambiente social.
Serão necessárias medidas mais coercivas? Venham elas o mais depressa possível desde a descida da taxa de alcoolemia e ao controlo de automobilistas que conduzem sob o efeito de drogas. E a um maior rigor nas inspecções dos veículos.
A carnificina nas estradas portuguesas tem que parar. Este é que é, de facto, um imperativo nacional.

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