Urbi et Orbi - Após
dois mandatos à frente do Sporting Clube da Covilhã,
sabemos que não se vai candidatar novamente. Porquê?
José Brito Rocha
- Eu entendo que cumpri
o meu mandato. Seis anos no primeiro mandato e mais sete anos
agora, são 13 anos em condições extremamente
difíceis. Comprometi-me com os sócios a fazer o
seguinte: recuperar financeira e desportivamente o clube, recuperá-lo
sob o ponto de vista social e cultural, introduzir as classes
jovens e elaborar um novo estatuto do SCC, que é praticamente
um seguro de vida, para evitar loucuras. Quer dizer que os próximos
directores são obrigados a ter uma gestão muito
controlada, gastando mais do que aquilo que produzem. Isto obriga-os
a ter um trabalho muito maior.
U@O - Mas se faz um balanço
positivo, porque não se recandidata?
BR - Chegou o momento em que temos que dar o lugar
a outros que queiram continuar o nosso trabalho. É por
isso que tem que haver um certo cuidado na escolha dos novos
elementos. Não posso permitir que se faça uma eleição
ad hoc e que apareçam aí uns aventureiros. Para
salvaguardar essa posição não me candidato
a presidente da Direcção, mas ficarei na Assembleia
Geral para ser a voz dos sócios junto da própria
Direcção.
U@O - É uma forma
de segurança?
BR - Penso que sim. Em 88 deixei o clube bem. Quando
voltei em 94 estava um desastre. Agora não quero que aconteça
isso novamente. O SCC é um grande embaixador da Beira
Interior. No aspecto desportivo e cultural, é a instituição
que, juntamente com a UBI, leva mais longe o nome da Covilhã,.
Todos os dias lemos na Bola, no Record, em todos os jornais o
nome da cidade da Covilhã, coisa que não acontecia
antes.
U@O - Tem alguém
que gostaria de ver encabeçar o próximo elenco
directivo?
BR - Não. Neste momento não tenho ainda
nomes, mas prefiro algumas pessoas, que estando na Direcção
merecem algum respeito. Ainda não fiz convites. Agora
vai realizar-se a Assembleia Geral de prestação
de contas e só depois, no final de Abril, princípio
de Maio, decorrerá a Assembleia para marcação
de eleições. Nessa altura serão apresentados
os nomes. A escolha também depende muito se o SCC fica
na mesma divisão ou sobe.
U@O - Diz-se que vai deixar
o desporto para se dedicar à política. É
verdade?
BR - Não é verdade. Estou muito ligado
ao Partido Socialista, mas neste momento estou perfeitamente
afastado da política.
U@O - E se houvesse um convite?
BR - Nem sequer penso nisso.
U@O - Neste momento, o SCC
tem 51 pontos, está a seis pontos do primeiro lugar. Estamos
na 27ª jornada. Acha que o Sporting da Covilhã ainda
tem hipóteses de subir à 2ª Liga?
BR - Sobe à 2ª Liga se o deixarem. Mas
tem hipóteses. Os mais directos competidores, têm
jogos mais difíceis que o SCC. O Oliveirense tem que vir
à Covilhã. É certo que nós temos
que ir a São João da Madeira, mas há clubes
que já estão afastados, por natureza, como é
o caso do Académico de Viseu e o Feirense. Penso que a
disputa do Campeonato será entre o SCC, o Sanjoanense
e o Oliveirense. Os seis pontos de diferença ao Oliveirense
não querem dizer nada.
U@O - Quais são os
maiores problemas da equipa neste momento?
BR - A equipa sofreu algumas baixas, como foi o caso
Hermes, o ponta-de-lança e melhor marcador. Já
foi operado, mas não deve jogar esta época, o que
nos causa uma série de problemas. O Adilson foi outra
das baixas, tal como o João Carlos e o Capelas, pedras
fundamentais no clube. Perdemos alguns pontos devido à
falta destes elementos, mas são pontos recuperáveis.
Tudo vai depender muito do que se passar dentro de campo, da
maneira como os árbitros dirigirem. Dou sempre o beneficio
da dúvida, mas com estas situações de subidas
e descidas há sempre complicações.
U@O - Fala em dar o "benefício
da dúvida". Alguma vez o SCC se sentiu prejudicado
com as arbitragens?
BR - Temos sido muitas vezes prejudicados. Este ano
perdemos dois jogos por causa de arbitragens. Quer no Oliveirense,
quer no Feirense aquilo foi tudo cozinhado para prejudicar o
SCC. Isto porque interessa às associações
do litoral promover estes dois clubes. É muito mais difícil
ao interior do país ter um clube numa divisão superior.
Ou tem muito dinheiro, como é o caso do Campomaiorense,
que tem os milhares de contos da Delta, ou então tem
pouco dinheiro, como é o caso de SCC, e tem que se sujeitar
a essas intempéries que se verificam dentro do futebol.
U@O - Mas há dois
anos o SCC subiu?
BR - O SCC subiu sempre por mérito próprio,
pois de outra maneira não teria chegado lá. Aposta-se
muito contra o Sporting da Covilhã. Os outros clubes dão
prémios chorudos para ganharem ao SCC.
U@O - Tem provas do que
está a dizer?
BR - Se tenho provas? Toda a gente sabe disto. Dar
prémios para os clubes ganharem, não é proibido.
O que é proibido é os clubes pagarem para perderem.
Agora, esses clubes têm muita força. Recebemos clubes
da 2ª Liga que vinham com prémios de jogo pagos
para os jogadores ganharem ao SCC.
U@O - Quem lhes pagava?
BR - O outro clube que tinha interesse que o SCC perdesse.
Em vez de ser o clube a dar o prémio de jogo, eram os
outros clubes que lhe ofereciam. Mas isso não é
proibido é apenas um incentivo à vitória,
ao desporto.
U@O - Quais as armas que
o SCC vai utilizar para subir à 2ª Liga?
BR - O SCC não tem dinheiro para este tipo
de incentivos e só vai subir se o deixarem. Se a estrutura
desportiva nacional o deixar, se os senhores do futebol entenderem
que o interior faz parte do país, naturalmente o SCC sobe.
Mas se os senhores que mandam nisto tudo, entenderem que o Covilhã
não deve subir, não sobe mesmo. O SCC fará
tudo para ganhar. Nada faremos para perder, nem faremos nada
para que os outros ganhem. Cada um defende-se com as armas que
tem.
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