Maria de Lurdes Mendes vive
no Bairro Municipal. Tem 80 anos, feitos em Janeiro, e uma história
para contar. Operária têxtil desde criança,
não aprendeu a ler. Há 34 anos, o então
existente Secretariado Nacional da Informação organizou
um concurso de arte dramática a nível nacional.
O júri, constituído entre outros pelo actor Rui
de Carvalho, atribuiu-lhe uma menção honrosa pelo
seu desempenho como actriz.
O teatro fazia parte das actividades a que a colectividade se
dedicava nos anos 50 e 60. Maria de Lurdes recorda a peça
que mais gostou de fazer, "Casa de Pais", onde desempenhou
o papel de "Palmira". "Liam-me o papel e no dia
seguinte já o sabia de cor", refere Maria de Lurdes.
Quando era a sua vez de entrar em cena, nunca se enganava. Hoje,
passados tantos anos, ainda recita muitas falas da peça.
Noite de estreia
Na noite de 31 de Agosto de
1967, o salão de festas da colectividade estava cheio.
Chegava gente de todos os pontos da cidade para assistir à
estreia. Maria de Lurdes, em cima do palco, sentia tremerem-lhe
as pernas. Mas tudo correu bem. O público rendeu-se à
sua actuação e o júri também. Quando
lhe foi entregue o prémio, os membros do júri nem
queriam acreditar que ela não sabia ler.
Trinta e quatro anos depois, Maria de Lurdes continua fazer coisas
bonitas. Este mês, os seus trabalhos, toalhas e colchas,
estarão patentes numa exposição de artesanato
a realizar na sede da colectividade em que trabalhou com tanto
entusiasmo e que chegou a considerar como a sua "segunda
casa". Embora já não frequente o Grupo, lembra
com saudade o tempo em que ele era "como uma grande família". |