A complexidade da sexualidade
humana deve-se a factores psicológicos que se sobrepõem
aos biológicos. Mas, segundo Freud, à semelhança
de um iceberg, a maior parte do nosso psiquismo está escondido.
Como esclarece Paula Saraiva, professora de Psicologia: "a
nossa vida psíquica é marcada pela psico-sexualidade".
A professora explica que a nossa sexualidade se inicia na infância,
uma vez que não se resume apenas ao acto sexual entre
duas pessoas.
De facto, existe uma "sexualidade auto-erótica",
que por vezes começa com a masturbação,
mas tende a fundamentar-se no outro.
A sexualidade nos jovens depende de uma saúde mental saudável.
Nas diversas fases da adolescência, existe uma marcante
transformação corporal visível no aparecimento
da menstruação e crescimento dos seios nas raparigas,
e na possibilidade de ejaculação nos rapazes.
Contudo, como salienta Paula Correia, pedopsiquiatra, há
também uma evolução psicológica que
leva o jovem a centrar-se em si e na sua imagem corporal. "Existe
um egocentrismo e um espelho estruturante, onde o adolescente
se vê crescer". Por outro lado, surge o pensamento
abstracto. "O adolescente começa a ter a capacidade
de pensar sobre o pensar, há uma intelectualização
ao nível da compreensão das suas transformações",
salienta Paula Correia.
É nesta fase, entre os 14 e os 16 anos, que os jovens,
que os jovens procuram os seus próprios valores e aprendem
até onde podem ir sozinhos. Começam a ensaiar comportamentos
de adulto e a identificar-se com o seu "grupo de pares",
ou seja, com o sexo oposto que o atrai.
Entre os 16 e os 19 anos, propiciam-se os "namoros a sério",
onde cada adolescente define quer a sua identidade, quer a sua
sexualidade. No entanto as diferenças entre os sexos são
latentes. "As raparigas fazem amor por amor, os rapazes
por atracção ou desejo físico", refere
a pedopsiquiatra.
"O amor é vicioso,
malicioso, magnífico"
A existência de afectos,
mimos e carícias na infância são essenciais,
para que mais tarde exista uma sexualidade saudável. Isto,
porque segundo Anabela Fazendeiro, psicóloga, há
processos inibidores que auto-controlam os sentimentos da atracção:
"O rapaz é educado para o prazer, enquanto a rapariga
é educada para a reprodução".
Na adolescência, 50 por cento das relações
duram entre um dia e um mês.
Uma das consequências mais graves é a gravidez indesejada,
que pode trazer complicações para a mãe
quando o corpo desta ainda não está suficientemente
adaptado para dar à luz. Por outro lado, as complicações
não advêm apenas de problemas físicos, mas
psíquicos: "Angústia, desaprovação
dos pais das adolescentes e abandono do pai da criança
e das famílias são infelizmente uma constante",
lamenta Paula Correia..
É preciso actuar
na prevenção
As doenças sexualmente
transmissíveis, como o SIDA, hepatite, herpes genital,
entre outras, não escolhem sexo ou estrato social. Contudo,
cerca de 70 por cento dos doentes infectados têm menos
de 25 anos. Esta situação, deve-se a alterações
socio-culturais, como o aumento do número de divórcios,
a idade cada vez mais baixa da primeira relação,
os casamentos tardios. Todos estes factores favorecem o aumento
do número de parceiros e consequentemente, a propagação
das doenças sexualmente transmissíveis. É
portanto preciso "actuar na prevenção",
como alerta João Gomes, ginecologista.
A maior parte destas doenças tem consequências mais
graves na mulher, porque podem disseminar-se até ao útero
e trompas, desencadeando uma doença inflamatória
pélvica que pode provocar esterilidade, gravidez ectópica-
fora do útero- e infecção abdominal. Ao
mesmo tempo, aumentam o risco de cancro no colo e útero,
podendo transmitir-se ao bebé.
As Jornadas da Sexualidade proporcionaram um debate esclarecedor,
aplaudido especialmente pelos adolescentes. Os jovens puderam
dissipar as suas dúvidas, e fazer-se ouvir em relação
à possível existência da disciplina de educação
sexual. Na generalidade, os adolescentes não concordam
com a transdisciplinaridade da educação sexual,
como é o exemplo de João Pedro Martins, 16 anos,
aluno do 11º ano: "na matemática 1+1 são
2, enquanto na educação sexual todos sabemos que
1+1 são 3".
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