Parques Eólicos
Ventos enérgicos sopram na Beira Baixa

A empresa Generg está a estudar a viabilidade de instalar parques eólicos na região. Há vinte locais em análise. Os indicativos são bons e permitem pensar que, dentro de alguns anos, a Beira Baixa pode ser auto-suficiente em, termos energéticos. O vento é limpo, inesgotável e existe em toda a parte.

 Por Sérgio Felizardo
NC/Urbi et Orbi

Limpa, inesgotável,e disponível em todo o planeta. A utilização de energia do vento permite reduzir a emissão de dióxido de carbono para a atmosfera e é uma das apostas da União Europeia. Até 2002 as energias renováveis devem constituir 12 por cento do consumo de energia eléctrica na Europa

A Beira Baixa pode transformar-se, dentro de alguns anos, numa região auto-suficiente do ponto de vista energético. A partir da exploração de fontes de energia renováveis, nomeadamente do vento, vários concelhos do distrito estão a preparar um futuro que se quer mais limpo e menos dependente de recursos importados de outros países.
A instalação de parques eólicos na região está, neste momento, na fase final dos estudos de viabilidade. Depois da assinatura de vários protocolos com câmaras municipais e juntas de freguesia, a empresa lisboeta Generg - Gestão e Projectos de Energia SA. está no terreno a desenvolver medições e, segundo explicou ao NC Hélder Serrenho, um dos engenheiros responsáveis pelo projecto, pretende apresentar os resultados brevemente. Fundão, Castelo Branco, Proença-a-Nova, Oleiros, Sertã e Vila Velha de Ródão são os concelhos que se preparam para acolher os aerogeradores. Se todos os 20 locais em análise demonstrarem potencial, o investimento pode ultrapassar os 30 milhões de contos. A Generg compromete-se a fazer a instalação dos parques e a assegurar diversas contrapartidas financeiras durante 25 anos. Contrapartidas que vão beneficiar, especialmente, as juntas de freguesia envolvidas e os proprietários dos terrenos.
O prazo de recuperação de capitais investidos pela empresa ronda os 12 anos, pelo que, no entender de Hélder Serrenho, os parques eólicos "não são galinhas dos ovos de ouro". "São, isso sim, um negócio com uma rentabilidade relativamente baixa, mas segura. Sobretudo se forem bem geridos na fase de construção", acrescenta. O desenvolvimento do projecto na Beira Baixa pretende, assim, continua Serrenho, "fazer um desenvolvimento integrado com uma filosofia regional, em que não só se desenvolvem os concelhos abrangidos, como se contribui para o desenvolvimento sustentado de toda a região".

Fundão e Castelo Branco: bom vento dá bom casamento

Para as autarquias envolvidas no projecto as possibilidades de desenvolvimento dos municípios afiguram-se boas. Em Proença-a-Nova, por exemplo, as perspectivas de instalação de novas empresas, muitas delas estrangeiras, aumentou depois de assinados os protocolos com a Generg. Um facto a que não é alheia a determinação da União Europeia, expressa na Resolução de 8 de Junho de 1998 de, até 2010, o consumo interno bruto de energia na Comunidade corresponder a electricidade, aquecimento e combustíveis biológicos provenientes de fontes renováveis.
Uma duplicação da produção actual e uma meta para a qual a recente parceria entre Castelo Branco e o Fundão quer contribuir. A ideia é aproveitar as potencialidades da Serra da Gardunha, em conjunto e dentro de um processo que, salienta o presidente da Câmara fundanense em declarações ao NC, "se pode considerar histórico". "Os dois concelhos nunca tinham realizado qualquer projecto como parceiros efectivos, por isso este é pioneiro e promete grandes resultados", refere José Maria Fortunato. O rendimento substancial para as juntas, as melhorias na rede viária prometidas pela empresa, bem como a criação de postos de trabalho e o incentivo a empresas da região ligadas, por exemplo, aos sectores da construção civil, metalomecânica ou instalações eléctricas, concorrem também para um quadro alargado de vantagens. Do lado albicastrense (cujo presidente da edilidade, Joaquim Morão, o NC não conseguiu contactar, apesar de várias tentativas) estão envolvidas as freguesias de São Vicente da Beira e Almaceda, enquanto no Fundão os estudos decorrem no Souto da Casa, Lavacolhos, Bogas de Baixo, Bogas de Cima e Castelejo.

POE incentiva fontes de energia renováveis

Atento a toda a movimentação que rodeia o universo das energias alternativas, renováveis e limpas, o Governo anunciou em finais de Fevereiro que o investimento público no sector vai rondar os 100 milhões de contos durante os próximos seis anos. Segundo o secretário de Estado-Adjunto do ministro da Economia, Vítor Santos, além das energias renováveis, a dotação orçamental de incentivos inclui a eficiência energética e o reforço da rede eléctrica nacional nos pontos de interligação. É que, no que diz respeito à energia transformada a partir da captação eólica nos grandes projectos há a obrigatoriedade de a entregar na rede eléctrica nacional. Uma medida que visa garantir o fornecimento às populações, mesmo quando não há vento. O Programa Operacional de Economia (POE) prevê, assim, mais de 70 milhões de contos para incentivos directamente relacionados com a produção de energia eléctrica através de fontes renováveis.
Incentivos que, na opinião de Hélder Serrenho são importante, mas não são "extremamente significativos": "Não é pelos incentivos que se faz ou deixa de fazer um projecto nesta área. As coisas avançam quando há certezas da viabilidade do que se quer instalar no terreno". Por isso mesmo, e depois de 10 anos dedicados à edificação de estruturas para aproveitamento hidroeléctrico (inclusive no Parque Natural da Serra da Estrela), a Generg virou-se para as energias eólicas. Há dois anos e meio arrancaram os estudos por todo o País, "do Minho ao Algarve", fomentados numa base sólida em termos de "conhecimento das regras do jogo e apoio tecnológico angariado ao longo dos anos". Uma viragem para o futuro, garante Hélder Serrenho: "Para confirmar que esta é uma das energias essenciais nos próximos anos, basta dizer que a Europa aponta para que, no final do século XXI, toda a produção de electricidade advenha de fontes renováveis".

  

União Europeia incentiva energias renováveis


Entre 1998 e 2020, os cientistas prevêem que o consumo total de energia da Europa aumente cerca de 20 por cento, enquanto a produção de dióxido de carbono tende a crescer 14 por cento.
Perante estes números a questão que se coloca é simples: como pode a União Europeia garantir e diversificar o abastecimento de energia e ao mesmo tempo conciliar a procura crescente com a redução do impacto ambiental? A resposta está na racionalização dos consumos, na optimização das redes de transmissão e no desenvolvimento de sistemas energéticos mais limpos, que incluam as fontes renováveis. A obtenção de electricidade e calor vira-se, assim, para formas não poluentes de produção através do carvão, da biomassa e de outros combustíveis, mas, sobretudo, através da patação da energia do vento.
Disponível em todo o planeta, inesgotável, limpo e dependente de tecnologia relativamente simples e barata, o vento assume uma importância vital para que se atinjam objectivos relacionados com a defesa do ambiente. A preocupação é global, tanto mais quando se sabe que o equilíbrio ecológico do planeta está em risco e que, em território europeu existe um subaproveitamento do potencial ligado às fontes renováveis de energia. De acordo com um relatório de 1992, apresentado em Amsterdão, a energia que se poderá obter do vento através dos aerogeradores terrestres pode ascender aos 20 mil terawatts por hora. Nada mais, nada menos que o dobro da energia consumida em 1987 por toda a humanidade. Meia dúzia de aerogeradores, dizem os especialistas, chegam para fornecer a energia gasta com a iluminação pública de uma cidade de 250 mil habitantes. Feitas as contas, com duas mil e 500 "ventoinhas" iguala-se a potência de uma central nuclear média e dá-se electricidade a dois milhões e meio de pessoas.
Vento produz 18 mil megawatts em todo o mundo
A utilização da força dos ventos para geração de electricidade à escala comercial começou há pouco mais de 30 anos. Através dos conhecimentos da indústria aeronáutica, os equipamentos para captação eólica evoluiram rapidamente em termos de conceitos para produtos de alta tecnologia.
No inicio dos anos 70, com a crise mundial do petróleo, vários países europeus e os Estados Unidos da América interessaram-se pelo desenvolvimento dessas tecnologias. Mais de 50 mil empregos foram, então, criados, e começou a despontar uma sólida indústria de componentes e equipamentos. Actualmente, e segundo números relativos a 1999, a indústria de turbinas eólicas acumula crescimentos anuais na ordem dos 30 por cento e movimenta cerca de dois biliões de dólares por ano. Em todo o mundo existem mais de 30 mil turbinas de grande porte a funcionar, o que representa uma capacidade instalada de 18 mil megawatts, 13 mil dos quais só na Europa. Aqui, as regiões com maior potencial situam-se no Norte de Portugal, na Galiza e na Bretanha francesa. Os ventos constantes e de velocidade moderada, contribuem para a preferência.
Contra a sua instalação, os parques eólicos têm poucos argumentos. Os mais negativos dizem respeito ao efeito estético negativo na paisagem e ao barulho provocado pelos aerogeradores. Factos ressalvados na directiva do Parlamento Europeu, datada de 30 de Março de 2000 e relativa à promoção da electricidade produzida a partir de fontes renováveis de energia, mas que, no entanto, parecem ser compensados pelas vantagens mais básicas, tal como a substituição de queimas de materiais energéticos convencionais. Ou seja, combustiveis fósseis como a gasolina e todos os derivados do petróleo.


 

  

Captação eólica em expansão mundial



O mercado das turbinas eólicas e aerogeradores oferece múltiplas opções, consoante as necessidades de aplicação no terreno. Dos grandes parques às "ventoinhas" para assegurar apenas consumos domésticos a variedade é grande. E se, em 1986, os aerogeradores para sistemas de grande dimensão ligados à rede de electricidade tinham, em média, 12 metros de altura para uma potência de 25 kilowatts e eram dotados de rotores fixos, hoje a altura ascende aos 60 metros, a potência é de 1300 kilowatts e os rotores são capazes de aproveitar a direcção do vento.
A evolução permite melhores performances e mais captação. Os moinhos transformam a energia cinética do vento em energia mecânica, cuja quantidade depende do tamanho das pás giratórias e da velocidade do vento. O rendimento energético desta transformação, de acordo com os cálculos de um cientista alemão, pode chegar a um máximo de 59 por 100. Um número que depende do tipo e dimensões das "ventoinhas", que, por sua vez, são escolhidas conforme as características dos ventos nos locais de instalação. Em zonas de ventos com velocidade reduzida e mais ou menos constante, a preferência vai para os típicos moinhos mediterrânicos, de pás com vela. Em áreas de vento forte a escolha recai nos de hélice, com duas ou três pás.
Importância redobrada no século XXI
Nas aplicações "de âmbito caseiro", os sistemas são mais modestos e utilizados para cargas de baterias, bombagem de água e aquecimento, por exemplo. Bem sucedidos em termos comerciais, há actualmente em uso, a nível mundial, mais de 200 mil pequenos sistemas de carga de baterias. Ainda mais representativos são os meios eólicos mecânicos para bombagem. Cerca de dois milhões de unidades e mais de 50 marcas diferentes.
Sempre presente ao longo da história da humanidade, o aproveitamento da força do vento ganha, no arranque de um novo século, uma importância redobrada. Do seu bom aproveitamento depende parte da luta contra a poluição e contra o desperdício de energia. Do seu bom aproveitamento depende, também, o atingir de metas essenciais para o equilíbrio ambiental do planeta. Uma delas, estabelecida em 1991 pela Associação Europeia da Energia do Vento, determina que só os sistemas eólicos alimentem 10 por cento do consumo europeu em 2030, o que equivale a 100 mil megawatts instalados. Outra, definida pelo Conselho Mundial de Energia), tendo em conta um cenário ecológico, prevê para o ano 2020 uma potência instalada de energia eólica na ordem dos 474 mil megawatts.


 

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