João Correia
João Correia

 

 

 

 


GENOMA

 

A fotografia azulada com pequenos filamentos azuis que enche os computadores e jornais de todo o mundo desperta um misterioso fascínio. Ali está o segredo de todas as combinações possíveis de homens e de mulheres que existiram e há-de existir, ou seja a síntese da espécie.
Como nunca fui especialista em Física, tenho dificuldade em perceber o que me dizem na sua totalidade. Resta-me por isso uma desconfiança em relação à possibilidade de que tudo se reduza a uma espécie de milagre probabililístico e combinatório ainda que, a ser apenas isso, já seria assombroso dada a variedade, complexidade, diversidade e riqueza do produto da combinação: a espécie humana. Um velho amigo agnóstico costumava referir-se à nossa existência (a da espécie) como o fruto de uma caso. Porém, considerava - ele que sabe de Física e Química - algo de tão prodigioso que, quando falava dele, despertava um fervor místico: aquele acaso era tão assombroso que parecia incapaz de se despir da centelha divina.
Resta uma certeza que todos insistem em sublinhar: a fundamentação biológica do conceito de raça sofreu um golpe rude, já que é provável que o código genético de um ariano se pareça mais com um de um negro do que entre dois negros ou dois brancos entre si.
Já se sabia que os testes de Q.I. nos colocavam a nós -Ocidentais, especializados e orgulhosos da nossa coloração rósea- abaixo dos asiáticos. Agora os mais avançados estudos de genética- aqueles que vão fundar a Biologia do século XXI- comprovam o que o Professor Rómulo de Carvalho escrevera num relatório científico escrita sob a forma de um poema: uma lágrima de uma negra, cheirada, analisada, decomposta tem a mesma composição química do que a lágrima do poeta.

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