Sociólogos analisam
indústria têxtil da cidade
Covilhã
deve mudar cultura empresarial
Por
Nélia Sousa
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Idos os
tempos gloriosos da Covilhã no panorama nacional e até
mundial da indústria dos lanifícios, sociólogos,
empregadores e empregados continuam a discutir a razão
da sua decadência por volta de 1980. Heitor Duarte e Domingos
Vaz, docentes da UBI, discutiram algumas das razões que
conduziram a esta situação e apresentaram propostas
de desenvolvimento para a Covilhã.
"O tempo
sombrio e negro da indústria têxtil já passou."
Quem o diz é Heitor Duarte, docente de Sociologia na UBI,
actualmente a preparar a tese de doutoramento sobre os Conflitos
Sociais na Indústria de Lanifícios da Covilhã
entre 1941 e 1981. O resultado das suas investigações
sobre esta temática foram apresentadas no primeiro colóquio
de Sociologia realizado na passada quarta feira, 28, no pólo
de Ciências Sociais e Humanas.
"Não foi o conflito que levou ao encerramento das
empresas, foram as reivindicações não satisfeitas",
explica Heitor Duarte. Este sociólogo defende que "a
seguir ao 25 de Abril as empresas não estavam preparadas
para reagir a uma avalanche de reivindicações análogas
às que se faziam ao nível da Europa". Daí
que, entre 1974 e 1981, tenham encerrado mais de 50 empresas.
Para Heitor Duarte, o fim da indústria está relacionado
com o facto das expectativas da mobilidade de trabalho terem
sido frustradas. "O operariado covilhanense tinha uma consciência
muito clara de como a indústria lhes permitia ascenderem
na escala social através do trabalho. Como as reinvidicações
não foram satisfeitas, os operários entraram em
desespero levando ao encerramento das empresas", explica.
No entender de Heitor Duarte, os empresários, poderiam
ter feito mais porque "são eles que controlam o processo
de produção a forma de organização
e a distribuição dos lucros".
O têxtil
está para durar
Apesar da crise
na indústria têxtil e da consequente diminuição
do número de fábricas, a produção
neste ramo continua a ser elevada, o que leva Heitor Duarte a
admitir que "esta é uma indústria que ainda
está para durar muito tempo".
Mas para que se mantenha é preciso mudar a cultura empresarial,
nomeadamente a relação entre trabalhador e empresário.
"Termos operários qualificados, conscientes e motivados
nos seus locais de trabalho é muito importante para o
desempenho dessa própria indústria e contribui
para um ambiente mais saudável e funcional", defende
este docente.
Uma ideia também partilhada por Domingos Vaz, segundo
interveniente neste colóquio. No seu ponto de vista "se
não formos capazes de ultrapassar o conflito entre trabalhadores
e empresários vamos ter dificuldades em afirmar a Covilhã".
Domingos Vaz, actualmente a preparar a sua tese de doutoramento
nesta área, falou sobre Tempos Cruzados na Covilhã:
Notas sobre as Velhas e as Novas Imagens da Cidade.
Para este sociólogo, após a crise na indústria,
a Covilhã começou a eleger outros desígnios
em alternativa aos lanifícios, sem nunca os pôr
de parte. É neste âmbito que se cria o parque industrial,
o regadio da Cova da Beira e o Instituto Universitário.
A Universidade da Beira Interior é, no seu entender, um
actor potencialmente importante porque "se não fosse
a Universidade a Covilhã ia ao fundo". Visualizando
o ensino como uma necessidade de valor excepcional para a cidade,
este docente afirma que ela é a grande alavanca para o
desenvolvimento integral e o fundamento de novas perspectivas
para o futuro.
O aparecimento de novos actores sociais, como o Hospital da Cova
da Beira e a Faculdade de Medicina vieram trazer, também,
uma mudança na cidade "contribuindo para a sua auto-estima
no futuro". No entanto, Domingos Vaz critica o que está
a ser feito na zona baixa da Covilhã e afirma que é
"um desperdício imobiliário", adiantando
que é "fundamental planear a cidade como um todo
orgânico". O mesmo acontece com as obras em curso
no Pelourinho, cuja discussão deveria alargar-se à
cidade.
Esta intervenção provocou algumas reacções.
Luís Garra, do Sindicato dos Têxteis da Beira Baixa,
admitiu mesmo que o plano estratégico da Covilhã
está mal elaborado. "Não temos um plano geral
de urbanização mas temos uma plantação
de casas na zona baixa da cidade sem espaços verdes, sem
zonas de lazer, sem equipamentos sociais", afirmou o sindicalista.
A esta conferência assistiram docentes e alunos da UBI,
mas também alguns representantes de associações
comerciais e industriais da região.
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