SINAIS (5)

Edmundo Cordeiro

Quinta e penúltima parte da tradução de "L'image de la pensée", conclusão da Primeira Parte de PROUST ET LES SIGNES, de Gilles Deleuze, PUF, Quadrige, Paris, 1964, pp.115-124.

"Voluntário e involuntário não designam faculdades diferentes, mas um exercício diferente das mesmas faculdades. A percepção, a memória, a imaginação, a inteligância, o próprio pensamento, na medida em que se exerçam voluntariamente, têm somente um exercício contingente: assim, o que percepcionamos, poderíamos igualmente recordá-lo, imaginá-lo, concebê-lo; e inversamente. A percepção não nos dá nenhuma verdade profunda, nem a memória voluntária, nem o pensamento voluntário: somente verdades possíveis. Aqui, nada nos força a interpretar alguma coisa, nada nos força a decifrar a natureza de um sinal, nada nos força a mergulhar como "o mergulhador que sonda". Todas as faculdades se exercem harmoniosamente, mas cada qual no lugar de outra, no arbitrário e no abstracto. - Pelo contrário, cada vez que uma faculdade alcance a sua forma involuntária, descobre e atinge o seu próprio limite, eleva-se a um exercício transcendente, compreendendo a sua própria necessidade enquanto potência insubstituível. EM VEZ DE UMA PERCEPÇÃO INDIFERENTE, UMA SENSIBILIDADE QUE APREENDE E RECEBE OS SINAIS: O SINAL É O LIMITE DESSA SENSIBILIDADE, A SUA VOCAÇÃO, O SEU EXERCÍCIO EXTREMO. Em vez de uma inteligência voluntária, de uma memória voluntária, de uma imaginação voluntária, todas estas faculdades surgem sob a sua forma involuntária e transcendente: então, cada qual descobre aquilo em que é a única a poder interpretar, cada qual explica um tipo de sinais que lhe infligem violência em particular. O exercício involuntário é o limite transcendente ou a vocação de cada faculdade. Em vez do pensamento voluntário, tudo o que força a pensar, tudo o que é forçoso pensar, todo o pensamento involuntário que não pode pensar senão a essência. Só a sensibilidade capta o sinal enquanto tal; sós, a inteligência, a memória ou a imaginação explicam o sentido, cada qual segundo uma espécie de sinais; só o pensamento puro descobre a essência, é forçado a pensar a essência como a razão suficiente do sinal e do seu sentido." (Sublinados do tradutor.)

[CONTINUA]

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