José Geraldes
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Universitários e drogas
A droga é um pesadelo
para toda a sociedade. Afecta e gera sofrimentos em milhares
de famílias. Destrói os sonhos de tantos jovens
que vêem frustrados os planos para o futuro das suas vidas.
Nos tempos modernos, a droga globalizou-se e instalou-se em cidades,
vilas e aldeias. Os traficantes não olham a meios para
aumentar os seus lucros chorudos. O comércio de droga
movimenta 500 mil milhões de dólares por ano. E
a tendência é para aumentar este movimento de capitais.
Muitas causas são apontadas para que os indivíduos
se iniciem nas drogas: carências afectivas, namoros falhados,
marginalização, relações conflituosas
com os pais, insucesso escolar, sexo, solidão. A descoberta
do genoma humano indica que há uma tendência para
a droga. Será? Os estudos que falta levar a cabo esclarecerão,
certamente, esta dúvida.
Um especialista em toxicodependência dizia recentemente
que "é mais fácil amar a heroína do
que uma pessoa. Urge não perder as pedras basilares da
sociedade como a família, os amigos, os vizinhos e mostrar
aos jovens que é possível construir projectos válidos
e saudáveis, pois a droga é uma falsa solução
para os problemas".
As sociedades modernas são marcadas pelo individualismo
e por uma tendência para a exclusão do outro. Trata-se
de uma realidade a combater sem desfalecimento. Na medida em
que a convivialidade cresce, a pessoa sente-se realizada e a
sua dimensão humana torna-se mais forte.
É trágico o facto de serem jovens os grandes consumidores
da droga. E, entre estes, o número de estudantes universitários
atingiu percentagens elevadas. Os autores do estudo "Consumo
de substâncias lícitas e ilícitas em estudantes
do ensino superior" consideram "preocupante" tais
percentagens.
Segundo o estudo, quase um terço de estudantes universitários
já experimentaram o haxixe, a cocaína, a heroína,
o LSD e drogas injectáveis. De notar que a heroína
é superior nas raparigas. E em dois anos 1996 e 1998,
o consumo de drogas entre as alunas representou um aumento de
quatro por cento. O estudo sublinha que tudo indica, de facto,
que há uma aproximação do comportamento
das raparigas em relação aos rapazes.
Quanto às regiões, o distrito de Bragança
está em primeiro lugar no consumo geral. O distrito de
Castelo Branco surge em quarto lugar no consumo de haxixe, em
nono lugar, a par de Coimbra e Braga, no consumo de cocaína,
em sétimo lugar em heroína, em segundo lugar no
consumo de LSD, em quinto lugar no de ecstasy e sétimo
lugar em drogas injectáveis.
Mas há outro problema. Ao lado deste tipo de drogas há
o álcool. Em Portugal, mais de vinte portugueses morrem
devido a doenças relacionadas com o consumo de álcool.
Um facto: na Queima das Fitas, em Coimbra, bebe-se mais cerveja
do que na Festa da Cerveja na Alemanha, segundo o depoimento
de um médico. Aliás, entre os estudantes do superior,
o referido estudo explicita que a cerveja é a bebida preferida,
quer por rapazes ou por raparigas. Entre os rapazes há
um ligeiro consumo de whisky.
Perante isto, que fazem os poderes públicos? De acordo
com uma sondagem da Rádio Renascença, a opinião
geral é de que o Governo se demitiu da resolução
do problema. E as últimas medidas não reúnem
o consenso da sociedade portuguesa. Fernando Madrinha, numa das
suas crónicas do NC, fazia a pergunta óbvia: "E
depois das salas de chuto? A cedência gradual pode redundar
em nova tragédia".
É verdade que importa ter em conta a situação
dos toxicodependentes e as doenças que contraem e transmitem.
O médico Jorge Lains, especialista em toxicodependência
coloca o dedo na ferida: "Não basta legislar ou decretar,
não basta criar estruturas, é preciso dar um sentido
do que fazemos e sonharmos o que queremos fazer."
Não se afigura fácil tentar resolver o problema.
Mas não serão as "salas de chuto" que
impedirão o aumento do número de toxicodependentes.
E porque se não dá a palavra ao povo para expressar
a sua opinião sobre o assunto? A questão da droga,
transversal em toda a sociedade portuguesa, exige coragem nas
medidas a tomar. Mas, por amor de Deus, e, com toda a estima
e respeito pelos toxicodependentes, a solução não
está em facilitar cada vez mais o acesso às drogas.
Tal atitude abre caminho a uma espiral de onde será difícil
sair.
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