IV Ecos da Formação Contínua
Temáticas actuais atraem recorde de participantes

Na edição mais participada de sempre, o IV Ecos da Formação Contínua abordou temas "quentes". A Educação Sexual na Escola e a Gestão Flexível do Currículo estiveram em destaque.

 Por Alexandre S. Silva
NC/Urbi et Orbi

 

Carlos Fiolhais alerta: "Neste momento há uma tensão, um divórcio, entre a educação e a ciência"

O Hotel Turismo da Covilhã albergou, nos dias 15 e 16, quinta e sexta-feira, a quarta edição dos "Ecos da Formação Contínua". Uma iniciativa do Centro de Formação da Associação de Escolas do Concelho da Covilhã. Este ano especialmente "debruçado" sobre temas como a Gestão Flexível do Currículo e a Educação Sexual em Meio Escolar, o ciclo de conferências teve uma das maiores participações de sempre. "Há um grande envolvimento das escolas e uma colaboração exemplar dos professores", assegura José Luís Adriano, director do Centro de Formação. Atendendo a este aspecto, continua o responsável, "o balanço final destes IV Ecos é claramente positivo". De ano para ano, acrescenta, "as temáticas dos colóquios têm vindo a melhorar. E os próprios palestrantes têm mais a ver com as nossas preocupações e práticas pedagógicas".
Outro facto que agradou ao responsável foi a participação de "um número apreciável" de estudantes da Universidade da Beira Interior, na sua maioria do curso de Língua e Cultura Portuguesa. Alunos que, nas palavras do director, "vão ser os futuros docentes das nossas escolas". Esta, continua, "é uma boa forma de saberem o terreno que vão pisar e o tipo de problemas que os espera. E, acima de tudo, de tomarem conhecimento da grande tarefa que colocam a eles próprios ao optarem por ser professores". Quanto aos temas em debate, Luís Adriano não tem dúvidas sobre a sua pertinência: "A educação sexual no meio escolar é um campo muito falado hoje em dia e sobre o qual se torna imperioso e fundamental reflectir. Os professores desejam receber experiência de meios escolares onde este trabalho começou mais cedo". A Gestão Flexível de Currículo, um programa que coloca nos professores e dirigentes das escolas a responsabilidade de definir as metodologias de ensino, é outro tema delicado que justifica, segundo o director, uma reflexão aprofundada. É que, explica, "trata-se de uma grande reforma e não se pode encarar de ânimo leve a responsabilidade de escolher aquilo que se ensina e como se vai ensinar".
Outra questão que esteve sempre subjacente a todas as discussões foi "o papel da escola na formação científica dos alunos". Um tema que, não sendo actual, sublinha o responsável, "urge resolver". "Estamos na cauda dos países desenvolvidos ao nível de descobertas científicas. O que nos leva à interrogação: afinal o que está a escola a fazer?"

  

Cientista da Universidade de Coimbra alerta
"Escola está divorciada da ciência"


"Neste momento há uma tensão, um divórcio, entre a educação e a ciência". As palavras são de Carlos Fiolhais, professor do departamento de Física da Universidade de Coimbra. O docente esteve na sexta-feira, 16, na cidade da Covilhã, a convite da organização dos IV Ecos da Formação Contínua, para um colóquio sobre a relação existente entre a "Escola e a Ciência".
Para o cientista, as duas instituições estão cada vez mais afastadas. Uma situação, esclarece, que acontece em todo o Mundo mas que, em Portugal, "assume maiores proporções porque temos uma herança de atraso e não há tradição científica". As causas para este divórcio, aponta Fiolhais, "são múltiplas, mas passam, sobretudo, pelo facto de a ciência nunca ter sido o motor da sociedade, ao contrário de outros países mais desenvolvidos". Por outro lado, acrescenta, "o processo de desenvolvimento tecnológico foi tão rápido, que a escola não conseguiu acompanhar essa evolução". A ciência é, portanto, segundo o universitário, "vítima do seu próprio sucesso".
Numa altura em que muito se fala de pontes, o cientista alerta para a a necessidade de se unirem "as duas margens". É que, adianta, "a escola é um local criado para perpetuar a sociedade e, se estiver afastada da ciência, esse objectivo não pode ser cumprido". Para ultrapassar esta "crise", o professor propõe "mais e melhores ensinamentos científicos. A única forma de garantir o futuro". Como qualquer cientista, Fiolhais declara-se "optimista". "Em relação a outros povos, os portugueses não têm qualquer deficiência genética. Por isso acredito que podemos ser tão bons quanto os melhores. O que nos falta é organização".
Para reconciliar a educação com a ciência ainda há muito a fazer, mas, continua o cientista, "o mais importante é que se faça o mais cedo possível na vida da criança. Enquanto ainda não perdeu a curiosidade natural. Na adolescência já é demasiado tarde". É que, conclui Fiolhais, "Alguma da nossa escola, mata essa curiosidade que marca os primeiros anos de vida da criança".


 

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