Alunos do secundário promovem discussão
Prevenção, sexualidade e adolescência

Falar de sexualidade e dos tabus que a envolvem, como a masturbação e as doenças sexualmente transmissíveis, foi o objectivo das Jornadas da Sexualidade, realizadas na UBI, na sexta-feira passada. Um projecto integrado na área-escola do 12ºC da Escola Secundária Frei Heitor Pinto, que levou miúdos e graúdos a abordar a sexualidade e os jovens sob diferentes perspectivas.

 Por Patrícia Caetano

Actuar na formação e prevenção de problemas associados à sexualidade juvenil junta alunos do secundário

A complexidade da sexualidade humana deve-se a factores psicológicos que se sobrepõem aos biológicos. Mas, segundo Freud, à semelhança de um iceberg, a maior parte do nosso psiquismo está escondido. Como esclarece Paula Saraiva, professora de Psicologia: "a nossa vida psíquica é marcada pela psico-sexualidade". A professora explica que a nossa sexualidade se inicia na infância, uma vez que não se resume apenas ao acto sexual entre duas pessoas.
De facto, existe uma "sexualidade auto-erótica", que por vezes começa com a masturbação, mas tende a fundamentar-se no outro.
A sexualidade nos jovens depende de uma saúde mental saudável. Nas diversas fases da adolescência, existe uma marcante transformação corporal visível no aparecimento da menstruação e crescimento dos seios nas raparigas, e na possibilidade de ejaculação nos rapazes.
Contudo, como salienta Paula Correia, pedopsiquiatra, há também uma evolução psicológica que leva o jovem a centrar-se em si e na sua imagem corporal. "Existe um egocentrismo e um espelho estruturante, onde o adolescente se vê crescer". Por outro lado, surge o pensamento abstracto. "O adolescente começa a ter a capacidade de pensar sobre o pensar, há uma intelectualização ao nível da compreensão das suas transformações", salienta Paula Correia.
É nesta fase, entre os 14 e os 16 anos, que os jovens, que os jovens procuram os seus próprios valores e aprendem até onde podem ir sozinhos. Começam a ensaiar comportamentos de adulto e a identificar-se com o seu "grupo de pares", ou seja, com o sexo oposto que o atrai.
Entre os 16 e os 19 anos, propiciam-se os "namoros a sério", onde cada adolescente define quer a sua identidade, quer a sua sexualidade. No entanto as diferenças entre os sexos são latentes. "As raparigas fazem amor por amor, os rapazes por atracção ou desejo físico", refere a pedopsiquiatra.

"O amor é vicioso, malicioso, magnífico"

A existência de afectos, mimos e carícias na infância são essenciais, para que mais tarde exista uma sexualidade saudável. Isto, porque segundo Anabela Fazendeiro, psicóloga, há processos inibidores que auto-controlam os sentimentos da atracção: "O rapaz é educado para o prazer, enquanto a rapariga é educada para a reprodução".
Na adolescência, 50 por cento das relações duram entre um dia e um mês.
Uma das consequências mais graves é a gravidez indesejada, que pode trazer complicações para a mãe quando o corpo desta ainda não está suficientemente adaptado para dar à luz. Por outro lado, as complicações não advêm apenas de problemas físicos, mas psíquicos: "Angústia, desaprovação dos pais das adolescentes e abandono do pai da criança e das famílias são infelizmente uma constante", lamenta Paula Correia..

É preciso actuar na prevenção

As doenças sexualmente transmissíveis, como o SIDA, hepatite, herpes genital, entre outras, não escolhem sexo ou estrato social. Contudo, cerca de 70 por cento dos doentes infectados têm menos de 25 anos. Esta situação, deve-se a alterações socio-culturais, como o aumento do número de divórcios, a idade cada vez mais baixa da primeira relação, os casamentos tardios. Todos estes factores favorecem o aumento do número de parceiros e consequentemente, a propagação das doenças sexualmente transmissíveis. É portanto preciso "actuar na prevenção", como alerta João Gomes, ginecologista.
A maior parte destas doenças tem consequências mais graves na mulher, porque podem disseminar-se até ao útero e trompas, desencadeando uma doença inflamatória pélvica que pode provocar esterilidade, gravidez ectópica- fora do útero- e infecção abdominal. Ao mesmo tempo, aumentam o risco de cancro no colo e útero, podendo transmitir-se ao bebé.
As Jornadas da Sexualidade proporcionaram um debate esclarecedor, aplaudido especialmente pelos adolescentes. Os jovens puderam dissipar as suas dúvidas, e fazer-se ouvir em relação à possível existência da disciplina de educação sexual. Na generalidade, os adolescentes não concordam com a transdisciplinaridade da educação sexual, como é o exemplo de João Pedro Martins, 16 anos, aluno do 11º ano: "na matemática 1+1 são 2, enquanto na educação sexual todos sabemos que 1+1 são 3".


  

As doenças sexualmente transmissíveis

O ginecologista João Gomes, animou a plateia com uma palestra onde abordou de modo simples doenças sérias. De facto, as doenças sexualmente transmissíveis, podem levar à morte. A sua prevenção, por exemplo através do uso correcto do preservativo, é o melhor modo de as evitar. Aqui ficam algumas das doenças sexualmente transmissíveis, as suas causas e consequências:
SIDA - Provocada pelo HIV, destrói as células que no organismo se encarregam de eliminar o material genético anormal, tornando-o vulnerável a outras doenças.
HEPATITE B,C, e DELTA- Basta uma pequena quantidade de vírus para que sejam transmitidas. Atinge o fígado, provocando a cirrose. Não há tratamento.
HERPES GENITAL- Provocada pelo vírus HSV, transmite-se pelo contacto de líquidos orgânicos: sangue, saliva, sémen. Infecta principalmente as células nervosas das mucosas genitais. Provoca dores com sensação de queimaduras.
CONDILOMAS- Provocado pelo vírus HPV. São herpes que quando atingem a mucosa do colo do útero, podem provocar a esterilidade e o aparecimento de um tumor maligno. Tem tratamento.
GONORREIA- Infecta pénis e vagina, provoca a produção de pus, dores e disúria- dores ao urinar- Na mulher, quando atinge o útero e trompas provoca esterilidade e cancro no colo e útero.
CLAMÍDIA- Bactéria que infecta os órgãos sexuais, mas os sintomas não são evidentes. È a primeira causa de esterilidade feminina.
SIFÍLIS- Parasita que se transmite pelo contacto entre mucosas, e que infecta os órgãos genitais. Se não for detectada a tempo pode afectar o cérebro e o coração.
CANDIDÍASE (cândidas)- Na mulher provoca o corrimento de um líquido branco vaginal com prurido. O homem também pode ser infectado.

 

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