Agricultores e vendedores defendem
O que é nacional é bom

Os vendedores no Mercado Municipal da Covilhã queixam-se dos hipermercados e dos produtos estrangeiros. Preço baixo e qualidade é coisa em que não acreditam.

 Por Cláudia Cardoso

Vendedores do Mercado Municipal queixam-se da concorrência das grandes superfícies

Ana Maria Fernandes, 54 anos, vende no Mercado Municipal da Covilhã os produtos que cultiva. Sem ter outros rendimentos, além de uma pequena reforma, afirma que "a agricultura não é suficiente para viver". "A vida está dura para toda a gente, mas para quem ganha pouco, pior", salienta Ana Maria. Ainda assim, gosta daquilo que faz. O trabalho faz esquecer o fantasma das doenças que aparecem com a idade. "Se me sento, penso mais. Vou trabalhando como posso", diz a vendedora.
"O gasóleo subiu, os descontos para a caixa também, subiu tudo, até a renda pelo espaço ocupado no mercado", protesta Maria Matos Lucas, para quem os 2570 escudos por metro quadrado de banca no mercado são um preço demasiado alto.

Hipermercados: a grande ameaça

A existência de grandes superfícies comerciais veio roubar muita clientela ao mercado tradicional. "Quando não havia hipermercados vendia-se melhor e em mais quantidade" refere Maria Matos Lucas.
As vendedoras defendem que as diferenças entre os dois mercados são essencialmente ao nível dos preços e da qualidade dos produtos. "No mercado é mais barato, mas mesmo assim as pessoas "regateiam muito". Nos hipermercados "as pessoas não dão muita importância ao preço, metem no saco e vão embora" diz Ana Maria. "Um molho de espigos, que demora muito a apanhar e quebra-nos as costas, custa 100 escudos mas oferecem-nos apenas 50", exemplifica. "Não é por 50 escudos que se sai de casa", remata.
As qualidades dos produtos são diferentes. "Sem dúvida que a qualidade aqui é melhor", diz Dolores Oliveira, de 43 anos, vendedora no Mercado Municipal da Covilhã há 18, e que se orgulha de ter clientes fixos desde o primeiro dia em que começou a trabalhar.
A entrada no país de produtos estrangeiros, nomeadamente de Espanha, também não agrada aos vendedores, para quem a qualidade do produto nacional é melhor que do estrangeiro. Maria Matos Lucas afirma com visível orgulho que "o que é nacional é que é bom".

  

Agricultura portuguesa em análise

Os resultados do Recenseamento Geral da Agricultura realizado em 1999 pelo Instituto Nacional de Estatística revelam que há uma diminuição de cerca de 183 mil explorações agrícolas, menos 30,5 por cento, relativamente a 1989.
Em 1999, já só oito por cento dos agregados viviam exclusivamente dos rendimentos da produção, contra os 11 por cento de 1989. A percentagem dos que obtêm o seu rendimento principal do exterior subiu, de 61 por cento em 1989 para 69 em 1999, sendo as pensões e reformas a principal fonte.
Regista-se ainda um aumento do número de mulheres produtoras e não se verificou rejuvenescimento na população agrícola.


 

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