José Geraldes
José Geraldes

 

 

 

 


Ser Cardeal: uma honra ou um serviço?

Ir a Roma, com olhos de fé, tem o sabor de um tonificante para o espírito. E, quando se disfruta do privilégio de assistir à investidura de novos cardeais da Igreja Católica, entre os quais dois portugueses (ver pág. 8) a presença na cidade eterna é um lenitivo e uma força no caminho dos desafios do quotidiano.
O acompanhar a cerimónia litúrgica, na beleza da sua simplicidade, na Praça de S. Pedro cria uma atmosfera de intimidade com Deus que só a fé pode explicar. Ver João Paulo II ali, com uma juventude de espírito invejável aos 80 anos, abraçar com o afecto de pai cada Cardeal, desperta sentimentos de fidelidade que se comunicam a toda a assembleia.
A profissão de fé dos 44 novos Cardeais originários de todo o mundo exprime a universalidade da Igreja na sua diversidade e a comunhão de todos os seus membros. O facto dos Cardeais de rito oriental e copta envergarem as suas vestes tradicionais manifesta, de forma bem visível, as diferenças não na fé mas na forma de a celebrar.
Mas tem assim tanta importância uma investidura de novos Cardeais? Para compreender melhor o seu significado, é necessário saber o que representa, na Igreja Católica, o Cardinalato.
Ser elevado a Cardeal é uma honra mas sobretudo um serviço. Vejamos então como surgiu o cardinalato em sua importância ao longo dos séculos.
Na Igreja primitiva, o bispo era eleito pelos padres e fieis nas suas dioceses. Na eleição do bispo de Roma, os párocos das principais paróquias e os diáconos que assistiam o Papa, desempenhavam um papel fundamental. Estes párocos eram chamados pelo nome de Cardeal. A razão provinha do facto de ocuparem um posto fixo e servirem de pivô da vida das comunidades. Assim distinguiam-se os Cardeais-padres e os Cardeais-diáconos. Mais tarde, os bispos das dioceses da periferia de Roma integraram este colégio com o título de Cardeais-bispos. Refira-se a propósito que actualmente todos os Cardeais devem ser bispos. No entanto, o Papa pode dispensar da ordenação episcopal os que não forem bispos. Foi agora o caso dos sacerdotes Dulles e Tucci.
Em 1059, o Papa Nicolau II decidiu que os papas seriam eleitos somente pelos cardeais e que a intervenção do povo limitar-se-ia a uma simples aprovação. Em 1150, no reinado do Papa Eugénio III, os cardeais formaram o Sacro Colégio com um Cardeal decano e um Cardeal carmelengo para administração dos bens.
Os cardeais são associados ao Papa no governo da Igreja. São os seus conselheiros e desempenham tarefas de missão que executam como ministros, na linguagem equivalente ao governo de um país.
No sentido de exprimir a visibilidade de comunhão universal de toda a Igreja, o Papa João Paulo II tem procedido à nomeação de Cardeais de forma a conferir ao Sacro Colégio um carácter cada vez mais internacional.
Ao falar aos novos Cardeais, no acto da investidura João Paulo II considerou-os como "Cardeais do novo milénio" e que "soltassem as velas ao vento do Espírito", num mundo cada vez mais complexo e em mudança". E que se manifestassem atenção aos "sinais dos tempos" e abertura ao "diálogo com todas as pessoas e em todas as instância sociais".
A missão do Cardeal é levar a mensagem da Igreja ao mundo em atitude de serviço e fidelidade ao Papa. A reunião já convocada para Maio por João Paulo II vai no sentido de com todos os Cardeais procurar as novas orientações da Igreja do futuro.
Ser Cardeal centra-se assim numa colaboração cada vez mais estreita com o Papa para que a Igreja aprofunde cada vez mais a missão do Evangelho.
Ser Cardeal é, pois, uma honra mas também um serviço. É dignidade e empenhamento para a construção de um mundo onde os critérios evangélicos são norma a propor aos homens, e mulheres de toda a sociedade.

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