Joaquim Laranjo Brás inventou há 25 anos um forno crematório ecológico

"Fiz a promoção que me foi possível"

O presidente da Junta de Freguesia de Silvares, Carlos São Martinho, tem acompanhado de perto a oficina dos fornos crematórios.
O autarca apresentou, à Câmara Municipal do Fundão e ao Ministério do Ambiente, um projecto que tinha por base um estudo feito pelo próprio empresário. Tratava-se de um projecto de construção de uma incineradora, com capacidade para resolver o problema ambiental de Silvares. "Ao mesmo tempo que se apoiava a empresa, resolviam-se os problemas do lixo", explica Carlos São Martinho.
Da Câmara Municipal do Fundão não veio qualquer tipo de apoio, tendo sido apontada como solução a construção de um depósito para grandes lixos. Da parte do Ministério do Ambiente também nunca chegou qualquer resposta.
"Fiz a promoção que me foi possível para não perder este empresário, que podia estar em Salamanca com instalações gratuitas", acrescenta o presidente da Junta, que procura agora novas instalações para a empresa de Joaquim Laranjo Brás.


Ministério do Ambiente não reconhece invento com 25 anos
Fornos ecológicos marginalizados em Portugal


Joaquim Laranjo Brás, natural de Silvares (Fundão), é o inventor de um forno amigo do ambiente. Este invento, com cerca de 25 anos, foi aprovado pelo Ministério do Ambiente espanhol, mas continua a não ser reconhecido em Portugal.

 Por Cristina Marques

É na vila de Silvares, concelho do Fundão, que Joaquim Laranjo Brás tem uma pequena oficina onde produz os fornos crematórios que inventou há cerca de 25 anos.
A residir na Venezuela durante largos anos, Joaquim Brás sempre trabalhou nos meandros da fundição, nomeadamente no fabrico dos fornos em ferro e alumínio. Os fornos utilizados naquele país, eram de origem americana e pecavam pela lentidão e alto teor poluente.
A necessidade levou-o a imaginar um forno, cuja novidade se prende com o facto de possuir uma chaminé com um abafador de água para reter os resíduos tóxicos. "Não deitam cheiros, nem fumos", afirma Carlos Laranjo, filho do inventor.
Joaquim Laranjo Brás apresentou o seu invento e rapidamente começou a comercializar as incineradoras destinadas à queima de lixos e animais.
O sucesso de vendas levou-o a criar uma oficina na Venezuela. Em pouco tempo a produção teve de aumentar para responder aos pedidos vindos de toda a América do Sul.
Há cerca de oito anos atrás, o Joaquim Laranjo Brás decidiu regressar a Silvares, onde deu continuidade a este tipo de indústria, tendo montado uma oficina de reduzidas dimensões.
As dificuldades foram mais que muitas. "Só nos últimos quatro anos é que o negócio evoluiu. As pessoas olham para este projecto com desconfiança", lamenta Carlos Laranjo, filho do inventor.

"Portugal está cheio de burocracias"

Há cerca de três anos, intensificou-se o interesse dos espanhóis por este invento, nomeadamente através do representante de uma empresa comercial de Salamanca.
Isto levou o Ministério do Ambiente espanhol a fazer uma análise cuidada e a emitir um parecer técnico, que aprovou a fiabilidade dos fornos, considerando-os amigos do ambiente por não representarem qualquer perigo para a saúde pública. A Espanha tornou-se mesmo o maior importador de fornos, a par da Venezuela.
Em Portugal, esta empresa vive uma situação bem mais delicada. "Portugal está cheio de burocracias, nunca recebemos resposta do Ministério do Ambiente", lamenta Carlos Laranjo.

Eficácia comprovada

A uma temperatura de 200 graus centígrados, o forno transforma 214 mil kg de animais em 30 kg de cinzas, uma espécie de cálcio aproveitado para a adubação das terras.
Os fornos, que trabalham com óleo queimado dos carros ou gasóleo, "resolvem o problema das lixeiras e da contaminação das águas com animais mortos", concluí Carlos Laranjo.
Cada forno pode demorar entre duas e quatro semanas a ser construído. Os preços oscilam entre os 700 mil escudos para fornos de pequena capacidade e os 20 mil contos para fornos industriais.
Apesar do êxito obtido, um pouco por todo o mundo, cerca de 25 anos depois os fornos crematórios de Joaquim Laranjo Brás continuam marginalizados no seu país de origem, não sendo reconhecidos pelo Ministério do Ambiente Português.

 

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