José Geraldes
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Portugal doente
O País está doente.
Doente da saúde que se degrada cada vez mais. Doente das
listas de espera que nunca mais acabam. Doente de reformas que
não podem ser adiadas. Doente de uma escolaridade que
nos coloca na cauda dos Quinze. Doente de serviços públicos
que, em vez de servirem o cidadão, só lhe complicam
a vida. Doente de uma justiça que está a tornar-se
uma ficção. Doente de pontes não fiscalizadas
e seguras. Doente de uma má conservação
de estradas. Doente de auto-estradas que avançam a passo
de caracol. Doente da Sida e da toxicodependência em crescimento
enquanto diminui nos parceiros europeus. Doente de deputados
num Parlamento onde as prioridades do País consistem em
aprovar à pressa a pílula abortiva do dia seguinte
contra a vontade do povo que, em referendo, rejeitou claramente
o aborto!
O País apresenta-se moderno porque, no seu Parlamento,
santuário da democracia, se aprovaram as uniões
de facto e os direitos dos homossexuais em pé de igualdade
com os casais heterossexuais. Respeitamos quem tem orientações
sexuais diferentes do comum das gentes. Mas onde está
o apoio às famílias que constituem o País?
Para o Parlamento, trata-se de assunto de somenos importância.
A família é a célula da sociedade. E a história,
"mãe e mestra", como a experiência, comprova
claramente a tese: quem destrói a família, cava
os alicerces da sociedade. Só os deputados ainda não
se deram conta deste facto. E o mandato político que as
famílias eleitoras lhes deram, não foi para a sua
destruição.
O desfasamento entre os deputados e os políticos em geral
e o povo que os elegeu, adquire contornos cada vez mais nítidos.
Quem manda neste País doente são os "lobbies".
Não são os votos. Os votos servem para legitimar
os eleitos que, depois, governam, conforme as pressões
deste ou daquele grupo mais influente junto do poder. E o povo
diverte-se a ver o Big Brother e os Acorrentados na televisão
e o futebol. A receita é também histórica:
"pão e circo".
Estes mesmos deputados que, onde vão, desejam ocupar lugares
de destaque, inclusive nas cerimónias religiosas, dão
o aval a normas de uma lei onde equiparam os bispos, em actos
oficiais, a sindicalistas. Isto em nome da não confessionalidade
do Estado. Ninguém hoje é a favor de um Estado
confessional. A separação da Igreja e do Estado
só clarifica as relações entre as duas instituições.
Mas como esquecer que a maioria da população portuguesa
é católica? E esta componente deve ser tida em
conta.
Nem a França, expoente máximo da laicidade na Europa
chegou a tanto. Há separação total, neste
país, da Igreja e do Estado. Mas os bispos têm lugar
próprio e distintivo nas cerimónias oficiais. A
França não desceu à pequenez de anti-clericalismo
primário dos deputados portugueses. Claro que estes mesmos
deputados ou outros políticos quando houver uma Missa
Solene, vão querer ocupar cadeiras especiais à
frente do povo. Que contradição! Também
estes deputados e outros políticos se mostram "modernos"
à escala do País periférico que somos. Mas
esta é uma nova modalidade de acantonar a religião
na sacristia. Como nos tempos do Estado Salazarento!
A Igreja não quer privilégios. Só que a
respeitem e lhe dêem as condições para exercer
a sua missão como está consignado no tratado internacional
da Concordata, embora alguns artigos estejam desactualizados
e exijam revisão. Desejo a que o Vaticano já deu
luz verde. Mas essa da retirada do subsídio à Universidade
Católica Portuguesa sabe a puro maquiavelismo político.
Falta ao País um projecto global de desenvolvimento. O
Presidente Sampaio, no discurso de posse do segundo mandato,
fez um retrato completo do que falta para que o "País
se cumpra". A tragédia de Entre-os-Rios veio mostrar
que "África está a 50 quilómetros do
Porto".
O Interior sempre esquecido e abandonado. Será que esta
tragédia acordará os deputados, entretidos em "modernices",
para pensar o País real, aquele por quem foram eleitos
e por cujo desenvolvimento devem lutar?
Merecem ainda estes deputados e políticos o benefício
da dúvida? |