Ana Maria Fernandes, 54 anos,
vende no Mercado Municipal da Covilhã os produtos que
cultiva. Sem ter outros rendimentos, além de uma pequena
reforma, afirma que "a agricultura não é suficiente
para viver". "A vida está dura para toda a gente,
mas para quem ganha pouco, pior", salienta Ana Maria. Ainda
assim, gosta daquilo que faz. O trabalho faz esquecer o fantasma
das doenças que aparecem com a idade. "Se me sento,
penso mais. Vou trabalhando como posso", diz a vendedora.
"O gasóleo subiu, os descontos para a caixa também,
subiu tudo, até a renda pelo espaço ocupado no
mercado", protesta Maria Matos Lucas, para quem os 2570
escudos por metro quadrado de banca no mercado são um
preço demasiado alto.
Hipermercados: a grande
ameaça
A existência de grandes superfícies comerciais veio
roubar muita clientela ao mercado tradicional. "Quando não
havia hipermercados vendia-se melhor e em mais quantidade"
refere Maria Matos Lucas.
As vendedoras defendem que as diferenças entre os dois
mercados são essencialmente ao nível dos preços
e da qualidade dos produtos. "No mercado é mais barato,
mas mesmo assim as pessoas "regateiam muito". Nos hipermercados
"as pessoas não dão muita importância
ao preço, metem no saco e vão embora" diz
Ana Maria. "Um molho de espigos, que demora muito a apanhar
e quebra-nos as costas, custa 100 escudos mas oferecem-nos apenas
50", exemplifica. "Não é por 50 escudos
que se sai de casa", remata.
As qualidades dos produtos são diferentes. "Sem dúvida
que a qualidade aqui é melhor", diz Dolores Oliveira,
de 43 anos, vendedora no Mercado Municipal da Covilhã
há 18, e que se orgulha de ter clientes fixos desde o
primeiro dia em que começou a trabalhar.
A entrada no país de produtos estrangeiros, nomeadamente
de Espanha, também não agrada aos vendedores, para
quem a qualidade do produto nacional é melhor que do estrangeiro.
Maria Matos Lucas afirma com visível orgulho que "o
que é nacional é que é bom". |