"É o cancro da
pedra. É uma ferida que se não for tratada, acaba
por matar". As palavras são de Alberto Almeida, pároco
da freguesia do Teixoso, ao referir-se ao ruimento das pedras
junto à porta lateral da Igreja Matriz. O incidente ocorreu
às 22 horas e 45 de segunda-feira, 5. "Parecia uma
lata a bater noutra, mas era o granito a cair sobre os caleiros",
explica o padre, que mora a cerca de 100 metros do local, ao
recordar o momento que alarmou a vila.
As antigas, melosas e fracas pedras de granito assentes em barro,
também ele pastoso e frágil, facilitaram a queda
da fachada. Segundo Alberto Almeida, a construção,
que conta já 400 anos, "está a mostrar a sua
fragilidade". Uma situação que se deve, também,
às fortes chuvas e, ainda, à trepidação
das viaturas que todos os dias transitam na estrada que liga
o Teixoso à Covilhã. Considerado pelos habitantes
como o "primeiro sinal" de uma futura queda, o resvalamento
não causou qualquer dano pessoal. "Foi uma sorte
ser de noite", dizem, dado que a soleira daquela porta,
chamada "Porta do Sol", era um dos poisos mais habituais
dos idosos da freguesia. "Era ali, ao soalheiro, que passávamos
as tardes a conversar", relembram os frequentadores mais
assíduos. "Agora já não nos atrevemos,
pois isto não vai ficar por aqui", continuam.
"A torre é que
segura o edifício"
Construída em 1593, a paróquia teixosense mostra,
"há imensos anos", revela o pároco, muitos
sinais de antiguidade e debilidade. Apesar do seu último
restauro ter acontecido em 1980, sobretudo no chão e nas
paredes, onde foi incutido cimento, a velhice sobressai nas colunas
interiores e em toda a traça exterior. Ao observar o monumento,
depressa se descobrem as imperfeições da construção.
"Está tudo a decaír para o lado direito, a
parte que carrega e aguenta o maior peso", diz Alberto Almeida.
Paredes rachadas por algumas fendas, repletas de curvas e uma
forte concavidade em duas colunas que suportam o interior da
igreja, aterrorizam os crentes e o pároco. Por isso, como
forma de prevenir danos maiores, todos os serviços religiosos
estão a ser realizados nas outras capelas da freguesia.
"Não se pode confiar nesta construção.
É a doença da pedra que tem que ser tratada",
reafirmam os habitantes.
Depois do acidente num monumento que, embora não esteja
classificado pelo Instituto Português do Património
Arquitectónico (IPPAR), é considerado de valor
municipal, é hora de fazer o balanço. Após
a visita de alguns engenheiros e técnicos da Câmara
Municipal da Covilhã e outros curiosos, o padre da vila
salienta que apenas falta o bom tempo para "fazermos alguma
coisa". Alberto Almeida refere que "temos que pôr
mãos à obra. Ou alargar e construir uma igreja
de raiz, preservando só a capela-mor, ou reconstruir esta".
Uma questão que o pároco não quer avançar
sem o devido estudo que deve partir de técnicos especializados.
Apesar de ter a promessa da autarquia para fazer uma nova torça
para a porta e colocar as pedras no sítio, o pároco
sublinha que "se eles não fizerem nada, fazemos nós.
Eu, a Junta e a Comissão da Igreja". Contudo, o mesmo
reconhece que é uma obra de milhares de contos que necessita
de comparticipação do Estado. "Estou confiante
na ajuda da Câmara como sempre fez aos nossos pedidos.
Aliás, o engenheiro que cá veio prometeu a intervenção,
assim que o tempo o permita", salienta Alberto Almeida. |