José Geraldes
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PRODUTIVIDADE, AUMENTOS
E FORMAÇÃO PROFISSIONAL
Todas as análises e
relatórios sobre a economia portuguesa apontam a baixa
produtividade dos portugueses como factor principal do nosso
atraso em relação aos outros países da União
Europeia. Esta baixa produtividade arrasta consigo a perda de
competitividade, ou seja, dos mercados.
Outra consequência (e não das menores) é
a deslocação de multinacionais sediadas em Portugal
para os países de Leste, Marrocos e Índia. A razão
está no custo de mão de obra. Vejam-se os seguintes
exemplos: em Portugal, o custo por minuto de uma camisa é
de 40 escudos, na Roménia é de 23 escudos. No caso
de uma gáspea de sapato sem sola, de qualidade, em Portugal
o custo ascende aos mil escudos, na Índia e na China desde
para 350 escudos.
Outro lado a ter a conta refere-se ao investimento estrangeiro.
O estudo da AT Kearney revela que Portugal deixou de figurar
entre os 25 países mais procurados para projectos no futuro
imediato.
Sombras negras sobre a nossa economia? É uma verdade irrecusável.
Os relatórios da União Europeia e da OCDE, depois
das advertências do Banco de Portugal, confirmam que estamos
a gastar mais do que produzimos. E, se a tendência não
se inverte, a implosão pode acontecer.
A reviravolta nas mentalidades e nas medidas não pode
ser adiada. A República Checa e Malta, países candidatos
à adesão da UE, têm produtividade superior
à portuguesa. A Bélgica surge na tabela com um
valor três vezes superior.
Grave ainda é o facto de Portugal ter sido ultrapassado
pela Grécia e estar longe de atingir a Espanha com 74,6
por cento. A Grécia surge com 58,1 por cento e Portugal
apenas com 43,8 por cento.
Quais as causas deste estado de coisas? A sua identificação
passa pelo nível de educação e formação
da mão-de-obra e pelos fortes aumentos salariais. Aumentos
que, segundo a UE, juntamente com a segurança social,
é responsável pela derrapagem das despesas correntes
primárias do Estado. Lembre-se, a propósito, que,
em Portugal, os salários crescem em média 4 por
cento acima da produtividade. Nos restantes países da
UE, apenas 1 por cento. Resultado: no País os custos de
mão-de-obra sofrem um aumento de mais de 3 por cento do
que na zona do Euro. Tal orientação é insustentável.
O relatório da UE, sublinha que os problemas da produtividade,
existem sobretudo pelo facto de Portugal ser "o país
com o nível mais baixo de educação e formação
profissional na UE". Em concreto: "mais de 45 por cento
dos jovens entre os 18 e 24 anos só passou pelo ensino
obrigatório, sem qualquer complemento de educação
ou formação". E é triste verificar
que, há 30 anos, a escolaridade portuguesa estava ao nível
da Itália e da Espanha.
Os governos democráticos saídos do 25 de Abril
não conseguiram resolver este problema sem o qual ficaremos
sempre na cauda dos Quinze:
No início da década de 70, os portugueses tinham
em média 6,5 anos de escolaridade. A Espanha 5,7, a Itália
6,6 e a Grécia 7,4. Os dados de 1998 mostram que Portugal
foi o que menos progrediu. Assim a população portuguesa
em idade activa tinha passado nos bancos da escola, 7,7 anos.
A Espanha 8,7 anos. A Grécia 9,9 anos. Em todos os países,
a mão-de-obra apresenta um número de anos de estudo
superior a dez. Impõe-se uma verdadeira revolução
para sairmos deste quebra-cabeças.
Vamos cair no pessimismo em face de tal cenário? Não
devemos. No discurso de tomada de posse do segundo mandato presidencial,
Jorge Sampaio referiu a subida da produtividade como imperativo
nacional e a assunção das responsabilidades, "sem
transferência nem desculpa". E fez um apelo: "sejamos
exigentes connosco, sejamos ambiciosos com Portugal".
Para cumprir esta cultura da exigência, é preciso
que deixemos de viver de subsídios por tudo e por nada
e que governantes e governados assumam responsabilidades pelo
que dizem e pelo que fazem. Ou querem que Portugal seja, na expressão
do poeta Ruy Belo, "um país de desistentes"? |