O resultado
foi conhecido ontem: "A Universidade de Aveiro è
a melhor" e "Entre as instituições públicas,
destacam-se ainda a Universidade de Lisboa (qualidade de ensino)
e a UBI (qualidade de vida dos estudantes)".
O Diário de Notícias (DN), durante nove dias, entre
17 e 26 de Março, publicou um estudo que iria determinar
o estado e a qualidade das universidades públicas portuguesas.
Ao longo da análise dos nove indicadores propostos, um
conjunto de docentes universitários constituído
por Pedro Lourtie, Maria Luís Rocha Pinto, Pedro Mil-Homens
e Hélder Pereira analisou os dados e comentou-os, chegando
assim à "radiografia possível" dada a
escassez e, algumas vezes, a falta de fiabilidade dos números
disponíveis.
Para este estudo foram considerados os seguintes indicadores:
procura da instituição pelos candidatos ao Ensino
Superior; crescimento do número de alunos; duração
média dos estudos; capacidade de pós-graduação
das instituições; corpo docente e investigação;
acção social escolar e saúde; cultura/desporto
e mobilidade internacional dos estudantes; orçamento e
instalações disponíveis; tecnologias de
informação e comunicação, bibliotecas
e salas de estudo.
Qualidade
de vida melhora resultados
Na quinta feira,
22, o DN publicava o título "Qualidade de vida na
UBI e em Aveiro". Para esta classificação
contam, entre outros factores, as condições existentes
nas salas de aula, nas bibliotecas e a facilidade de acesso a
meios informáticos que, no entender dos avaliadores convidados
pelo diário nacional para efectuar o estudo, "em
muito podem contribuir para uma melhoria da qualidade do processo
de aprendizagem". Também foram contabilizados o alojamento,
alimentação, cuidados de saúde, elementos
que assumem especial importância em universidades como
a da Beira Interior, em que 80 por cento da sua população
é deslocada.
A UBI e a Universidade de Aveiro estão na frente desta
corrida pela oferta de melhores condições de vida.
Seis residências, com 470 quartos, que proporcionam alojamento
a 12 por cento dos estudantes da UBI; 600 beneficiários
de bolsas de estudo dos Serviços de Acção
Social, abrangendo 35 por cento dos alunos; 330 mil refeições
servidas anualmente são alguns dos factores que levam
o júri a considerar a UBI como a universidade que dá
melhores condições aos seus alunos.
Um exercício positivo é a forma como Manuel Santos
Silva, reitor da UBI, descreve o dossier "Radiografia das
Universidades Públicas". "Já nos apontam
como a melhor na qualidade de vida, talvez possamos vir a ser
a que melhores condições de ensino oferece aos
seus alunos", comenta o responsável.
Pouca procura
trouxe melhores condições
para os estudantes
O DN reconhece
que na UBI o principal problema é o da falta de procura
por parte dos alunos candidatos ao Ensino Superior. Nesta matéria
a UBI é no panorama nacional a universidade pública
menos procurada, facto que indicia, a curto prazo, a necessidade
do encerramento definitivo de licenciaturas como Engenharia do
Papel e Engenharia Geotécnica.
Esta situação deve-se também, na opinião
do júri do DN, à implementação da
nota mínima de acesso de 10 valores desde o ano de 1997,
a par de uma quebra de candidaturas às universidades.
Segundo dados avançados pelo diário, por cada 100
vagas abertas em 97 registaram-se 149 candidaturas, número
que baixou para as 114 em 99. Apenas 37 em cada 100 alunos escolheram
a UBI como primeira opção no boletim de candidatura.
Trás-os-Montes e Alto Douro, Algarve, Açores e
Évora seguem no ranking das menos procuradas.
A interioridade da Covilhã, um dos factores observados
no estudo, poderá ter um volte face com a abertura em
Outubro da Licenciatura em Medicina e a expansão a áreas
como as humanidades e as ciências médicas.
Manuel Santos Silva, reitor da UBI, não deixa de lamentar
a falta de alunos em algumas licenciaturas mas acredita que a
UBI tem trabalhado no sentido de colmatar a interioridade a que
está sujeita. "A UBI investe nos estudantes e essa
é a nossa aposta", afirma o reitor.
Curiosa é a observação dos avaliadores quanto
ao efeito colateral deste abrandamento do número de novos
alunos. A 'crise' das engenharias, segundo a jornalista do DN,
é em certo ponto benéfica para os alunos já
no sistema que vêem assim aumentar nos últimos anos
a fatia de investimento média por estudante. "Estas
condições ajudam, de certa forma, a uma melhoria
pedagógica" ao descongestionar salas e laboratórios.
"Falta
de prática não é causa de insucesso"
Entre 95 e
99, período analisado pelo dossier, a UBI foi a universidade
mais recente que menos aumentou o número de alunos, 8,45
por cento, sendo só 'ultrapassada' pela Universidade de
Lisboa (4,54) e Universidade Técnica (6,57). No entanto
a UBI tem a média de idades mais jovem (22 anos e meio),
mas tem também os alunos que mais tempo demoram a concluir
as licenciaturas.
A sobrecarga de disciplinas teóricas e a falta de práticas
não parece ser para os avaliadores a causa da permanência
dos alunos na UBI. A publicação ressalva os meios
técnicos disponíveis para os alunos. O Atelier
de Audiovisuais/Multimédia, o pavilhão de Engenharia
Aeronáutica, os laboratórios de Análise
Fototérmica, de Hidráulica e Saneamento são
algumas das estruturas referidas como "imponentes",
e em alguns casos "com dimensões megalómanas",
que contribuem para a formação prática dos
ubianos e que se afirmam como o "ex-libris da instituição".
Nas palavras de Santos Silva quatro medidas têm sido tomadas
"atenta e sistematicamente para melhorar a taxa de sucesso".
A qualificação do corpo docente, a melhoria das
infra-estruturas, a permanência dos alunos dentro da instituição
e a revisão dos processos de precedências e prescrições.
Em relação à UBI considera o estudo como
a quarta universidade mais dinâmica na qualificação
do seu corpo docente, sendo que entre 95 e 99 se registou um
aumento de 63,1 por cento no número de Professores Catedráticos,
Associados e Auxiliares.
Em 95 apenas 9,9 por cento dos docentes da instituição
tinham o grau de doutor, número que sobe para os 22,2
por cento em 99. Só a Universidade do Porto, Técnica
de Lisboa e Universidade de Lisboa conseguiram ultrapassar já
em 99 a fasquia dos 50 por cento de docentes doutorados. Em 2002,
Santos Silva espera também atingir este resultado.
Quanto a pós-graduações a UBI, entre as
14 universidades analisadas, é a décima na oferta
de mestrados e a décima primeira em doutoramentos.
A UBI é ainda a universidade pública portuguesa
que mais investimento capta do Estado, dispondo de uma "boa
capacidade nas bibliotecas", meios informáticos razoáveis,
embora não tenha disponível um computador por cada
docente a tempo integral na instituição e registe
um atraso na implementação das ligações
à Internet.
Santos Silva mostra-se satisfeito com este resultado: "Apesar
de sermos a mais interior, somos a que trabalha mais e o estudo
reconhece isso".
Jorge Jacinto, presidente da Associação Académica
da UBI (AAUBI), acredita que este é um sinal para o trabalho
que deve ser feito dentro da instituição para colmatar
os dois problemas que considera fulcrais: a falta de alunos e
o insucesso escolar. |