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             SINAIS (3) 
            Edmundo Cordeiro 
            Terceita parte da tradução
            de "L'image de la pensée", conclusão
            da Primeira Parte de PROUST ET LES SIGNES, de Gilles Deleuze,
            PUF, Quadrige, Paris, 1964, pp.115-124. 
            "Pensar é sempre
            interpretar, quer dizer, explicar, desenvolver, decifrar, traduzir
            um sinal. Traduzir, decifrar, desenvolver são a forma
            da criação pura. Assim como não há
            ideias claras também não há significações
            explícitas. Só há sentidos implicados nos
            sinais; e se o pensamento tem o poder de explicar o sinal, de
            o desenvolver numa Ideia, é porque a Ideia está
            já no sinal, embrulhada e enrolada, no estado obscuro
            daquilo que força a pensar. Não procuramos a verdade
            senão no tempo, constrangidos e forçados. Quem
            busca a verdade é o ciumento que surpreende um sinal mentiroso
            no rosto da amada. É o homem sensível, na medida
            em que encontra a violência de uma impressão. É
            o leitor, é o ouvinte, na medida em que o obra de arte
            emite sinais que o forçarão talvez a criar, como
            o apelo de um génio a outros génios. As comunicações
            da amizade faladora não são nada face às
            interpretações silenciosas de um amante. A filosofia,
            com todo o seu método e toda a sua boa vontade, não
            é nada face às pressões secretas da obra
            de arte. A criação parte sempre, como a génese
            do acto de pensar, dos sinais. A obra de arte nasce dos sinais
            na mesma medida em que os faz nascer; o criador é como
            o ciumento, divino intérprete que vigia os sinais em que
            a verdade se TRAI." 
            [CONTINUA] 
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