Num acto simples, mas carregado
de simbolismo, algumas dezenas de covilhanenses juntaram-se à
dor da população de Castelo de Paiva. No salão
dos Bombeiros Voluntários da Covilhã, durante todo
o dia do último domingo, 11, esteve um livro de condolências
para assinar e posteriormente enviar à Câmara paivense,
enquanto cá fora se depositavam coroas e ramos de flores,
depois lançadas ao Zêzere, e se acendiam velas.
A ideia partiu do presidente da Associação de Bombeiros,
José Marques Malaca, que, para a levar a efeito, reuniu
diversas colectividades da cidade e mobilizou a autarquia.
Como aconteceu durante a semana em todo o País, a tragédia
que provocou mais de 60 mortos depois da queda da ponte de Entre-os-Rios
causou consternação evidente nas pessoas que decidiram
demonstrar o seu voto de pesar. As conversas abordaram, invariavelmente,
as dificuldades em encontrar os corpos das vitimas e o medo de
que algo de semelhante acontecesse na região. Um medo
que alguns populares não escondem, apesar da consciência
de que, no distrito, infra-estruturas com aquelas dimensões
não existem e que o Rio Zêzere não terá
o caudal apresentado pelo Douro. Mesmo assim, os alertas às
autoridades fizeram-se ouvir, nomeadamente em relação
aos três casos que no concelho da Covilhã se apresentam
como mais problemáticos: Ponte Pedrinha, Ponte de Caria
e Ponte da Aldeia de São Francisco de Assis.
Engenharia Civil da UBI
pode vistoriar pontes municipais
Para o comandante dos Voluntários serranos, José
Flávio, a situação não é dramática,
mas necessita, "sem dúvida", de atenção:
"Temos um rio cujo caudal não se compara ao do Douro,
mas também temos pontes centenárias e as tragédias
acontecem quando menos se espera". Pontes que, continua
o comandante, a autarquia já fechou ao trânsito
de pesados, num caso, e que noutro está fechada a todo
o trânsito. Quanto à possibilidade de um desastre
de grandes dimensões acontecer no concelho e à
capacidade que os Bombeiros teriam de fazer face à ocorrência,
José Flávio é curto e esclarecedor: "Não
temos meios para intervenções aquáticas".
Queixas, também, da parte do presidente da Câmara
Municipal. Segundo o Notícias da Covilhã apurou,
a autarquia terá já contactado o departamento de
Engenharia Civil da UBI, no sentido de este apresentar uma proposta
de vistoria às pontes municipais de Caria e à de
Aldeia de São Francisco para se definir o carácter
das possiveis intervenções. A proposta ainda não
existe, mas o processo está entregue a uma equipa liderada
pelo professor Castro Gomes e de que faz parte o engenheiro João
Carlos Lanzinha. No que diz respeito à Ponte Pedrinha
(Estrada Nacional de ligação ao Ferro), encerrada
à circulação automóvel desde o dia
6, terça-feira, Carlos Pinto considera a situação
"insustentável". "Desde 1998 que o Instituto
das Estradas de Portugal (IEP) tem conhecimento de que há
problemas e nunca obtivemos respostas". O autarca acusa
o Estado de privilegiar a resolução de questões
que envolvem áreas mais próximas dos grandes centros
urbanos e de não trabalhar "para evitar tragédias
como a que assolou Castelo de Paiva". "Não é
só depois das coisas acontecerem que se olha para os problemas",
acrescenta.
Arcos da Ponte Pedrinha
à espera de betão
Afirmações que Santos Marques, director do Instituto
das Estradas de Portugal em Castelo Branco, desmente, até
porque, assegura, "o encerramento da Ponte Pedrinha nada
teve a ver com a queda da Ponte de Entre-os-Rios". "O
fecho da estrutura ocorre depois de uma vistoria feita pelo IEP
e em que se verificou que algumas pedras de um dos arcos não
estavam bem seguras. Como isso poderia acarretar a ruína
desse arco, decidiu-se, primeiro, proibir a passagem de pesados
e, depois, de todo o trânsito, porque as águas continuaram
a subir e não permitiam uma vistoria mais profunda",
completa.
Essa inspecção vai avançar em breve e, segundo
garante Santos Marques, poderá resultar não apenas
na rectificação dos problemas, mas também
na elaboração de um projecto de alargamento da
travessia de origem romana: "A Ponte Pedrinha tem dois arcos
que já foram intervencionados, através da colocação
de uma laje de betão no interior. Os outros dois deverão
sofrer o mesmo tipo de acção e poderemos aproveitar
para alargar a via para seis metros, de forma a poderem circular
viaturas nos dois sentidos ao mesmo tempo".
No entender de Santos Marques, cujo início de carreira
na ex-Junta Autónoma das Estradas esteve ligado, precisamente,
às pontes, este é o único caso no distrito
que merece alguma preocupação. Apesar de considerar
que as vistorias não se fazem com a frequência desejada,
o engenheiro salienta que são, isso sim, "visualizadas
periodicamente". Por isso, conclui, "quem observar
qualquer tipo de anomalia em estruturas do distrito deve informar
o Instituto que, de imediato, irá ao local fazer a sua
avaliação".
|